O acordo em negociação entre emissários de Dilma
Rousseff e o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, por mais
escandaloso que pareça, é mais um exemplo de que a política brasileira segue
circunstâncias, e não princípios. Eduardo Cunha jura não haver trégua nem
guerra com o Planalto, mas lamenta que o maior escândalo de corrupção do mundo
ocorra em um governo brasileiro. Essa alternância de ataques públicos e
propostas indecorosas na alcova conduz-nos à conclusão de que, no atual
momento, não há situação nem oposição no Brasil. O que existe é junção de
interesses, tão somente. Curiosamente, Cunha tomou emprestadas ontem as
palavras recorrentes utilizadas por Dilma: disse que foi eleito de forma
legítima, inexistindo a possibilidade de ter o mandato abreviado. Seria
discurso combinado?
Independentemente da retórica brasiliense, os
próximos capítulos da novela do impeachment no Congresso e do destino de
Eduardo Cunha na presidência da Câmara serão definidos mais pelos
desdobramentos da Operação Lava-Jato na Justiça e menos pelas conversas não
republicanas de Brasília. Há meses assistimos a um espetáculo indicado para
quem tem estômago forte: a cada decisão do juiz Sérgio Moro, com implicações
mais profundas entre os poderosos do país, os políticos buscam desesperadamente
um arranjo para salvar o pescoço. É o abraço dos afogados em meio ao maremoto
cujo epicentro está em Curitiba.
Nota-se, mais uma vez, o claro embate entre a lei e
a política. O julgamento do mensalão foi considerado um marco – para os mais
realistas, até um ponto fora da curva –, um exemplo da supremacia da Justiça
sobre o pragmatismo de Brasília. Mas o épico no plenário do Supremo Tribunal
Federal foi insuficiente, ao menos na ótica do cidadão comum, para diminuir a
certeza de que as práticas políticas pouco se alteraram. Reeleita com a
promessa de construir um novo governo, Dilma Rousseff não apenas reproduz a
conhecida barganha de cargos na Esplanada por votos no Congresso – drama comum
a presidentes, como confidenciou recentemente Fernando Henrique Cardoso –, como
também está longe de ser livre de novas crises e escândalos. Se a presidente
tem dificuldade em chancelar o trabalho do seu ministro mais importante –
Joaquim Levy – como garantir lisura de gente que desembarcou apenas por
arranjos partidários? E como assegurar a vitória no Congresso em favor do
segundo mandato, apesar de todos os anéis e ministérios entregues? Hoje, só
existe uma palavra de ordem em Brasília: sobreviver.
Por: Carlos Alexandre – Correio Braziliense – Foto/Ilustração: Blog-Google