A recessão a que o Brasil foi lançado não para de fazer
vítimas. Aumenta a cada dia o número de famílias atingidas pelo desemprego —
face mais perversa dessa situação — e o desânimo de empresários com a
persistência de indicadores negativos. O tempo passa e as coisas só pioram para
quem precisa tocar um negócio ou apenas ganhar a vida honestamente.
A gestão
irresponsável do dinheiro público, que gerou um grave problema fiscal, e a
venda de um paraíso inexistente na campanha que reelegeu a presidente estão nas
fundações dessa crise, que mistura a falta de confiança das pessoas no governo
e a perda da credibilidade dos mercados no Brasil.
O país
está perto de ver o encerramento do nono mês do segundo governo de Dilma
Rousseff cada dia mais distante de perceber sinais de alento. Pelo contrário. O
governo já desistiu de suas metas de inflação e de recolocar as contas públicas
longe de um novo deficit primário.
Como nas
anteriores, a semana que se encerra foi farta em más notícias. Não deve passar
sem destaque a divulgação, na quinta-feira, da tradicional Pesquisa Mensal de
Emprego relativa a agosto pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE). Nas seis principais regiões metropolitanas, o desemprego voltou a
crescer e não dá o menor sinal de estabilidade.
O
resultado de agosto manteve a impressionante velocidade da deterioração do mercado
de trabalho. As taxas de desemprego passaram de 5,3% no início do ano, para
7,6% em oito meses. Segundo a pesquisa, essa taxa significa que, no fim do mês
passado, mais de 1,85 milhão de brasileiros tentaram uma colocação no mercado
de trabalho. Sem sucesso. E esse nem é o levantamento tão abrangente, como o
que se baseia na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua,
que visita mais de 3,5 mil municípios em todo o país.
Seria
perda de tempo tentar explicar a esses milhares de pais e mães que eles ficarão
sem o salário com que sustentam suas famílias, porque a política econômica
implantada pelo governo nos últimos seis anos, baseada no incentivo ao consumo,
no intervencionismo na economia e no gasto público, não deu certo. Tampouco será
fácil informar ao homem do povo que todo o mal que seria praticado pela
oposição, se vencedora, tem, agora, que ser feito pelo próprio governo.
Incompreensão
de uns, impaciência de outros. O ministro das Cidades, Gilberto Kassab
(PSD-SP), sentiu na própria pele, na quinta-feira, em Salvador, o quanto
empreendedores, mesmo os que vinham se beneficiando com programas do governo
federal nos últimos anos, estão indispostos a aceitar desculpas esfarrapadas.
Não entendem por que o governo não reagiu — em vez de varrer para debaixo
do tapete eleitoral — os sinais de desaceleração da economia, que já eram
claros em 2014.
O
ministro foi vaiado duas vezes por cerca de mil empresários na abertura do
Encontro Nacional da Indústria da Construção. A primeira foi quando disse que a
crise está relacionada à China. A segunda, quando disse que os erros de gestão
do governo ocorreram em um passado distante. Tentativas como essa de se manter
de costas para a realidade só aumentam a desconfiança no governo, pois revelam
despreparo para enfrentar a situação ou, pior ainda, falta de interesse em
buscar soluções.
Fonte: “Visão” do Correio Braziliense – Foto/Ilustração:
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