Apesar do possível aumento do ingresso, a professora Taiza Mendes é a favor das parcerias privadas: Sobraria dinheiro para melhorar o parque
Com um corte orçamentário de 65%, GDF inicia processo de
concessão de espaços dentro do parque à iniciativa privada. Edital para
construção de novos quiosques já foi lançado. Aumento do preço do ingresso não
está descartado
Os efeitos da crise econômica no Distrito Federal chegaram ao
Jardim Zoológico de Brasília. Nos primeiros sete meses do ano, as verbas
repassadas ao parque foram de R$ 429,3 mil, apenas 65% do que o GDF destinou
para o local no mesmo período do ano passado. Se comparado com 2013, a diferença
é ainda mais crítica. De janeiro a julho daquele ano, o zoológico recebeu R$
1,273 milhão. Uma das possibilidades para contornar os cortes é a concessão de
espaços dentro do complexo. Em junho, o governador Rodrigo Rollemberg anunciou
que o zoológico seria um dos lugares abertos para esse modelo de gestão.
Com a
mudança, estão previstos alguns benefícios, como construção de lanchonetes e
restaurantes, melhorias no transporte interno e revitalização de áreas verdes.
No entanto, a administração do parque não descarta o aumento no valor do
ingresso.
De acordo
com o diretor adjunto do zoológico, João Suender, os cortes orçamentários já
vêm sendo feito ao longo dos últimos anos e, até agora, a administração tem
conseguido se ajustar. “A gente tem uma destinação fixa de verbas com o
objetivo de garantir a qualidade de vida dos animais, para que não lhes faltem
comida nem remédios. O mais difícil é fechar as contas em relação ao pagamento
dos funcionários terceirizados, mas estamos estudando como racionalizar o
dinheiro da melhor maneira”, explica. Como forma de desonerar o governo e
aumentar a receita, estão sendo planejadas uma série de concessões pontuais
dentro do parque. “É importante frisar que é diferente de privatização. A
gestão do complexo continuará sendo pública e só alguns espaços serão cedidos,
como já acontece no caso das lanchonetes, por exemplo”, esclarece Suender.
As
concessões foram divididas segundo o tempo de implantação. Ainda em 2015, estão
previstas as implantações de dois novos quiosques — para os quais já foi
lançado edital —, uma loja de souvenires e uma exposição permanente, por meio
de parcerias com empresas privadas. A médio e longo prazos, a administração do
parque considera concessões mais profundas. Uma das principais é a implementação
de um novo sistema de mobilidade interno. “Como a ideia é muito incipiente,
ainda não foi determinado o tipo de transporte a ser utilizado, mas a principal
preocupação será garantir a sustentabilidade ambiental”, diz Suender.
Bicicletas, triciclos ou carrinhos elétricos seriam algumas das opções.
Aumento no ingresso
Segundo a
direção do zoológico, a realização de parcerias público-privadas (PPPs) para a
modernização das entradas do parque também está sendo discutida, incluindo a
construção de uma nova guarita. No entanto, a possibilidade do aumento no valor
do ingresso, que atualmente custa R$ 2, não foi descartada — motivo de polêmica
entre os visitantes.
O
servidor público Saulo Guedes, 33 anos, morador de Águas Claras, leva a filha,
Gabriela, 2, para passear no Zoológico frequentemente e não aprovou a
realização de concessões no local. “Acho que podem acabar criando mais taxas
num lugar que deveria ser acessível. O parque está bem conservado do jeito que
está”, afirma. A professora Taiza Mendes, 36, moradora do Sudoeste, pensa
diferente. Com frequência, ela leva os alunos para conhecer os animais do zoo.
“Queríamos visitar o borboletário, mas não deu, porque estava fechado por falta
de funcionários. Também é difícil conseguir guia. Com as concessões, poderia
sobrar dinheiro para melhorar esses aspectos”, argumenta.
Revitalização
Outras
parcerias público-privadas em debate incluem a construção de um restaurante
moderno e a revitalização de diversas áreas, como o Parque das Aves, localizado
em frente ao zoológico. “A unidade está bastante degradada e, além disso, não
traz nenhuma contrapartida para a população. Por meio das concessões, seria
possível construir infraestrutura no local e abrir para visitação, sempre
respeitando a preservação da natureza”, explica João Suender.
A adoção
de animais por parte de empresas é outra das alternativas. “Temos um público de
mais de 1 milhão de pessoas por ano. Entidades privadas podem se comprometer a
custear os gastos de um animal e, em troca, fazer marketing no parque,
colocando placas na frente das jaulas”, acrescenta Suender. Além disso, a
administração estuda a criação de um selo próprio, a ser concedido a empresas
que colaborem com a organização.
"Entidades privadas podem se comprometer a custear os gastos de um animal e, em troca, fazer marketing no parque, colocando placas na frente das jaulas" João Suender, diretor adjunto do Zoológico de Brasília
Para a
professora da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB) Rosângela
Azevedo Corrêa, especialista em educação ambiental e ecologia humana, as
concessões podem trazer benefícios, já que a manutenção do zoológico é muito
onerosa e, no atual contexto de crise, o governo precisa investir em outras áreas.
Ela enfatiza, no entanto, que as PPPs devem ter como objetivo fortalecer a
educação ambiental dentro do parque e que isso precisa ser cobrado das
empresas. “Se não, as parcerias tornam-se apenas uma forma de entidades
privadas se promoverem como marcas verdes, sem trazer benefícios para a
população. É necessário investir em mais guias, panfletos e outros materiais
pedagógicos”, defende.
O parque em números
1,3 milhão de visitantes por ano, 280 espécies de animais, 1 mil animais vertebrados, 8,6 mil animais invertebrados, 117 Hectares de área.
Fonte: Paloma
Suertegaray – Correio Braziliense – Foto: Ed Alves/CB/D.A.Press