O governador Rodrigo Rollemberg (PSB) anunciou na
terça-feira a nova composição do secretariado. Um misto de necessidade
financeira e política, por assim dizer. A crise que vive o Distrito Federal — e
quase todos os estados brasileiros — se mostrou muito mais voraz. A Lei de
Responsabilidade Fiscal bateu à porta do Buriti e forçou cortes emergenciais. A
entrada de dinheiro é fundamental para que as contas fechem. Tudo isso, de uma
forma ou de outra, passa não só por decisões fortes no que se refere ao GDF; a
Câmara Legislativa tem papel-chave na questão. Entra, então, a quebra entre a
teoria e a prática. Durante a campanha, o socialista afirmou que não trocaria
apoio da Casa por cargos e favores. No poder, o discurso de uma nova política
caiu por terra.
Desde antes de assumir, Rollemberg viu que o
trabalho seria bem mais difícil. A equipe de transição apontou o tamanho do
rombo que o ex-governador Agnelo Queiroz tinha deixado — mesmo que o petista
negue peremptoriamente as dívidas. Sabia-se com muita antecedência que havia
reajustes a serem pagos em setembro. E, mesmo assim, as medidas vieram a
conta-gotas, com pequenos pacotes. Vários especialistas entrevistados pelo
Correio neste período indicaram que a pancada deveria ter sido dada logo no
início, com todas as más notícias de uma vez só. Mas o que se viu foram
costuras políticas, brigas de bastidores e quedas no primeiro escalão do
governo.
Como diria o saudoso Ulysses Guimarães, “em
política, até a raiva é combinada”. A ruptura de Celina Leão (PDT), presidente
da CLDF, com o GDF é um exemplo claro. Ela e Rollemberg seguem conversando e
acertando ideias, em público ou não. Claro, tudo em nome da governabilidade do
Distrito Federal. Mas é o partido de Celina que vai ficar com a supersecretaria
que surgiu após a reforma.
Outra promessa que não saiu do papel foram as
eleições diretas para administrações regionais. Não por ser um fato impossível,
mas simplesmente porque elas sempre serviram de moeda de troca nas relações
entre o Executivo e o Legislativo locais. Isso não significa que a tentativa de
fazer uma nova política foi inválida. Essa luta nunca deve ser deixada de lado.
Mas são necessários mais do que quatro anos para que ela seja realizada. E mais
uma vez, Ulysses Guimarães merece ser citado. Afinal, a política não deve ser o
“ofício da bagatela, a pragmática da ninharia. Quem cuida de coisas pequenas
acaba anão.”
Por: Leonardo Meireles – Correio Braziliense – Foto/Ilustração: Blog-Google