O Brasil é, desde quinta-feira à noite, um destino
desaconselhável, perigoso para os capitais do mundo. As trapalhadas do governo
Dilma Rousseff — muito mais do que qualquer influência internacional —, tanto
na condução equivocada da economia, quanto na tumultuada convivência com os
aliados políticos no Congresso Nacional, acabaram levando o país a receber o
diploma de lixo (junk) aos olhos dos investidores internacionais.
Sete anos
depois de elevar o Brasil à condição de grau de investimento, a Standard &
Poor’s (S&P), principal agência de risco de crédito internacional, rebaixou
o rating soberano do país, colocando-o entre os de países considerados como
temeridade, isto é, como aplicação de risco. Pior: manteve a nota brasileira
sob viés negativo, ou seja, a S&P não vê qualquer sinal de recuperação no
horizonte.
Com isso,
a agência deu por encerrado, antes do previsto, o benefício da dúvida que havia
concedido ao Brasil, desde que o economista Joaquim Levy, um ortodoxo
pós-graduado na respeitada escola de Chicago, foi colocado à frente da equipe
econômica do segundo governo Dilma. A agência, segundo os próprios critérios,
já deveria ter rebaixado o Brasil, depois que o governo fechou 2014 com deficit
fiscal, dívida em elevação, recuo na atividade econômica e, em vez de
demonstrar a intenção de reverter essa situação, sinalizava com gasto público
ainda mais crescente.
A S&P
foi clara: ao enviar proposta orçamentária ao Congresso com rombo fiscal de R$
30,5 bilhões (0,5% do PIB) para 2016, o governo atestou sua incapacidade de
devolver racionalidade à gestão das contas públicas. E constatou ser essa
incapacidade reforçada pela inépcia do Planalto de manter diálogo minimamente
produtivo com um Congresso indisposto a lhe dar ouvidos. E, como bem lembrou a
revista britânica The Economist, o governo Dilma depende de um Parlamento
amotinado para destravar nada menos do que 90% das despesas obrigatórias.
Tem razão
a revista, ao lembrar que boa parte das propostas do ministro Levy, “incluindo
modestos cortes em gastos sociais, foram enfraquecidas” pelos parlamentares,
que, além disso, têm rechaçado de pronto todas as sondagens do governo em busca
de apoio para aumentar impostos. Ou seja, sobram motivos para a S&P manter
o viés de mais rebaixamento, “porque há risco de deterioração da situação
atual.”
O próprio
Levy reconheceu, em entrevista, que a decisão da S&P foi fortemente
influenciada pela análise da situação política do país, já que ela pode impedir
o alcance dos objetivos propostos de ajuste fiscal. O ministro cumpriu seu
papel de vender esperança de que, agora, com o rebaixamento, haja boa vontade
no Congresso.
Ele
certamente ainda tinha conhecimento do que o ex-presidente Lula, principal
líder do PT, o partido do governo, dissera horas antes, a respeito do rebaixamento.
“Isso não significa nada. Significa apenas que a gente não pode fazer o que
eles querem. A gente tem que fazer o que a gente quer”, afirmou Lula, mantendo
a despudorada estratégia de dizer o que melhor lhe convém a cada momento. Ele
desmente o que dissera em 2008, quando a S&P concedeu o investment grade ao
Brasil e tampouco se importa se isso atira contra a reconstrução da
credibilidade do país. Com políticos assim, a S&P pode concluir que
corrige, agora, erro que cometeu há sete anos.
Fonte: “Visão” do Correio Braziliense – Foto: Ilustração
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