É preocupante ouvir a presidente da República expor
ao plenário da Organização das Nações Unidas (ONU) um diagnóstico sobre a
situação da economia brasileira, desconhecendo a velocidade das informações no
mundo e a capacidade de análise de que é dotada a maioria dos chefes e
ministros de Estado presentes à abertura da Assembleia Geral da entidade, na
segunda-feira em Nova York. “O Brasil não tem problemas estruturais graves,
nossos problemas são conjunturais e, diante dessa situação, estamos
reequilibrando o Orçamento e assumimos uma forte redução de nossas despesas,
gastos de custeio e parte do investimento”, disse Dilma Rousseff.
Antes, ela repetiu a surrada versão oficial das
razões da crise pela qual passa o país, como se não soubesse que praticamente
todos os bancos do mundo e assessorias dos governos mais importantes têm acesso
aos relatórios do Fundo Monetário Internacional e das grandes agências de risco
de crédito. “A lenta recuperação da economia mundial e o fim do superciclo das
commodities incidiram negativamente sobre nosso crescimento. A desvalorização
cambial e as pressões recessivas produziram inflação e forte queda da
arrecadação, levando a restrições nas contas públicas”, insistiu a presidente.
Ao público interno, ou seja, nós, os brasileiros,
que estamos pagando caro pelos erros de política econômica e das trapalhadas na
gestão fiscal de seu primeiro mandato, a repetição dessa ladainha descolada da
realidade já não causa espécie. Mas nos deixam mal pelo menos duas inevitáveis
interpretações. Uma é a má impressão que o discurso — ditado pelo marketing
político e não pela verdade dos fatos — pode causar naquelas autoridades e,
principalmente, nos gestores de carteiras de investimentos internacionais de
que tanto precisamos. A outra é a certeza de que o essencial não será
enfrentado e, com ou sem cortes e aumento de impostos, os problemas vão reaparecer
logo ali na frente.
Não é possível ter certeza se a presidente e a
equipe palaciana ainda não entenderam que temos, sim, problemas estruturais, ou
se, simplesmente, não estão interessados em enfrentá-los. É certo que a atual
fase aguda da crise foi provocada por conjuntural excesso de gastos nos últimos
anos, principalmente no ano eleitoral de 2014. Mas também é certo que a enorme
dificuldade de reequilibrar o Orçamento (missão ainda longe de ser cumprida) se
deve a grave problema estrutural no campo fiscal.
Especialistas em contas públicas desvinculados do
governo informam que os gastos obrigatórios com a Previdência Social e com a
folha dos funcionários consomem nada menos do que 75% das despesas da União. E
a distorção tem crescimento vegetativo que, dentro de alguns anos, tornará
totalmente inviável a realização de investimentos, a não ser pela via do
endividamento. Estão aí duas reformas estruturais urgentes. A reforma
consequente e madura da Previdência e a revisão sem viés partidário ou eleitoral
do tamanho (e do custo) do Estado brasileiro. Pelo visto e pelo dito, não será
sob o atual governo que o Brasil vai se orgulhar de ter dado esse passo rumo ao
futuro.
Fonte: “Visão do Correio
Braziliense – Foto/Ilustração: Blog/Google