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Uma conquista histórica - Desocupação da Orla do Lago Paranoá (Por Ana Dubeux)

O que significa o início da desocupação da orla do Lago Paranoá? Existe muito simbolismo nisso. Em primeiro lugar, existe a disposição para cumprir o que a Justiça determinou — pode-se argumentar que não é mais do que obrigação, mas sabemos que não é bem assim; quando uma parte não quer, há sempre atitudes protelatórias, sejam judiciais, sejam burocráticas, sejam políticas. Em segundo lugar, significa um atentado a um conceito já enraizado, segundo o qual os tratores do governo, que derrubam com a maior tranquilidade os barracos dos pobres, passam ao largo das invasões de rico. Sabemos todos que o “sabe com quem está falando?” sempre prevaleceu. Estaremos vivendo o início de um novo tempo? Veremos.

Faltava um sinal claro de que o governo Rollemberg seria de fato diferente, como prometeu em campanha. Uma nova política, feita pela geração Brasília, sem os vícios e ranços que envergonham os brasilienses há tempos. A operação na orla é um indício importante de uma mudança de olhar e de postura em relação ao status quo das políticas públicas do DF. Menos conivência com o conceito de que “tudo pode desde que se tenha grana e poder” fará um enorme bem a Brasília. E certamente dará uma cara mais definida à gestão do PSB. 

Há poucos meses, escrevi, aqui neste espaço, que compartilhava com a população de certo ceticismo em relação à desobstrução das margens do Paranoá. Foi quando o GDF conseguiu desocupar parte da invasão Sol Nascente. Depois, quando partiu para Vicente Pires, novamente se viu às voltas com a desconfiança coletiva de que a ofensiva contra os invasores não chegaria aos ricos terrenos dos lagos Sul e Norte. Mas chegou. E isso é muito importante.  

Brasília sempre conviveu com a certeza desconcertante de que os ricos e poderosos podem tudo. Muitos justificaram a área invadida como uma medida de proteção ou pela omissão do Estado em cuidar da área. Nada justifica, na verdade. Agora, é preciso levar adiante e voltar às casas protegidas pelo governo federal, por se tratarem de residências oficiais ou que abrigam embaixadas. Esperemos o acordo com a União, que está por vir. Mas o governador precisa levar a cabo o plano de desocupação e deixar para Brasília uma herança de legalidade em relação às terras públicas. 

Proteger o lago é, antes de tudo, uma questão ambiental, que pode garantir o abastecimento de água para a população no futuro. Trata-se de uma medida cautelar em benefício da qualidade de vida. Brasília só é Brasília por causa do conjunto de coisas que a fizeram tão especial: a arquitetura singular, o título de patrimônio, a coragem dos pioneiros, o verde e o horizonte monumentais. Civilidade, que inclui respeito às leis e às terras públicas, fará um imenso bem à capital.



Por: Ana Dubeux – Editora Chefe do Correio Braziliense – Foto: Google

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