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CARTÃO-POSTAL » Uma capital para a telinha

Brasiliense se orgulha de ver belas paisagens da cidade retratadas em minissérie que tem Brasília como pano de fundo. Para muitos, essa é uma oportunidade de o resto do Brasil mudar a opinião que tem daqui

Até os famosos cobogós dos prédios de Brasília não ficaram de fora na minissérie

Brasília não é uma cidade comum. Longe disso. A capital impressiona pela arquitetura, pelos imensos espaços públicos — que, em alguns, dão a sensação de frieza — e pelo fascínio que exerce em quem vem de fora. Não é à toa que Felizes para sempre?, produção de Fernando Meirelles rodada por aqui, causou impacto. Ao mostrar para o Brasil que cidades podem ser verdadeiros monumentos, a produção da TV Globo reforçou um sentimento que andava meio perdido: o orgulho dos brasilienses.

Gabriela Bilá, 24 anos, arquiteta e autora de O novo guia de Brasília

No episódio de estreia, Brasília aparece como um pano de fundo. Os personagens transitaram pelas asas Sul e Norte, foram à Universidade de Brasília, passearam (de carro, é verdade) pelo Eixo Monumental. Ver as atividades do cotidiano representadas na tevê causou impacto imediato em moradores daqui, que, constantemente, são obrigados a defender a capital e negar que ela seja apenas a casa dos políticos.

Brasília é mais — mesmo que também seja o espaço político do Brasil. É uma cidade que protesta, que produz cultura, que sai à noite (apesar de os bares fecharem à 1h) e que tem problemas: violência, trânsito e transporte público deficientes. No entanto, quem mora aqui não quer saber de outro lugar. Toda uma geração de brasilienses aprendeu a amar “o quadradinho” e, principalmente, a reverenciar as belezas daqui. Com um misto de orgulho e euforia, os brasilienses se viram na tevê. E gostaram da sensação.


Chico Monteiro, 27, artista plástico e autor de série de gravuras sobre Brasília

“O diretor da série, Fernando Meirelles, é formado em arquitetura. Então, acho que ele conseguiu captar bem as paisagens da cidade. Ele filmou algumas cenas na Universidade de Brasília (UnB) e chegou a dar uma palestra lá, da qual participei. Durante a conversa, ele falou do céu de Brasília (foto), do horizonte limpo e da Esplanada dos Ministérios, coisas que acho que ficaram esteticamente bem representados na série. Outra coisa legal é que foram filmados também os cobogós, algo muito característico da cidade. Brasília é pouco usada como cenário de tevê, ainda mais em rede nacional. Sempre que aparece, é para alguma coisa relaciona à política. Acho que nunca foi o pano de fundo de uma minissérie inteira. Fernando Meirelles tem sensibilidade para cumprir bem essa tarefa.”


Luiz Sarmento, 26 anos, arquiteto e integrante do Grupo Arquitetura ETC

“Acho que o seriado não conseguiu sair do clichê clássico da Esplanada. Um dos principais problemas, para mim, foi que a trama se restringiu muito ao Plano Piloto. Faltou mais novidade. Algo muito mais surpreendente seria ter mostrado as outras cidades do Distrito Federal, que dificilmente aparecem nas telas. Em uma das cenas do seriado, no entanto, mostra as casas das 700 Sul (foto). Achei isso muito interessante, porque não foi a típica superquadra. É raro ver essa parte predial da capital na televisão. Outro aspecto positivo é que a história não se limita à questão política, geralmente relacionada com Brasília, e foca mais nos relacionamentos modernos, com a cidade apenas como pano de fundo.”

Patrícia Herzog, 37, turismóloga e diretora criativa do Experimente Brasília

“Gostei muito. Acho que Fernando Meirelles conseguiu explorar um outro lado de Brasília e o resultado foi impressionante. Ao mostrar a Esplanada, a minissérie foi além das imagens tradicionais de Brasília, iguais às fotografias que são retratadas desde 1960. Em vez disso, as cenas foram filmadas do ponto de vista dos visitantes, com mais imagens da S1 e N1. Ficou bem poético. A capital é cheia de monumentos incríveis, claro, mas tem muitas outras paisagens belíssimas. Uma das cenas de que eu mais gostei foi quando a câmera passou bem pelo meio das duas torres do Congresso Nacional (foto), com a ajuda de um drone. Foi incrível! A Praça dos Três Poderes já foi filmada muitas vezes, mas tenho certeza de que todos já tivemos vontade de ver como seria fazê-lo dessa forma. As visões aéreas da cidade são um espetáculo.”

Sandro Biondo, 39 anos, produtor cultural e jornalista

“A minha expectativa para o seriado é alta, porque adoro os trabalhos de Fernando Meirelles. Achei a direção fotográfica sensacional, mas ainda quero ver mais capítulos para poder avaliar melhor se o seriado conseguiu ir além do clichê. Brasília é uma cidade linda, apaixonante, perfeita para o cinema e para a tevê. Nos próximos episódios, gostaria de ver mais o nosso céu e também o Lago Paranoá, meu lugar favorito na cidade. Fiz graduação e pós-graduação na Universidade de Brasília (UnB) (foto), então ter a oportunidade de assistir ao câmpus na série foi muito interessante. As pessoas que fizeram o seriado não têm uma vivência tão próxima com a capital, portanto, elas devem ter feito uma pesquisa aprofundada.”

“O Parque da Cidade (foto) é muito cênico, tem uma fotografia linda. É importante explorar espaços que são desconhecidos do grande público, que vão além da Praça dos Três Poderes. Torre de TV, Igrejinha, Ermida Dom Bosco… São todos lugares desconhecidos por muita gente e que são lindos. O grande mérito de Felizes para sempre? é mostrar que Brasília tem uma vida normal, para longe dos carpetes dos gabinetes políticos. A cidade sempre é representada de forma pitoresca, com destaque para o lado que não gostamos. Na trama, Brasília não é apenas os acontecimentos entre quatro paredes e sobre o carpete de um gabinete político. É preciso apresentar Brasília para os ‘estrangeiros’, aqueles que são de fora do nosso quadradinho.”


Raquel Pellicano, 27, fotógrafa e integrante do Espaço 508 


“Felizes para sempre? ainda tem como pano de fundo uma ideia um pouco batida: as confusões políticas, os interiores do Congresso Nacional (foto). Mesmo assim, é legal ver a capital em uma minissérie, isso não acontece com muita frequência. Achei curioso que tem uma cena em que um personagem anda de bicicleta por dentro do Instituto Central de Ciências (ICC) — o Minhocão — da UnB, o que não é uma imagem muito comum para os brasilienses. O câmpus também estava um pouco mais vazio que o normal. Alguns cenários acabaram caindo no clichê, como a Torre de TV e a Ponte JK. No entanto, a fotografia é realmente bonita e especial. Ainda que a trama não me atraiu tanto, achei a história muito bem conduzida.”




Por: Paloma Suertegaray - Luiz Prisco - Correio Braziliense 

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