"Nunca neguei que gostaria de ser conselheiro. Tenho uma longa trajetória na área de finanças. O tribunal está muito restrito a analisar licitações e aposentadorias" (Wasny de Roure, deputado distrital)
O petista abandonou o sonho de assumir o cargo de conselheiro
do TCDF ao perceber que a concorrência seria vencida pelo colega Dr. Michel.
Este só perde se a presidente da Casa, Celina Leão, se lançar na disputa
A eleição para a vaga de conselheiro do Tribunal de Contas do
DF (TCDF), que dá direito a um salário vitalício de R$ 30 mil, movimentou os
bastidores da política local nesta semana. O distrital Wasny de Roure (PT) era
um dos candidatos, mas desistiu, ontem, para evitar a iminente derrota contra o
favorito, Dr. Michel (PP). O parlamentar do PP, contudo, ainda não pode cantar
vitória. Além do histórico de reviravoltas em pleitos da Casa, o fato de
aliados estarem incentivando a presidente da Câmara Legislativa, Celina Leão
(PDT), a entrar na corrida tem chance de alterar o cenário. A definição será na
próxima semana, provavelmente na terça-feira.
Além dos
deputados que pretendem ir para o TCDF, o auditor de carreira do órgão Helton
Linhares sonha com o cargo. Ontem, ele foi à Câmara protocolar a candidatura.
Para concorrer, contudo, o postulante precisaria ser indicado por um
parlamentar. Como Helton não tem apoio de nenhum deles, a inscrição será
rejeitada pela Mesa Diretora da Casa. Segundo o auditor, a ideia de se colocar
à disposição é chamar a atenção do cunho político do posto e das negociatas que
ocorrem até a escolha do indicado. “Faz-se necessário romper com as práticas
patrimonialistas das casas legislativas que tiram dos brasileiros a
possibilidade de concorrer”, afirmou.
A
desistência de Wasny era esperada no meio político. Ele almeja o cargo desde
2012, quando perdeu a disputa no último dia para Paulo Tadeu. Desde então, ele
tenta assumir a função vitalícia. Desta vez, esperava-se outra disputa
acirrada. Dr. Michel, no entanto, cresceu no páreo com o apoio de Celina e
conquistou rapidamente a preferência de pelo menos 15 colegas.
O petista
não escondeu a frustração por ter ficado de fora mais uma vez. “Nunca neguei
que gostaria de ser conselheiro. Tenho uma longa trajetória na área de
finanças. O tribunal está muito restrito a analisar licitações e
aposentadorias”, criticou. Ele apontou o que deveria melhorar: “Seria
necessário fiscalizar a questão fundiária, com manifestação e controle mais
sistemáticos”. A esperança de Wasny para vencer a disputa era contar com a
ajuda do chefe do Executivo local, Rodrigo Rollemberg (PSB), nas articulações.
“Quem disse que nos apoiaria era o próprio governador, mas isso não aconteceu”,
queixou-se. Nos bastidores, diz-se que o socialista não quis enfrentar o time
liderado por Celina, de quem ele depende neste semestre para aprovar medidas
capazes de aumentar a arrecadação do governo.
A única
chance de Michel não ser escolhido é no caso de a presidente da Casa entrar na
disputa. Aliados próximos a Celina têm incentivado a distrital a concorrer. A
pedetista tem 38 anos e ocupa um dos principais cargos da capital do país. Ela
é nova para se aposentar, mas o cargo é bastante cobiçado. Paulo Tadeu e Renato
Rainha são alguns exemplos de políticos promissores que deixaram a carreira
para assumir o TCDF, com salário de R$ 30 mil, benefícios e aposentadoria com
vencimento integral.
O que diz a lei
O
artigo 82 da Lei Orgânica do Distrito Federal determina que a Câmara
Legislativa é responsável pela escolha de quatro dos sete conselheiros do
Tribunal de Contas do Distrito Federal. A vaga aberta após a saída de Domingos
Lamoglia é uma dessas. O concorrente não precisa ser um deputado, mas no artigo
228 do regimento interno da Casa explicita-se que a indicação deve ser feita
por partido político ou por bloco de parlamentares. Sem a chancela, as
candidaturas não prosperam.
Fonte: Matheus Teixeira – Guilherme Pera – Correio Braziliense
Cavalo arreado
Dificilmente,
uma chance de se tornar conselheira do Tribunal de Contas do DF será tão grande
como agora para Celina Leão. Presidente da Câmara Legislativa, a pedetista
desfruta de alta popularidade entre os colegas, tem o comando da Casa para
negociar numa nova eleição à presidência e conta com a simpatia do governador
Rodrigo Rollemberg (PSB). É como diz a sabedoria popular: o cavalo está
passando arreado na frente de Celina. E não passará duas vezes.
Candidatos
avulsos não têm chance
Todas as
candidaturas para o Tribunal de Contas do DF que surgirem descoladas de
deputados serão indeferidas pela Câmara Legislativa. A Casa vai usar o artigo
228 do Regimento Interno para justificar que apenas distritais ou partidos
políticos podem registrar nomes na disputa. O tema
deve virar embate na
Justiça.
Convencimento
Madrinha
da candidatura de Dr. Michel (PP), Celina terá de convencê-lo a desistir, caso
decida mesmo concorrer à vaga no Tribunal de Contas do DF. Seria um dos raros
casos em que o criador dá um nó na criatura.
Articuladora
Apesar do
anúncio de independência em relação ao governo, Celina Leão tem sido uma aliada
cirúrgica de Rodrigo Rollemberg. Em algumas articulações, ela se tornou
fundamental, como no convencimento dos deputados distritais a abrirem mão de
emendas individuais para destiná-las à saúde. Foi um
pedido do governador que ela atendeu.
Fonte: Ana Maria Campos – Coluna “Eixo Capital” – Correio Braziliense
– (Fotos: Marcelo Ferreira/CB/D.A/Press)