O esforço do governo para salvar a própria pele no campo
político e econômico encaixa-se com precisão na definição do teatro do absurdo,
dado pelo crítico húngaro, radicado na Inglaterra, Martin Esslin, em 1961: uma
forma de teatro moderno que utiliza, para a criação do enredo, das personagens
e dos diálogos, elementos chocantes do ilógico, com o objetivo de reproduzir
diretamente o desatino e a falta de soluções em que estão imersos o homem e a
sociedade.
Só nesse
contexto surrealista pode-se entender o raciocínio não linear de um governo que
lançou, como balão de ensaio, a proposta de recriação da CPMF. Bombardeada por
empresários, movimentos sociais e políticos, a ideia some do cenário para ser
reapresentada durante anúncio do pacote de ajuste fiscal, na última
segunda-feira. Sem nada para os governadores e prefeitos que, se quiserem,
virem-se perante deputados e senadores para aumentar o caixa das respectivas
administrações.
Apenas no
aspecto dramático e teatral para entender por que o governo manda para o
Congresso Orçamento com deficit de R$ 30,5 bilhões, o que leva à retirada do
grau de investimento do país pela agência americana Standard & Poor’s. Só
após isso, descobre que há espaço para cortes que poderão minorar o rombo. Eles
são calculados em R$ 26 bilhões. Nem para empatar com o valor do rombo
original. Mas tudo bem.
No
Senado, o pacote foi visto como o sepultamento da Agenda Brasil, exaltada pelo
Planalto como “uma prova, por parte do Senado, de uma disposição em contribuir
para o Brasil sair das suas dificuldades o mais rápido possível,” segundo
palavras da própria presidente. Exatos um mês depois, ela manda conjunto de
medidas recessivas para o Congresso. “Nós oferecemos uma salvação à presidente
que estava à deriva. Ela consegue furar a boia e se enforcar com a corda”,
ironizou um interlocutor próximo a Renan.
Para
completar a tragédia grega — sem trocadilhos, afinal, estamos muito melhor
economicamente do que nossos companheiros mediterrâneos —, o governo pensa na
possibilidade de legalizar os bingos e os jogos de azar, para garantir receita.
Depois de Alberto Youssef ter sido redimido como relator da Lava-Jato, o
Planalto cogita ressuscitar Carlinhos Cachoeira. Fecha as cortinas e apaga a
luz.
Por: Paulo de Tarso Lyra – Correio Braziliense – Foto/Ilustração:
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