Por: Conceição Freitas
Das quatro pontes que flutuam sobre o Lago Paranoá, a mais
bela não é a Ponte JK. É a ponte do Niemeyer que mudou de nome, passou de Costa
e Silva para Honestino Guimarães. Bem podia ter recebido o nome do Oscar, o
autor do projeto da ponte mais linda de Brasília.
A ponte
do Oscar reverencia as escalas do Plano Piloto. Dá rasantes sobre o lago, como
uma gaivota procurando peixinhos no espelho d’água. Duas gaivotas, lado a lado,
nos conduzem de um lado a outro da cidade. Ao contrário da outra, a ponte do Oscar
não pretende atrair para si a atenção dos convidados.
O urbanismo de Lucio e a arquitetura de
Oscar, margeados pela placidez paradisíaca do lago, são os personagens
principais do teatro épico de linguagem moderna que se desdobra dentro de um
anel de chapadas.
Duas das
pontes de Brasília são tão somente pinguelas de concreto, a Ponte das Garças e
a Ponte do Bragueto, as duas sem nenhum requinte de obra de arte. Em
engenharia, as pontes são chamadas de obras de arte, porque, originalmente,
designavam construções desenvolvidas por artífices da engenharia para superar
obstáculos — um lago é um obstáculo a uma estrada.
A Ponte
do Oscar trisca o lago duas vezes antes de chegar às duas pontas opostas. De
longe, lembra duas garças de asas abertas aterrissando levemente sobre o
espelho d’água. Com a ponte, Niemeyer “buscou traduzir as formas
características da arquitetura monumental brasiliense, empregando uma estrutura
formada por três arcos com grandes vãos”. O arquiteto deu ao projeto o nome de
“Ponte Monumental”. Impôs-se um desafio: “Vencer um vão recorde de 200 metros
sobre o lago, numa extensão total de 400!”, escrevem Sylvia Ficher e Andrey
Schlee em Brasília 50 Anos, guia de obras do arquiteto.
A ponte
do Oscar é a única ponte do arquiteto que foi construída. Há uma outra,
projetada para Veneza, feita como exercício estético para a mostra As Venezas
possíveis: de Palladio a Le Corbusier, em 1985. É branca como a de Brasília,
“leve e graciosa, como o concreto permite”. É uma estrutura inteiriça, como uma
ponte-casa-calçada-passarela com janelões abertos para a paisagem urbana,
“convidando os visitantes a parar um pouco e, sobre o canal, sentirem melhor
como é bela essa cidade”.
Vista sozinha, sem a interferência arrogante da Ponte JK, a
Ponte do Oscar é de uma delicadeza comovente. Os raios de Sol reluzem no branco
da estrutura lateral da ponte — evidenciando o efeito imaginado pelo arquiteto:
“Como uma andorinha tocando na água...”.
Projetada nos anos 1960 e construída nos anos 1970, a Ponte
do Oscar é um exemplo de como é possível ser genial sem ser insolente. E de
como é possível participar de um casamento sem querer roubar a atenção da
noiva.
*Conceição
Freitas – Colunista e repórter do Correio Braziliense
Esse nome ''novo'' da PONTE COSTA E SILVA vai dar é azar !!!
ResponderExcluirMe desculpe a ignorância, mas como uma LEI do governador pode ser revogada por um deputado distrital... Detalhe, a lei que deu nome a ponte é uma lei FEDERAL, pois na época sequer existia representação política em Brasília. Mas uma lei INCONSTITUCIONAL. Mas essa, somente o GOVERNADOR poderia mudar a lei que outro GOVERNADOR criou e aprovou... E ainda tem gente aplaudindo o que a CASA DOS HORRORES aprova.
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