Por: Carlos Chagas
Comentários
feitos pelo comandante do Exército foram tão ou mais importantes do que as
liminares expedidas pelo Supremo Tribunal Federal para limitar a aventura do
deputado Eduardo Cunha em torno do impeachment da presidente Dilma. O general
Villasboas falou a um grupo de tenentes da reserva, através de
videoconferência, na sexta-feira. Respondendo a diversas perguntas, reconheceu
que a crise é política, econômica e moral, mas jamais institucional. Há, no
entanto, para ele, o risco de que se transforme em crise social, que diz
respeito às forças armadas.
Traduzindo:
se houver baderna generalizada, invasões de propriedades públicas e privadas em
ritmo preocupante, ataques à autoridade constituída, violência e
desobediência civil, os soldados irão para a rua. Claro que, conforme a
Constituição, a pedido de um dos três poderes da União, para garantir a lei e a
ordem.
Significa
o quê essa advertência? Primeiro, que os militares encontram-se perfeitamente
afinados com a democracia. Prontos para assegurá-la, se necessário. As
instituições estão funcionando, disse o general, dando como exemplo a decisão
do Tribunal de Contas da União, ao rejeitar as contas da presidente Dilma em
2014.
O
problema é que arremedos da crise social já aconteceram, há dois anos.
Depredação de instalações do metrô, de agencias bancárias, do comércio e até as
fachadas do Congresso e do ministério das Relações Exteriores. Não havia,
ainda, as crises política e econômica, no grau atual, mas, mesmo assim, grupos
específicos entregaram-se a excessos. Felizmente, foram espasmos sem grandes
consequências, e faz algum tempo que não se repetem. Hoje, o povo vai para a
rua, mas em protestos ordeiros e pacíficos. As forças armadas
têm colaborado com o poder civil, em especial nas favelas do Rio. Inexiste a
menor indicação de que pretendam repetir o passado cada vez mais longínquo.
CRISE SOCIAL
Mesmo
assim… Mesmo assim, crescem os sinais da crise social, com a desumana prática
das demissões em massa, promovida pelos mesmos de sempre, estimulando movimentos
grevistas em ritmo crescente, sob as vistas de um governo incompetente. Aflora
um perigo: despertaria sentimentos variados a presença militar para evitar a
baderna, vale repetir a Constituição, “a pedido de um dos três poderes”.
Muita gente exortaria as forças armadas a prosseguir a marcha, ocupando o
poder e alegando ser para evitar sua deterioração. No extremo oposto,
grupos que em idos anteriores mobilizaram-se para enfrentar a ditadura poderiam
confundir as situações e precipitar-se num confronto injusto.
O
comandante do Exército falou o que podia e devia. Talvez venha a ser mal
interpretado, não faltando as cassandras de lá e de cá para distorcer
suas palavras.
INICIATIVA POSITIVA
Nem só
das tricas e futricas do deputado Eduardo Cunha vive a Câmara. Esta semana foi
rejeitada a medida provisória que autorizava as empresas a reduzir em 30% o
salário dos trabalhadores, diminuindo também a jornada de trabalho.
Tirada do saco de maldades da equipe econômica a
pretexto de evitar demissões, a iniciativa atropela a
Consolidação das Leis do Trabalho, sobrepondo o “acordado” pelo
“julgado”. Qual o patrão que deixaria de colocar o empregado diante da
pérfida opção entre aceitar a redução ou ser mandado embora?
A
medida provisória foi derrotada contra o voto da bancada do PT, destacando-se o
Vicentinho, ex-presidente da CUT, que para agradar o governo, pregou sua
aprovação. Felizmente, quebraram a cara.
CHARGE DO ALPINO
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