Se existe uma expressão que pode definir com
exatidão o momento atual vivido pelo governo do Distrito Federal, sem
dúvida é “herança maldita”.
De saída, faltou às equipes de transição do novo
governo uma radiografia completa da situação financeira do DF. A contratação de
auditoria independente, para vasculhar as contas do governo que saia, poderia
ter evitado desgastes futuros como os experimentados agora com a deflagração
geral de movimentos paredistas em diversas áreas da rede pública. Que a
experiência sirva também para a área federal e a transição de governo.
Poucos dias depois da posse, os técnicos do governo
Rodrigo Rollemberg descobriram que a administração passada havia deixado apenas
R$ 64 mil nos cofres. Nem mesmo os auxílios oriundos do Fundo Constitucional,
necessários para os salários de educação, saúde e segurança, foram suficientes
para amenizar um pouco a crise financeira.Os recursos vindos diretamente do
Fundo de Participação dos Estados e dos Municípios também não serviram para
disfarçar o passivo de R$ 5 bilhões nas contas de 2015.
A situação de calamidade nas contas do GDF empurrou a nova gestão para
um beco sem saída do arrocho e do retraimento dos gastos e investimentos. O que
se assistiu, na sequência, foi o aníncio de dezenas de medidas, como o aumento
de ICMS, IPVA, IPTU, extinção de centenas de cargos comissionados, cortes em
investimentos e outras colocadas, obviamente, no bolso do contribuinte.
Como sempre ocorre nos casos de incúria de governos populistas, os
efeitos da herança passada atingem em cheio agora as áreas de educação, saúde e
segurança. É bom que, nos estados, a oposição também prepare a transição com
auditoria antes de assumir qualquer cargo. A eclosão da greve, anunciada há
pouco pelo conjunto de 32 categorias, é, assim, o desdobramento natural da má
gestão dos recursos públicos e do descaso em relação à Lei de Responsabilidade
Fiscal.
Aqui no DF, impotente diante da dimensão dos estragos deixados pela
gestão anterior, sobretudo no que diz respeito aos reajustes nos salários
prometidos no passado, o governo tem nítido estreitamento de manobra. Essa
situação ganha, ainda, um contorno mais dramático quando se sabe do oportunismo
dos dirigentes sindicais, a maioria ainda atrelada aos ideários da CUT, ávidos
em jogar mais gasolina na fogueira
Cercado por servidores, sindicatos e Legislativo local de um lado e,
pela população, de outro lado, resta ao ilhado GDF aguardar que os rebelados
caiam na real e deem uma chance à sociedade afinal de contas, é ela quem paga
pelos serviços públicos e a que mais sofre com o péssimo atendimento e a falta
desses mesmos serviços.
A frase que não foi pronunciada
“Aquele balcão de negócios no Congresso tem origem
nas eleições. O eleitor que acredita receber vantagens quando vende o voto
carrega em si e no ato o início do processo da corrupção.”
(Deputado pensando enquanto decidia não comparecer à sessão para a
votação dos vetos.)
Por: Circe Cunha – Coluna: “Visto,
lido e ouvido” – Ari Cunha – Correio Braziliense – Foto/Ilustração: Blog-Google