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Um tiro no Estatuto do Desarmamento

Em 2013, ou seja, há apenas dois anos, a Câmara dos Deputados tomou para si a missão de reeditar o Estatuto do Desarmamento (Lei nº 10.826, de 2003). Naquela ocasião, o então presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves, fez questão de registrar na apresentação do documento renovado a seguinte observação: “A Câmara dos Deputados se sente corresponsável pela manutenção do espírito do Estatuto do Desarmamento, que ora se reedita, de forma a não permitir que o uso de armas de fogo sem controle coloque em risco a vida de milhares de jovens”.

No documento, vinham impressos ainda os dados do Ministério da Saúde que reforçavam a tese da necessidade de o país possuir um conjunto de leis modernas para regulamentar a posse de armas pelos cidadãos. “A taxa de homicídios no Brasil, dizia o documento, chegou a 20,4 por 100 mil habitantes em 2010 e, na faixa de jovens de 15 a 29 anos, a taxa passa para 44,2, uma das mais altas do mundo. Cerca de 70% dos homicídios são perpetrados por armas de fogo. Ou seja, morrem no Brasil, anualmente, cerca de 27 mil pessoas por ano vítimas de armas de fogo, ou 75 pessoas por dia. Isso significa que, de 1980 a 2010, mais de 500 mil pessoas foram mortas por arma de fogo, das quais mais de 300 mil jovens, que reforçavam a necessidade de o país possuir um conjunto de leis modernas.”

Diante do esforço imenso para que o Brasil desse um passo em direção à civilidade e à vida plena, retirando de circulação mais de 130 mil armas de fogo, soa estranho que pequena bancada formada por apenas 21 deputados, oportunamente chamada de bancada da bala, venha exercendo forte pressão sobre a extemporânea Comissão Especial da Câmara que prepara novo Estatuto do Desarmamento, no sentido de rasgar tudo o que foi escrito até aqui.

Formado na grande maioria por políticos conservadores oriundos da polícia, alguns adeptos confessos da truculência, da repressão policial e do justiçamento das forças de segurança, o que esses nobres senhores estão propondo, ao estender a posse de armas para parlamentares, é a volta do Oeste selvagem e da barbárie, onde até pequenas discussões são resolvidas a bala. Como lobistas da poderosa indústria bélica, a bancada do atraso quer mesmo é fazer prosperar o negócio das funerárias.

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A frase que não foi pronunciada
“Daria tudo o que ignoro pela metade que não sei!”
(Quem o leitor sugere para parafrasear René Descartes?)

Por: Circe Cunha – Coluna: “Visto, lido e ouvido” – Ari Cunha – Correio Braziliense – Foto/Ilustração: Blog-Google

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