Lúcio Rennó, Presidente da Codeplan
A economia
do DF caiu no segundo trimestre consecutivo, como mostrou estudo do Índice de
Desenvolvimento Econômico (Idecon) do DF, registrado pela Codeplan. A que se
deve isso?
A crise econômica e política que assola o país, a
redução da capacidade de investimento e compra do Estado no DF e Brasil, o
desaquecimento do mercado imobiliário, índices altos de desemprego, diminuição
na oferta de crédito, combinado com juros e inflação alta inviabilizam qualquer
possibilidade de crescimento econômico. Há retração, mas ela foi menor no
segundo trimestre do que no primeiro. É importante destacar que, ao contrário
do Brasil, a situação do DF dá sinais de recuperação.
Nos
serviços, atividade mais forte no DF, também houve retração, com forte impacto
no comércio. Os moradores do DF estão com medo de gastar?
A redução nas oportunidades de crédito, os juros
altos e o aumento de preços exigem do consumidor maior rigor e cautela no
momento das compras. Os bons negócios escasseiam e isso faz com a maioria da
população reduza seus gastos. Isso aconteceu principalmente com
eletrodomésticos (29,9% de redução), veículos (18,5% de redução) e material de
construção (11,9% de redução).
Mesmo a
agropecuária sendo parte pequena da economia do DF, não deixa de ser
preocupante ver que houve uma queda de mais de 20% no setor no segundo
trimestre de 2015 em relação ao mesmo período do ano passado. O que provocou
isso?
Problemas climáticos estão na essência do problema.
Houve muita chuva no começo do ano e estiagem prolongada mais recentemente.
Cabe destacar que as áreas plantadas no DF são pequenas, o que torna os
resultados dessa atividade econômica especialmente sensíveis a eventos
climáticos, pragas e outros fatores.
Nossa
economia no DF é baseada principalmente na renda do servidor público. O que
pode acontecer se houver atraso de pagamentos da folha de pessoal do GDF neste
fim de ano, com o agravante de o governo federal ainda ter anunciado cortes em
ministérios?
A capacidade de compra e investimentos do governo
está completamente comprometida pelos gastos com pessoal e custeio, que são
muito engessados. O governo terá que fazer cada vez mais cortes para poder
honrar contratos vigentes, equacionar dívidas do passado e pagar salários.
Capacidade de investimento e compra, nem pensar. A situação é dramática.
É possível
prever um cenário assustador no fim do ano?
Tudo isso aponta para um cenário muito difícil no
fim do ano. Contudo, cabe ressaltar que os salários do funcionalismo público
são bastante altos, principalmente no GDF: em média, bem superiores aos
salários da iniciativa privada. Assim, a capacidade de compra do funcionalismo,
mesmo com atrasos salariais, não se dissipará por completo. Mas esses são todos
elementos que se retroalimentam, e podem piorar a crise. Há que se ter muita
responsabilidade de todos os envolvidos — governo, sindicatos, Câmara
Legislativa, servidores — para que possam cooperar e encontrar soluções.
Na sua
opinião, como o DF poderia se blindar para sentir menos os impactos da crise
nacional?
O DF precisa criar mecanismos para estimular a
diversificação da economia local, o que contribuiria para aumentar a
arrecadação. Uma boa notícia do Idecon é que os serviços de informação e outros
serviços, como alojamento e alimentação, continuam apresentado resultados
positivos, ou seja, mesmo na crise, há aspectos da nossa economia que continuam
a crescer. Um projeto consistente de desenvolvimento, que diminua a burocracia
para abertura de negócios e que ofereça estímulos consistentes com
contrapartidas claras para empreendimentos novos são muito importantes.
Fonte: Ana Maria Campos – Coluna “Eixo Capital” –
Correio Braziliense – Foto: Google