Há aqueles que relativizam a corrupção. Se for do
PT, é revolucionária. Faria parte de um processo sem o qual seria impossível
garantir apoio de parte da direita, da esquerda fisiológica e da elite
endinheirada ao governo e ao projeto redentor do partido. O mensalão, ou o
pouco da roubalheira organizada que emergiu com o escândalo, mostra que a
estratégia é essa desde o início. Estão aí os dutos abertos do petrolão para
comprovar. Nos dias atuais, o “rouba, mas distribui” destronou o “rouba, mas
faz” e aprofundou o assalto aos cofres públicos no país. Educação que é bom, ó!
Hoje, os pixulecos atribuídos a Maluf, PC Farias e outros parecem coisa
de “batedores de carteira” perto da quadrilha montada para saquear a
Petrobras. Há fortes indícios de que o dinheiro roubado da empresa foi
lavado como se fosse doação na Justiça Eleitoral. Parte da ladroagem teria
ajudado a eleger “bons companheiros”. É disso que trata ação no TSE que pode
levar à cassação de Dilma e Temer. Antigamente, quando descobertos, os ladrões
fingiam vergonha de ter o nome estampado nos jornais. Nos dias atuais, os
bandidos são saudados como “guerreiros” do povo brasileiro. Na internet,
direitistas históricos posam de lulistas desde criancinhas, assassinam
reputações de quem ousa denunciar os crimes — e recebem “likes” de
“esquerdistas”.
Chega a ser inacreditável. Mas, do
mensalão, o esquema evoluiu para um grau de sofisticação e de desvio de
recursos públicos incalculáveis. Parte da Operação Lava-Jato — sobretudo a
comandada pelo juiz Sérgio Moro, Polícia Federal e uma força tarefa do
Ministério Público — já identificou que o modelo de sangria do petrolão foi
replicado em outros setores da administração pública. Existe a suspeita e
também indícios de que há enes CPMFs (R$ 32 bilhões) escondidas em contas
secretas mundo afora, além da Suíça.
Irônico é que uma peça menor dessa gigantesca engrenagem foi escolhida
para pagar o pato por todos os vilões: Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da
Câmara e inimigo número 1 da presidente Dilma. Sim, tudo indica que ele
embolsou propina do petrolão e deve responder pelos crimes. Apesar de até
petistas de carteirinha saberem que ele não é o chefe da quadrilha, a
implacável cassada do procurador-geral da República ao Cunha Malvadão pode
virar a salvação do chefe e dos principais culpados pelo assalto do século. Tão
grave quanto isso é a negociata que ocorre nos subterrâneos da República para
salvar tanto o mandato de Cunha quanto livrar Dilma de um possível processo de
impeachment. O Brasil não merece. Ou merece?
Por: Plácido Fernandes Vieira – Correio Braziliense – Foto/Ilustração: Blog/Google