Com prefácio de Domenico De Masi, a Editora Garamond,
do Rio de Janeiro, publicou em 2013 o livro “O erro do sucesso — a civilização
desorientada e a busca de um novo humanismo”. O título ficou agora visível nas
imagens que chegam da Europa.
As famílias soçobrando em pequenos barcos, crianças
chorando nos braços de mães aturdidas, o corpo de um menino jogado pelas ondas
nas areias da praia na Turquia são provas do erro do sucesso da civilização
ocidental: capaz de riqueza ostentatória e pobreza absoluta, de cada lado do
Mediterrâneo; mostram também a desorientação da civilização e a necessidade de
um novo humanismo global, como defendido pela diretora-geral da Unesco, Irina
Bokova.
Com a globalização, o mundo ficou pequeno, mas, no
lugar de incluir todos, preferiu-se cortar o planeta com uma cortina de ouro
separando beneficiados e excluídos do progresso.
O erro está no sucesso técnico e econômico sem uma
orientação ética que permitisse distribuir o bem-estar para evitar a
necessidade de migração em massa, porque a riqueza atrai a pobreza na razão
direta da desigualdade e na razão inversa da distância entre elas; está também
no erro do sucesso da força como o Ocidente intervém nos assuntos internos dos
países do Oriente Médio, desagregando-os.
A crise ambiental decorre do êxito do poder
tecnológico e do crescimento econômico sem valores éticos; o desemprego
estrutural vem da ciência ao substituir homens por máquinas; as crises das
bolhas financeiras decorrem da fluidez dos mercados nos tempos da internet; o
terrorismo é uma reação de inconformados, desesperados e desumanizados com a
força da cultura ocidental destruindo valores locais.
À Europa restam duas alternativas: reprimir os
imigrantes de forma crescentemente brutal ou distribuir sua riqueza com os
povos do mundo; impedir imigração ou fazer desnecessária a emigração. Esta
última alternativa pode ser conseguida com investimentos diretos nas regiões
onde a pobreza e a guerra expulsam pessoas e famílias.
Diante da pobreza e atraso africanos, não daria
resultados um programa como os EUA fizeram na Europa depois da Segunda Guerra,
mas um outro tipo de Plano Marshall pode ser possível. Pode-se estimar que o
custo de cada policial usado para impedir a entrada de imigrantes na Europa
equivale ao custo para manter até 200 famílias, mil pessoas, na África, com
Bolsas de Fixação da Família em suas aldeias, sem necessidade de emigrar.
Um programa deste tipo, uma espécie de Plano Marshall
Social por meio de transferência condicionada de renda, apresenta dificuldades
técnicas para sua gestão, mas não é difícil de ser implantado, se contar com o
apoio da Agência das Nações Unidas para Refugiados, com a força moral de um
Papa imigrante, filho de italianos que fugiram da fome na Europa para as
Américas, e com a força política de uma chanceler alemã que sabe o que sofreram
milhões de seus conterrâneos migrantes, exatos 70 anos atrás.
Refugiados e migrantes no Mediterrâneo, 22/04/2015 (Foto: Lusa)
(*) Cristovam Buarque é professor emérito da UnB e senador pelo PDT-DF
Refugiados e migrantes no Mediterrâneo, 22/04/2015 (Foto: Lusa)
(*) Cristovam Buarque é professor emérito da UnB e senador pelo PDT-DF