Parece que, a partir desta semana, começamos
a trilhar um bom caminho, quando o assunto é a educação ambiental. Parece! Isso
porque foi aprovada e publicada a Lei nº 972/95, que vai regular e punir todos
aqueles que jogarem lixo nas ruas, praças e calçadas, mesmo que seja minúsculas
guimbas de cigarros “multas para quem jogar lixo na rua deve demorar para virar
realidade e pode ter efeitos limitados”. Pelo menos foi o que as tevês
mostraram por meio de matérias, destacando, inclusive, uma fiscal andando
apressada para pegar um rapaz que teria jogado a guimba do cigarro na calçada.
Por coincidência, grupos de 30 ou 40 pessoas de
Brasília viajaram para a Ásia, exatamente nesta época do ano. Com as
facilidades do WhatsApp, notícias chegam a cada minuto, ilustradas por fotos
tiradas por cada um, por onde passam. Comentários sobre as folhas de outono que
começam a pintar de vários tons de amarelo os parques e jardins, a beleza das
construções, dos prédios, monumentos, esculturas, templos (fotos).
No entanto, tive o capricho de contabilizar todos
os comentários e, o que mais compareceu em meio às verdadeiras reportagens
turísticas foi a limpeza de ruas, praças, jardins, escadarias dos templos, de
tudo. “Não se vê um só pedacinho de papel ou qualquer outra coisa no chão”,
disseram uns. “O que mais me espanta é a limpeza do chão, que deixa a gente com
inveja ao ver tanto zelo e capricho com o meio ambiente por aqui” completam
outros.
Enquanto isso, nesta terra tupiniquim, precisamos
mandar recados para que limpem depósito de lixo em frente à Casa de Apoio da
Abrace, para citar só um episódio de nossa luta inglória pela educação das
pessoas e o cuidado dos órgãos destinados a tal.
Chegamos, então, a uma preocupante conclusão: de
nada adiantará qualquer lei, que sabemos, como em todos os outros casos, cairá
no esquecimento e, como mostrou a tevê, a fiscalização se perderá diante da
impossibilidade de coibir esse comportamento defeituoso do brasileiro, que não
recebeu desde os bancos escolares e até mesmo em casa, com exceções, é claro.
Para isso, basta observar os pátios das escolas
depois da hora do recreio. Sejam elas particulares ou da rede pública. A
filosofia, pelo visto, é deixar sujar para depois limpar, quando deveria ser o
contrário: não sujar.
Antes de aprovar uma lei como essa, deveria ser
baixado um decreto severíssimo punindo, de maneira implacável, as escolas que
não colocassem em seus currículos a educação ambiental, a começar pelas
próprias salas de aula cujas carteiras são rabiscadas e arranhadas com
estiletes (como eu vi num importante colégio de Brasília), e pátios que ficam
imundos depois do intervalo, com copos descartáveis “voando” pelo chão. É daí
que deve partir a lei da preservação ambiental, em parceria com as famílias,
que deveriam, também, ser educadas e chamadas às falas durante as reuniões de
pais e mestres.
Esta frase antológica e antiga, “a educação vem do
berço”, é o que há de mais correto quando o assunto é asseio, limpeza,
cuidados, zelo, preservação. É da escola e da família que deve vir a educação
da criança, mostrando a ela que existem lixeiras para receberem o lixo. As
crianças são diamantes brutos que vêm ao mundo para serem lapidados. E, como
sabemos, o valor daquelas pedras tão lindas, resistentes e brilhantes se baseia
na qualidade e no valor de sua lapidação...
Com as crianças acontece o mesmo. No futuro ela
valerá pela sua lapidação e polimento, que só a família e a escola poderão dar.
Não adiantam leis lá na frente, se não souberam aplicá-las e fazê-las funcionar
“no berço”. E isso se aplica não só no ato de sujar as ruas, como também no
trânsito, no respeito à natureza, aos mais velhos, aos professores, aos
deficientes, aos negros, aos diferentes e aos especiais.
Cá estamos de novo naquele velho e tão cantado
refrão: um país que não ensina regras de cidadania, patriotismo, limites e
respeito ao próximo para suas crianças e jovens; que retirou do currículo
escolar a matéria educação moral e cívica, sob a desculpa ignorante de que “era
coisa de milico na ditadura”, sofre agora e quiçá para sempre com essa falta de
freio, de poder para reverter esse quadro tão sinistro e sem perspectiva de
dias melhores. Lamentável.
Podem vir leis e leis e mais leis, ainda mais como
essa de não jogar lixo nas ruas. Tenho pena dos fiscais, como aquela moça que
foi atrás do rapaz que jogou toco de cigarro na calçada.
Vão apanhar!
Por: Jane Godoy – Coluna 360 Graus
– Correio Braziliense – Foto/Ilustração: Blog – Google