Governo inicia nesta semana as nomeações pendentes para
estatais e bancos públicos. Negociações estão a cargo de Michel Temer e devem
acirrar a crise entre PT e PMDB
Após retornar de Lisboa, o vice-presidente Michel Temer vai
acelerar, a partir desta semana, a divisão dos cargos no segundo e terceiro
escalões. Dos 22,6 mil cargos comissionados do governo federal, cerca de 4,8
mil — aqueles com os salários mais altos — são destinados às negociações
políticas. A equação é complexa, mas, financeiramente, vantajosa. Em 2015, as
estatais terão investimentos previstos de R$ 105,5 bilhões. Um número atraente,
mesmo diante da possibilidade de contingenciamento para que o governo cumpra as
metas de ajuste fiscal.
E o
ajuste anda mais próximo desta negociação do que se imagina. As conversas terão
de ganhar um ritmo acelerado ao longo da próxima semana, para que o governo
consiga a fidelidade da base aliada no Congresso para aprovar, ao longo do
próximo mês, as duas medidas provisórias que alteram direitos trabalhistas e
previdenciários — as primeiras do pacote econômico feito pelo ministro da
Fazenda, Joaquim Levy, e que perdem validade em 1º de junho, se não forem
votadas pelo Congresso.
Temer,
auxiliado por Eliseu Padilha (ministro da Secretaria Nacional de Aviação Civil)
e Ricardo Berzoini (ministro das Comunicações), terá de superar outro desafio.
O processo de distribuição dos cargos aos aliados costuma ser modorrento no
governo Dilma Rousseff. A presidente, pouco afeita às conversas políticas,
demora a tomar decisões.
Para se
ter uma ideia, nas agências reguladoras, dos 26 cargos de diretoria, 10 estão
sendo ocupados de maneira interina ou estão, simplesmente, vagos. Nos tribunais
superiores também existem vagas à espera de nomeação. Dilma ainda tornou-se
mais cautelosa após a Operação Lava-Jato, já que as denúncias de corrupção na
Petrobras, apesar de envolverem diretores — Paulo Roberto Costa, Nestor Cerveró
e Renato Duque — de carreira, mostram que esses foram apadrinhados por
políticos e legendas partidárias, e serviram como instrumento de financiamento
eleitoral suspeito para candidatos de diversas agremiações.
Os novos
articuladores políticos do governo deparam-se também com uma legião de
insatisfeitos na base. “Vai ter atrito, não há dúvidas. Mas confiamos na
habilidade do presidente Michel Temer”, disse o líder do PTB na Câmara, Jovair
Arantes (GO), que defende a permanência da legenda no comando da Companhia
Nacional de Abastecimento (Conab). “Estamos fazendo um bom trabalho e é bom
para o governo que o PTB permaneça na base de apoio”, declarou ele,
desconsiderando o fato de que os petebistas apoiaram Aécio Neves nas eleições
de 2010, fecharam chapa com Eduardo Cunha para a Presidência da Câmara e têm o
senador Armando Monteiro Neto (PE) ministro do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio (Mdic). “Já avisaram que não teremos todos os cargos do Mdic. Como
nenhum partido que tem ministro terá em suas respectivas pastas”, completou
Jovair.
Alguns
cargos não serão mexidos. A Companhia de Desenvolvimento do Vale do São
Francisco (Codevasf), por exemplo, presidida atualmente por Elmo Vaz,
dificilmente trocará de mãos. Elmo é afilhado político do atual ministro da
Defesa, Jaques Wagner, que goza de prestígio junto da presidente Dilma e tem
participado diretamente das discussões de cargos para acalmar o PT e aliados.
Outro com
cacife e que deve emplacar um afilhado é o ministro da Saúde, Arthur Chioro.
Está praticamente definida a nomeação de Jarbas Barbosa para a presidência da
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Jarbas, atual secretário de
Vigilância em Saúde, é bem visto pelo PMDB e pelo PT. “Além disso, ele foi
levado para o ministério durante a gestão de José Serra, o que deve
garantir-lhe simpatia também na oposição”, disse um assessor que tem
acompanhado de perto as negociações.
