A indústria brasileira agoniza. Sem uma política de
governo estruturante, a matriz industrial do Brasil perde competitividade e
compromete um setor que está no topo da cadeia produtiva de qualquer nação que
busca a soberania plena com destaque no cenário mundial. A indústria demanda
insumos de todos os setores e oferece produto para todos eles aquecendo o
mercado, gerando emprego e contribuindo para a estabilidade do crescimento
econômico.
Qualquer
que seja o ponto de vista adotado — participação no produto interno bruto
(PIB), percentual de empregos criados, crescimento do valor da transformação
industrial (VTI), comparação com o desempenho mundial —, o Brasil está se
desindustrializando. Esse cenário sombrio e real motivou a Fundação João
Mangabeira a apresentar no segundo boletim Conjuntura Brasil, uma radiografia
do processo industrial no país, e concluímos que a desindustrialização é o
principal fator de difusão da recessão econômica que se impõe neste momento.
Em meados
da década de 1980, a indústria representava 36% do nosso PIB. Hoje, representa
14% e se compara ao percentual da primeira metade da década de 1940. A
indústria de transformação, a de alta intensidade tecnológica, de média
intensidade e de baixa intensidade, todas sofreram reduções drásticas
comprometendo nossa competividade e trazendo reflexos negativos. A queda é
generalizada atingindo 13 das 15 regiões pesquisadas pelo IBGE.
Nossa
indústria, que já foi superavitária na relação com o mundo, passou a ter
impacto negativo na balança comercial. É nítido o descompasso com os padrões
globais: entre 1986 e 2014, a participação da indústria brasileira na produção
industrial mundial caiu de 2,5% para 1,6%. Se considerarmos apenas o primeiro
semestre de 2015, levamos, como vimos, um tombo de 8,3%, se comparado com o
mesmo período do ano anterior, enquanto a produção industrial aumentava 2,8%,
na média do mundo.
Há muito
se sabe que um prolongado período de valorização cambial, em um contexto de
abertura comercial e financeira, anula os possíveis efeitos das políticas
industriais e tem impacto negativo profundo sobre a estrutura produtiva do
país. A cadeia dos setores intensivos em tecnologia e capital perde densidade.
A indústria, como um todo, tende a se concentrar mais na finalização de
produtos, pois nesses casos os componentes importados são quase iguais ao
produto final.
Só se
mantêm competitivos os setores em que o país tem enorme vantagem comparativa,
ou seja, basicamente os produtores de bens primários e de algumas commodities
(o setor de serviços é preservado porque, em geral, não sofre concorrência
externa). A pauta de exportações regride em direção aos bens primários. Hoje,
dos 20 produtos mais importantes, que correspondem a mais de 50% das nossas
vendas externas, apenas dois têm alta densidade tecnológica. A relação entre
desindustrialização e sobrevalorização cambial tem suporte empírico no Brasil
recente. Com mais esse documento, a Fundação João Mangabeira cumpre sua função
de contribuir para o debate de políticas públicas que orientam nossos
parlamentares e toda a sociedade brasileira na construção de caminhos que
tragam mais qualidade de vida à população.
Por: Renato Casagrande, ex-governador
do Espírito Santo, é presidente da Fundação João Mangabeira – Fonte: Correio Braziliense – Foto/Ilustração:
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