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#CULTURA » Conflito agrava crise na Escola de Música de Brasília (Professores e o diretor da instituição não se entendem)

Welder Rodrigues (E), Denise Tavares e Davon de Souza denunciam problemas de gestão na escola.

Os problemas na Escola de Música ultrapassam as dificuldades estruturais e financeiras. Desde o começo de 2014, os professores e o diretor da instituição não se entendem. Secretaria de Educação criou grupo de trabalho para analisar a situação

Em meio à mais amarga crise da história, a Escola de Música de Brasília (EBM) enfrenta um problema que vai além da dificuldade financeira, estrutural e instrumental. Nos bastidores, um embate entre os professores e a direção tem causado mal-estar interno. O conflito envolve a enturmação de alunos — unir estudantes do mesmo nível em turmas coletivas —; a suspensão do projeto artístico pedagógico; a estruturação de aula do corpo docente e até a folha de ponto. De um lado, educadores alegam intransigência pedagógica. De outro, o diretor da escola, maestro Ayrton Pisco, garante que não há confronto, mas o fim da liberalidade que existia quando a instituição era ligada ao gabinete da Secretaria de Educação. Em 2012, ela passou a fazer parte da Coordenação de Ensino Profissionalizante e da Coordenação Regional de Ensino do Plano Piloto e Cruzeiro.

O clima de hostilidade tem prejudicado alunos e o bom relacionamento entre os professores e a gestão. Desde 12 de agosto, estudantes dos níveis básico 1 e técnico 1 que tinham aulas individuais passaram a aprender em exposições coletivas, com grupos de até quatro pessoas. Educadores denunciam a falta de estrutura das salas, a ausência de isolamento acústico e a indisponibilidade de equipamentos. O professor de flauta transversal Davon de Souza explicou que aulas de canto e de instrumento eram individualizadas. “Com a enturmação, um senhor de 60 anos pode ter aula com uma criança de 12. Além disso, não há infraestrutura nem trabalho acústico para isso. Fica inviável todos tocarem ao mesmo tempo.”


O diretor, Ayrton Pisco, defende: fim da liberalidade

Segundo ele, há 11 flautas na escola, mas apenas duas funcionam. Uma, embora não esteja em boas condições, ainda é aproveitada. Outras oito estão estragadas. “Faltam instrumentos de forma geral e não há equipamentos disponível para os alunos no mesmo horário. A manutenção dos instrumentos é feita pelos professores. O valor da manutenção de uma flauta, por exemplo, varia de R$ 500 a R$ 800.”

Para a professora de canto erudito Denise Tavares, a aula coletiva poderia ser um complemento da atividade individualizada. “Não enxergamos uma melhora pedagógica; pelo contrário, uma diminuição na qualidade de ensino. Temos uma professora que trabalha com a metodologia suzuki nas aulas de violino indicada para crianças de 3 a 6 anos. O método não se adequa à Escola de Música, porque esse é um ensino de musicalização e não de instrumentos, como é feito na instituição.”

Denise ressaltou, ainda, que 150 alunos estão sem aula de teoria desde que houve a enturmação nas aulas instrumentais. “Salas que tinham 15 alunos passaram a ter 45 na parte de instrumento. Ao todo, geraram mais duas turmas de aula teórica, mas não há professor nem sala”, alegou. Também professor de flauta transversal, Welder Rodrigues contou que os educadores cumprem 40 horas semanais. Do total, oito delas precisam ser reservadas à coordenação e as 32 horas restantes em sala de aula. “Os horários eram divididos conforme a especificidade dos alunos. Fazíamos atendimentos das 12h às 14h e das 18h às 19h. A direção, porém, acabou com isso, alegando leis trabalhistas de escola regular. Mas não somos iguais a outras instituições de ensino da rede pública.”

Aluno de flauta transversal da escola desde 2011, Herberth Moura, 26 anos, reclamou que os professores estão presos a uma metodologia engessada. “Não temos mais na escola um grande grupo que funcione. Há um desnivelamento completo. Nem sequer tivemos audição, por falta de coordenação. Essa realidade é muito dura e difícil.”

Mais impasse
Para piorar a insatisfação dos docentes, a direção estipulou a assinatura de ponto diária pelos professores desde o início do ano. Diretor da escola desde o começo de 2014, o maestro Ayrton Pisco justificou que o controle na folha esbarrou na situação de liberdade que acontecia no passado. “Eu quero ser o gestor que gostaria de ver em cada órgão público. Naturalmente, isso causa mal-estar em alguns setores que gostam de estar na zona de conforto”, avaliou. “O ponto precisa ser assinado todos os dias, e os professores têm de estar aqui no dia que o preenchem.”

Pisco garantiu, ainda, que a prática de aula de instrumento para mais de um aluno sempre aconteceu. Segundo ele, o conflito é em razão de, antes, existirem turmas de dois, três, quatro e cinco estudantes. Inclusive, professores davam aula para um único aluno. “Havia turma com um aluno e outra com cinco tocando o mesmo instrumento. O que fizemos foi estabelecer uma regra para todo mundo. O que não é possível é que cada professor escolha sua regra, quando quiser e como quiser, porque essa é a tradição da escola”, disse.O projeto artístico pedagógico também está suspenso. O diretor esclareceu que cada professor ganhava 80 horas por semestre para implementar um trabalho dentro do projeto, mas a atividade está temporariamente parada pela Secretaria de Educação desde o início do ano, segundo ele, para uma melhor avaliação.

Por e-mail, a Secretaria de Educação disse que criou o Grupo de Trabalho Escola de Música de Brasília, por meio da Portaria 89, publicada no Diário Oficial do DF, de 22 de junho, para averiguar todos os problemas relacionados à instituição. “O resultado do trabalho será um relatório, contendo avaliação da situação da escola e soluções possíveis”, informou a nota.

Participe: Assine o abaixo-assinado


Fonte: Isa Stacciarini – Foto: Ana Rayssa – Esp.CB/D.A.Press

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