Por meio dos artigos 215 e 216 da Constituição
Federal de 1988, ficou estabelecido, com clareza, a noção de bem cultural
imaterial como sendo as práticas e os domínios da vida social que se manifestam
em saberes, ofícios e modos de fazer; celebrações; formas de expressão cênicas,
plásticas, musicais ou lúdicas. Essa mesma definição está de acordo com a
convenção da Unesco para a salvaguarda do patrimônio cultural imaterial,
ratificada pelo Brasil em 1º de março de 2006.
Importante ressaltar que o patrimônio imaterial foi
entendido como aquele que é transmitido de geração em geração e,
constantemente, recriado e apropriado por indivíduos e grupos sociais como
importantes elementos de sua identidade. É exatamente nessa categoria que se
enquadra a Escola de Música de Brasília, fundada em 1974 pelo maestro Levino
Alcântara e berço de grandes talentos da capital e do Brasil.
Patrimônio de Brasília, a EMB reúne músicos de
várias tendências, que se desdobram em inúmeros outros grupos de instrumentistas
espalhados pela cidade, tocando do clássico à MPB, num amálgama de gêneros sem
preconceitos, onde desponta o talento e o virtuosismo dos artistas,
reconhecidos aqui e no exterior. Depois de mais de quatro décadas formando
músicos, a EMB, como a maioria das instituições públicas da capital, vem
experimentando processo de esvaziamento lento e contínuo e que pode, para
muitos, culminar no seu fechamento.
Essa morte anunciada, na qual governos passados
tiveram grande parcela de responsabilidade, teve início com o desmantelamento
da Fundação Educacional nos anos 1990, dentro da proposta administrativa que se
abria. Os desacertos sobre a competência de gestão e mesmo as discórdias sobre
a real importância, dentro do novo organograma de ensino da capital, empurraram
a EMB para um beco sem saída das instituições de caráter acessório, cujo
funcionamento, ou não, não acarretaria grande perda para o regular.
Vista a partir daí, começou a lenta descida rumo à
decadência. Ao contrário do que ocorre nos países civilizados, onde a sociedade
toma para si a manutenção de teatros e sítios de cultura, por meio da ação de
benfeitores e padrinhos da arte, no Brasil das altas taxas de impostos, tudo
fica à mercê de governos.
Quando ocorre, como agora, a falência do
Estado, fulminado pela incompetência e corrupção, os primeiros levados ao
sacrifício, curiosamente, são os artistas e os centros de cultura, dentro da
visão aparentemente simplista e ignorante de que arte não enche barriga.
Aparentemente, porque a sociedade brasiliense começa a desconfiar do interesse
do setor imobiliário na área.
***
A frase que foi pronunciada:
“Estou pensando em criar um
vergonhódromo para políticos sem-vergonha que, ao verem a chance de chegar ao
poder, esquecem os compromissos com o povo.”
(Leonel Brizola)
Por: Circe Cunha – Coluna “Visto,
lido e ouvido” – Ari Cunha – Correio Braziliense – Foto/Ilustração: Blog -
Google - Arquivo Público do DF
Deus meu!, chega de decadência cultural, de jogar fora o que é bom! O que é que está acontecendo com nosso país??? O caso da Escola de Música é sintoma de doença grave.
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