Bruno e Adriana montaram barraca com os filhos Arthur e Leonardo
O governo fará toda a limpeza da área desobstruída
na Península dos Ministros em até 15 dias. Técnicos do Ibram organizaram
visitas guiadas no local, onde famílias e amigos aproveitaram o domingo
ensolarado à beira do espelho d'água
A área desobstruída às margens do Lago Paranoá, na QL 12 da
Península dos Ministros, deve ser limpa em até 15 dias e liberada ao público de
forma gradativa a partir do Parque Anfiteatro Natural do Lago Sul, o Parque da
Asa Delta. A previsão é do Instituto Brasília Ambiental (Ibram), que garantiu o
acesso ao espaço antes cercado pelas invasões (leia Entenda o caso). O projeto
de recuperação do terreno degradado, no entanto, deve demorar seis meses. Isso
porque, em alguns trechos, não é possível estudá-los via satélite. Na manhã de
ontem, técnicos do Ibram fizeram uma visita guiada com grupos de até 10
pessoas. Para comemorar a derrubada, o gramado do parque ainda deu lugar à
festa durante o evento Isoporzinho no Lago.
Muitos jovens festejaram a demolição de estruturas em área pública com o evento Isoporzinho no Lago
Durante o
passeio pelo local, o público passou pelas piscinas aterradas por funcionários
da Agência de Fiscalização do Distrito Federal (Agefis), caminhou entre as
estruturas de madeira demolidas e conheceu a extensão de algumas mansões de
luxo. O dono de uma das casas com uma sala de cinema que ocupa parte do espaço
público contratou dois vigilantes para garantir a segurança da área. Em outro
ponto, uma quadra de esportes que fazia parte da estrutura de uma embaixada foi
lacrada por técnicos do Ibram. A previsão é liberá-la para uso da população.
No total,
sete embaixadas e quatro imóveis da União ficam na região que sofreu a
operação. Segundo o superintendente de Estudos, Programas, Monitoramento e
Educação Ambiental do Ibram, Luiz Rios, duas providências poderão ser tomadas
em relação às residências oficiais. “Uma das opções é conseguir um acordo com o
Ministério das Relações Exteriores e fazer uma negociação com o país da
embaixada para liberar a parte dos 30m. Ou, então, por questão de segurança,
fazer uma passarela de madeira que dá acesso ao espaço público”, adiantou.
Por
enquanto, a parte desocupada ficará interditada por segurança da população.
Mas, antes do plano de recuperação, a intenção é que o espaço esteja liberado.
“No momento, ela permanece restrita, pois ainda é um canteiro de obras e
oferece riscos às pessoas. O acesso fica bloqueado até a limpeza do terreno e o
estudo da perícia, uma vez que envolve uma área de possível crime ambiental”,
detalhou Luiz. “Antes de terminar o plano de recuperação, a população deve
utilizar o espaço com ações de educação ambiental pelo governo e de
conscientização para que entendam a importância do espaço que é uma Área de
Proteção Permanente”, acrescentou.
Consulta
Segundo o
superintendente, o estudo via satélite não é eficaz em casos como o de um gramado
que encharcou de água. “É necessário analisar se houve excesso de irrigação ou
bloqueio de antiga área de drenagem em razão do muro que o morador fez, que não
existia e não podia à beira do lago. Só uma sondagem do terreno vai poder
esclarecer isso”, ressaltou. Semanalmente, os órgãos envolvidos na operação às
margens do lago têm feito uma consulta pública. O próximo encontro, Diálogos da
Orla, será na quinta-feira, das 19h às 22h, na Administração Regional do Lago
Sul.
Na tarde
de ontem, servidores do Ibram encontraram uma fiação elétrica em um antigo
refletor de uma quadra de areia. Saía fumaça e faísca dos fios. Técnicos do
órgão acionaram equipes da Companhia Energética de Brasília (CEB) para resolver
o problema.
A
servidora pública Patrícia Castilho e o marido militar, Vitor Sibien de
Oliveira, ambos 38 anos, conheceram a área desobstruída com as filhas Laura e
Natália Castilho, 7 e 6 anos, respectivamente. Para Patrícia, foi possível
perceber o quanto os moradores da orla investiram em infraestrutura. “A
situação correu solta por muito tempo e dá para ver que as pessoas ficaram
tranquilas, pois fizeram grandes estruturas e gastaram dinheiro. Dá para
perceber que os moradores estavam achando que nada aconteceria. A desocupação é
muito justa”, destacou. “Viemos para ver o que estava acontecendo e tivemos a
oportunidade de conhecer pela visita guiada”, completou Vitor.