Setor elétrico
O PMDB
deve herdar a Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf), administrada
hoje pelo PP. A legenda foi uma das mais afetadas com a denúncia feita pelo
procurador-geral da República, Rodrigo Janot, com base nos desdobramentos da
Operação Lava-Jato. Os peemedebistas também praticamente garantiram Marcos
Holanda — apadrinhado pelo líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE) —
para a presidência do Banco do Nordeste.
Também
existe expectativa sobre trocas de comando nas empresas do setor elétrico,
feudos do ex-presidente José Sarney (AP) e do senador Jader Babalho (PA). O
primeiro reaproximou-se de Dilma como conselheiro político, embora tenha votado
em Aécio Neves nas eleições de 2014. O segundo, garantiu o filho, Elder, no
Ministério da Pesca.
R$ 105 BILHÕES
Valor previsto para investimentos nos cargos disputados
do segundo escalão
"Estamos fazendo um bom trabalho (na Conab) e é bom para o governo que o PTB permaneça na base de apoio”
Jovair Arantes (GO), líder do PTB na Câmara
» Caixa
generoso - As cadeiras mais disputadas no andar de baixo da Esplanada e
os investimentos à disposição
Eletronorte
— R$ 1,081 bilhão
Chesf —
R$ 1,087 bilhão
Furnas —
R$ 1,29 bilhão
Agência
Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) — R$ 1,36 bilhão
Valec —
R$ 2,48 bilhões
Departamento
Nacional de Infraestrutura Terrestre (DNIT) — R$ 11,3 bilhões
Companhia
Nacional de Abastecimento (CONAB) — R$ 3,022 bilhões
Embrapa —
R$ 2,8 bilhões
Agência
Nacional de Vigilância Sanitária — R$ 745,7 milhões
Companhia
de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf) — R$ 907,9 milhões
O governo federal tem aproximadamente 22,6 mil cargos
comissionados. Desses, cerca de 4,8 mil são
disponíveis para as negociações políticas, por terem salários mais altos (DAS)
Nas agências reguladoras, existem cerca de 588 cargos que podem ser negociados com a base aliada. Das 26 diretorias das agências reguladoras, 10 estão vagas ou ocupadas por interinos
Indicações na fila de espera
Renan emplacou o presidente da ANTT e tenta nomear aliado na Anvisa
O governo terá de enfrentar outro desafio para concretizar as
nomeações. Diretores de agências reguladoras e indicados a cargos de ministros
dos tribunais superiores — incluindo Luís Fachin, apontado para o Supremo
Tribunal Federal (STF) — precisarão ser sabatinados pelo Senado. A Casa é
presidida pelo senador Renan Calheiros (PMDB-AL), que não anda em paz com o
Planalto e com a presidente Dilma Rousseff.
Renan,
inclusive, tem um nome para a Anvisa: Fernando Mendes, diretor adjunto do
Senado, o que pode trombar com a pressão do ministro da Saúde, Arthur Chioro,
de nomear Jarbas Barbosa para a presidência da agência. “O Renan não vai se
opor a Barbosa, caso seja o nome escolhido. O que ele quer, de fato, é ‘limpar
a biografia’ ao criticar algumas ações do Planalto. Tem dado certo. Para quem
enfrentou um abaixo-assinado com 1 milhão de assinaturas contra a sua posse
para a Presidência do Senado em 2013 e escapou dos cartazes e palavras de ordem
dos últimos dias, não deixa de ser uma vitória”, ironizou um experiente senador.
Além de
tudo, Renan já conseguiu emplacar o nome de Jorge Bastos para a presidência da
Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), cuja nomeação saiu na última
semana. Mesmo assim, tramita pelo Senado uma proposta de emenda à Constituição
(PEC) afirmando que, caso o Executivo demore a fazer nomeações para os
tribunais superiores e agências reguladoras, essa prerrogativa passe para o
Legislativo. (PTL)
Fonte: Paulo de Tarso Lyra – Julia Chaib – Correio Braziliense