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#SEGURANÇA » Drones e lasers não são brinquedos

O uso inadequado dos dois equipamentos pode causar até a queda de um avião. No caso do feixe de luz, órgão registrou 45 casos próximos ao aeroporto em 2014. Profissional critica a utilização de aeronaves não pilotadas por pessoas sem habilidade

Fausto Dalledone observa todas as regras para poder utilizar profissionalmente o aparelho

Apontar raios laser para aviões e circular com drones próximo ao Aeroporto Internacional de Brasília Juscelino Kubitschek são crimes e podem causar uma tragédia em casos extremos. As interferências chegam a atrapalhar o piloto, principalmente nos procedimentos mais críticos, como pouso e decolagem. O feixe de luz dificulta a visão do comandante e pode provocar cegueira instantânea e queimaduras na retina. No caso do drone, se o objeto entrar em contato com a aeronave, o efeito é semelhante à colisão com um pássaro. O motor corre o risco de parar de funcionar, caso a turbina seja afetada. A lei prevê pena de 2 a 5 anos de prisão para quem dificulta ou impede a circulação de transportes aéreos ou marítimos.

Em todo o ano passado, o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipe) da Força Aérea Brasileira (FAB) registrou 45 ocorrências com laser próximo ao aeroporto. Em 38 casos, o piloto estava em procedimento de pouso e em sete situações se preparava para a decolagem. De janeiro até o último dia de setembro deste ano, foram 14 registros. Ao todo, nove em processo de descida. O Cenipa não contabilizou nenhuma ocorrência com drones até agora.

Segundo o oficial de investigação em segurança de voo da Divisão Operacional do Cenipa, major aviador Murillo Boery, o pouso e a decolagem são dois dos momentos que mais exigem atenção do comandante. “Nesses casos, o laser faz o piloto parar de enxergar em algum momento que pode ser crítico. Em casos extremos de ofuscamento da visão, é possível até a queda da aeronave, em razão de o flash ser muito forte. Em outras situações, o piloto não tem condições de pousar”, explica.

O major ressaltou que, na maioria dos casos, o feixe de luz é usado por crianças como brincadeira. Os de maior potência são os verdes, mas o vermelho também causa dano. “O objeto é comprado por um valor muito baixo, então, acaba sendo usado como brincadeira. A maioria não tem noção do que isso pode causar”, lamenta. O Cenipa trabalha com prevenção e conscientização, além de dados estatísticos. Em 2013, o órgão fez uma campanha para atingir o público infantil por meio de gibis que tratavam dos perigos dos raios. Este ano, o trabalho é alertar as crianças sobre os perigos de aves próximas ao aeroporto.

Até agora, segundo Boery, não foi registrada nenhuma ocorrência com os drones. O piloto e consultor em aviação Marcelo Camargo esclarece que, se o laser pode chegar a situação extrema de cegar o piloto, esse tipo de equipamento oferece risco do motor sugar o objeto. “Nas duas circunstâncias, um avião menor, pilotado por um único comandante, pode cair”, conta. Camargo destaca que os vidros de aviões não blindados podem ser estilhaçados, em caso de choque com o veículo não tripulado.

Regras
Qualquer interferência no tráfego aéreo, seja com drones ou outro tipo de equipamento ou ação, é de responsabilidade do Departamento do Controle do Espaço Aéreo (Decea) da Aeronáutica. Sobre os drones, segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), há duas possibilidades no Brasil para operar o equipamento. Uma delas é o manuseio enquadrado na regulamentação que trata de aeromodelismo, que permite o uso de forma recreativa ou em competições. A outra trata de experimentos para pesquisa e desenvolvimento.

No primeiro caso, os equipamentos devem respeitar a restrição de não operar em zonas de aproximação e decolagem de aeródromos, além de nunca ultrapassar altura superior a 120 metros (400 pés), mantendo o equipamento na visão do piloto. Já para a utilização de operações experimentais é necessária a autorização da Anac. O procedimento resulta em um Certificado de Autorização de Voo Experimental (Cave). Entretanto, tal documento permite apenas voos sobre áreas não densamente povoadas — ou seja, nada de ações em regiões urbanas.

14
Número de ocorrências de laser perto do Aeroporto JK durante os primeiros nove meses deste ano

"Nesses casos, o laser faz o piloto parar de enxergar em algum momento que pode ser crítico. Em casos extremos de ofuscamento da visão, é possível até a queda da aeronave, em razão de o flash ser muito forte” 

(Murillo Boery, oficial de investigação em segurança de voo da Divisão Operacional do Cenipa)



Fonte: Isa Stacciarini – Correio Braziliense – Foto: Minervino Junior/CB/D.A.Press 

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