Os
arquitetos Eder Alencar, 35 anos, e Gabriel Daher, 27, também aproveitaram para
conhecer o local. “É interessante que a população possa usufruir dessa área e
relacionar o espaço público com o lago. A desocupação é necessária e é ótimo
que haja essa opção de lazer”, ressaltou Eder. “Ficamos questionando como será
tratada a área pública e o que será feito de planejamento urbano”, considerou
Gabriel.
Entenda o caso - Recuperação do meio ambiente
O
Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) entrou com uma ação civil
pública contra o governo em 2005, alegando omissão na fiscalização para evitar
as ocupações na orla do Lago Paranoá. No processo, o órgão argumentou que “são
indispensáveis para a proteção de várias espécies de mamíferos da fauna
silvestre brasileira, de aves, anfíbios, répteis, muitos dos quais ameaçados de
extinção no Brasil. A sentença determinando a recuperação da Área de
Preservação Permanente (APP) transitou em julgado em 2011. A Justiça estipulou
multa diária de R$ 5 mil, caso o GDF não apresentasse em 120 dias um cronograma
de fiscalização e de desocupação da área, além de um plano de recuperação das
margens do espelho d’água. Em março, o governo e o MPDFT assinaram um acordo e
apresentaram o cronograma.Na primeira fase da operação, muros e cercas em uma
faixa de 30m a partir da beira do lago seriam demolidos até 15 de maio, mas um
recurso dos moradores adiou a ação. Ao julgar o pedido, a Justiça entendeu que
eles não eram parte no processo. A derrubada de muros, cercas e alambrados
começou há uma semana na QL 12 do Lago Sul, a Península dos Ministros.
Ocupação com direito a festa e protesto
As margens do lago, antes cercadas por invasões luxuosas,
deram lugar a festa e ocupação pública por moradores da capital. Crianças,
jovens, famílias e idosos saíram de casa para comemorar a derrubada de muros,
cercas, alambrados e jardins de mansões à beira do espelho d’água. O evento
Isoporzinho no Lago, organizado pela juventude do Partido Socialista Brasileiro
(PSB), atraiu o público que brindava o livre acesso. O domingo de sol favoreceu
e, quem quis se refrescar do calor, aproveitou para dar um mergulho na água.
Rosimiro
Cândido, 35 anos, e a mulher, Mônica Padilha, 30, saíram da Asa Norte e, às
10h, chegaram ao Parque da Asa Delta com a filha, Cecília Cândido Padilha, 2,
para também aproveitar o espaço e fazer um lanche. “Além do lazer gratuito,
existe todo um simbolismo pela ação do governo em tornar a orla do lago cada
vez mais pública. Demorou para que as derrubadas acontecessem, mas é necessário
abrir mais os acessos para um aproveitamento total da população”, destacou o
servidor público. “Ela (Cecília) adora o lago, e essa foi uma excelente
oportunidade para trazê-la aqui. O local é muito agradável. Decidimos vir
também para comemorar a desocupação”, ressaltou a pedagoga.
A família
dos servidores públicos Bruno Reis e Adriana Magalhães, ambos de 42 anos, levou
barraca, cadeiras de praia e até um caiaque para aproveitar o dia. Com os
filhos Arthur e Leonardo de Melo Reis, 11 e 8 anos, respectivamente, o grupo
aderiu à comemoração pelo espaço desobstruído. Até a cadela de estimação,
Palomita, não ficou de fora. “Demorou, mas chegou o dia em que o espaço foi
devolvido à população. Vejo os donos das casas dizerem que a orla vai ficar
abandonada, mas estamos aqui mostrando o contrário. Nós vamos usufruir desse
espaço como benefício”, destacou Adriana.
Embaixo
da sombra de uma árvore, os amigos Fernando Tavares, 20, e Pedro Reis, 29,
aproveitaram o domingo ensolarado. “Além de ser uma opção de lazer, viemos para
dar apoio às derrubadas. Antes, só os donos das casas das pontas de picolé
tinham acesso a uma área que é pública. O espaço, agora, sim, é nosso, mas a
ação tem de continuar”, defendeu Fernando. Homens da Polícia Militar e do
Departamento de Trânsito (Detran) fizeram a segurança e a fiscalização. (IS)
Fonte: Isa Stacciarini - Fotos: Rodrigo Nunes – Especial para
o Correio/CB/D.A.Press