O noticiário de 2015 apagou qualquer sombra de dúvida
porventura existente sobre o risco de não traçar o futuro. Avesso a
planejamento, o Brasil reage mais do que age. Fica sujeito aos caprichos de
ventos que sopram interna ou externamente. Soluções erráticas, apresentadas
hoje e retiradas amanhã, dão provas da falta de rumo cujo resultado o Gato,
personagem de Alice no país das maravilhas, tão bem sintetizou: “Para quem não
sabe aonde vai, qualquer caminho serve”.
Eis a
principal razão por que o país afunda numa das mais dramáticas crises da
história recente. De improvisação em improvisação, de erro em erro, chegou-se
ao inimaginável. Mesmo consciente do perigo que o ato representava, a
presidente Dilma Rousseff encaminhou ao Congresso Nacional o projeto da Lei
Orçamentária com deficit de R$ 30,5 bilhões. Foi a senha. A Standard &
Poor’s cassou o grau de investimento do país.
À crise
econômica alia-se a política. A falta de credibilidade do governo contagia os
setores produtivos, que adiam investimentos à espera de ambiente menos
tormentoso. Some-se a isso o lamaçal de corrupção desvendado pela Operação
Lava-Jato, que respinga no Executivo, no Legislativo, em empresas públicas e
privadas. Daí o sentimento de decepção, desesperança e revolta que impera na
sociedade e se reflete nas pesquisas de opinião.
Nesse
cenário, as palavras do comandante do Exército ganham força e dão alento.
Mostram que o país conta com setores organizados que têm visão estratégica
indispensável para o avanço nacional. Em entrevista exclusiva ao Correio
Braziliense de domingo, Eduardo Villas Bôas analisou segurança, educação,
manifestações populares, redes sociais e, sobretudo, as consequências do corte
orçamentário que atingiu a instituição.
Chama a
atenção não só para a repercussão nos rendimentos das tropas, mas,
principalmente, para retrocesso em projetos estratégicos para o Brasil. Entre
eles, a vigilância das fronteiras. São 17 mil quilômetros que, desguarnecidos,
dão passagem a drogas e armas. Trata-se de problema sério cujos efeitos nenhuma
autoridade pode ignorar.
Segundo consumidor
de entorpecentes do mundo, o Brasil, de acordo com Villas Bôas, está na
iminência de dar um passo à frente — tornar-se produtor de coca. Não só. Além
das fronteiras, a defesa cibernética acendeu a luz vermelha. Na Copa do Mundo,
sofremos mais de 700 ataques diretos. O Exército espera volume bem maior nas
Olimpíadas.
Se houver
interrupção no processo de aperfeiçoamento da área que se moderniza à
velocidade da luz, ninguém pode assegurar o sucesso da proteção. É preocupante.
Embora escasso, há tempo de evitar que a imagem do Brasil seja manchada mundo
afora. É hora de agir.
Fonte: “Visão” do Correio Braziliense – Foto/Ilustração: Google/Blog