Por: Reinaldo Azevedo - Revista Veja
Planalto dá
como certo que protesto do dia 15 de março será gigante; por enquanto, a ordem
dada ao PT é evitar o confronto com manifestantes. Um pouco de juízo não faz
mal a ninguém!
O petismo acompanha com lupa a
convocação nas redes sociais para os protestos em favor do impeachment da
presidente Dilma Rousseff, marcados para o dia 15 de março em várias cidades do
país. O Planalto já dá como certo que haverá, sim, grandes manifestações,
especialmente em São Paulo e Rio. Os mais pessimistas preveem que os atos
possam levar até um milhão de pessoas às ruas Brasil afora. Dilma está
perplexa, mas ainda não perdeu de todo o juízo, apesar da entrevista concedida
na sexta-feira. Em princípio, o governo dirá que a democracia comporta
manifestações de descontentamento e coisa e tal.
Caberá ao PT acusar de “golpistas” os
promotores do evento. Intramuros, os petistas admitem que estão perdendo a
guerra nas redes sociais e constatam que seus tradicionais propagandistas na
subimprensa, reunidos sob a alcunha de “blogs sujos” — todos financiados,
direta ou indiretamente, por dinheiro público —, perderam influência. Algumas
páginas são hoje bastante comentadas, sim, mas porque viraram motivo de
chacota. São tomadas por aquilo que são: uma caricatura de jornalismo.
Na raiz de tudo, está, é evidente, a
corrupção da Petrobras. Eis um caso que pegou. E que continuará na lista de
insultos ao povo brasileiro até que os responsáveis sejam punidos. O que
preocupa os magos do governo é que a fase do desgaste propriamente político ainda
vai começar. Mesmo que surjam nomes da oposição no rolo, como adiantou a um
advogado de empreiteira o ministro José Eduardo Cardozo, o PT e o governo
continuarão a ocupar o centro do palco.
O partido chegou a pensar, sim, em
fazer a contramanifestação, no melhor estilo das milícias chavistas, tentando
disputar espaço com os que vão às ruas cobrar o impeachment de Dilma, mas
desistiu. Prevaleceu, o que não costuma ser regra por lá, o bom senso: o
comando do partido percebeu que poucos estariam dispostos a fazer uma marcha
que poderia se confundir com a apologia da impunidade e do crime.
Gente do próprio entorno de Dilma
desestimulou a contramarcha. Alertou-se para o risco de confronto, o que,
fatalmente, elevaria a temperatura da crise, que, até agora ao menos, não
chegou às ruas de forma mais evidente. O partido não descarta manifestações de
apoio à governanta, mas não no mesmo dia em que milhares podem ir à praça
expressar seu descontentamento com o partido.
E por que os planaltinos fazem uma
previsão tão pessimista para o governo? Uma fonte do Palácio diz que eles
aprenderam algumas lições com as manifestações de 2013. Embora o motivo
original fosse a precariedade do transporte público, outras demandas se
juntaram, outros descontentamentos foram se somando. E, convenham, a realidade,
então, era bem outra, bem mais favorável a Dilma.
O país crescia mais, a inflação era
menor, não se conheciam os descalabros da Petrobras, e, atenção!, 84% (segundo
o Datafolha) diziam que a gestão Dilma era ótima ou boa. Hoje, depois de tudo,
apenas 23% afirmam a mesma coisa — espantosos 61 pontos a menos. O país começa
a viver, provavelmente, o seu segundo ano de recessão, a inflação estourou o
teto da meta, a tarifa de energia elétrica teve um reajuste brutal, os
brasileiros não aguentam mais ouvir falar em escândalos, e é evidente que Dilma
deu um beiço nos brasileiros na disputa do ano passado. Prometeu alhos e vai
entregar bugalhos.
O que deixa os politicólogos de Dilma
aflitos é não enxergar o fio da meada. A presidente deve voltar a viajar,
tentando cair no colo das massas — de massas devidamente selecionadas e
controladas, claro!, especialmente no Nordeste. Sairá por aí distribuindo
algumas casinhas do “Minha Casa Minha Vida”, tentando retomar a agenda
positiva. Mas, admite-se por lá, a coisa está difícil.
Resume um interlocutor: “Em 2012, a
ideia da faxina foi positiva para o governo; a própria Dilma a explorou. A
coisa era diferente. As denúncias vinham sobretudo da imprensa e, na maioria
das vezes, não havia muito mais do que se denunciava, e a presidente podia
fazer intervenções pontuais e sair ganhando politicamente. Agora, não. Esse
negócio da Petrobras virou um saco sem fundo… A única coisa que a gente sabe é
que hoje é pior do que ontem e melhor do que amanhã”. E ele admite: “A gente
não consegue respirar”.
Bem, convém que não falte ao menos
juízo onde faltam talento e competência. Tenham as pessoas a opinião que for
sobre o impeachment — já que, suspeito, não ocorre a ninguém contestar o
direito à livre manifestação, desde que dentro da lei e da ordem —, a tarefa
número um de governantes é atuar para amenizar riscos, não para extremá-los. E,
havendo alguém interessado em, digamos, desmobilizar os espíritos, é prudente
que aconselhe a presidente a não conceder novas entrevistas como a de
sexta-feira. Afinal, não fica bem a própria Dilma ser a principal incitadora de
uma manifestação que pede o seu impeachment.