Em algum momento do processo de mudança da capital
do país, o presidente Juscelino Kubitschek afirmou que a transferência do Rio
para Brasília permitiria à classe política mais tranquilidade para tomar
decisões relevantes sobre o destino do país. Felizmente, o vaticínio de JK não
se confirmou.
"Suas excelências não funcionam
com serenidade; só funcionam sob pressão."
Alguns cariocas saudosos ainda batem no refrão de
que se a capital fosse no Rio de Janeiro não ocorreriam tantas falcatruas,
pois, lá, a pressão popular inibiria os trambiques de suas excelências.
Infelizmente, tal teoria não resiste a uma rápida análise dos acontecimentos.
Se isso fosse verdade, jamais teríamos a megabandalheira na Petrobras, sediada
no Rio de Janeiro.
Em Brasília, os despautérios cometidos pelos nobres
parlamentares não têm passado em brancas nuvens. Recentemente, ratos foram
soltos no Congresso durante a CPI da Petrobras, em uma imagem rica de
simbolismo. Houve também uma revoada de notas falsas de dólar sobre a cabeça do
deputado Eduardo Cunha, durante uma entrevista coletiva. Por causa disso, o
presidente da Câmara resolveu instituir uma revista nos funcionários do
parlamento. Mas, em um segundo momento, desistiu da proposta desrazoada.
Da minha parte, gostaria, humildemente, de fazer
algumas sugestões para melhorar a segurança do Congresso. Por exemplo: não
seria talvez mais sensato que o presidente daquela ilibada Casa investisse em
um detector de abuso econômico para evitar o ingresso de deputados e senadores
eleitos com dinheiro de megacorporações, tais como as empreiteiras, os bancos,
as indústrias de produtos alimentícios, o agronegócio, a indústria das armas e
as mineradoras? Tal medida não contribuiria para uma ambicionada desratização
da política?
Também teria ação saneadora um detector de
mentiras. Evitaria que as excelências envolvidas em operações suspeitíssimas
ferissem o decoro da Casa com informações falsas de que não dispõem de contas
em outros países. E, ainda na mesma linha, com certeza, o ambiente parlamentar
ficaria mais saudável se alguém inventasse um detector de achacadores para
localizar aqueles que, empoleirados em partidos de aluguel, vendem e compram
votos indiscriminadamente.
E, finalmente, sugiro a licitação para a compra de
um detector de corruptos, que livrasse de vez o parlamento de quem faz fortuna
de maneira inexplicável, emprega funcionários fantasmas em seus gabinetes,
mantém contas fantasmas em outros países, lava o dinheiro em paraísos fiscais
e, de quebra, desfila uma frota de carrões importados com cascata artificial e
filhote de jacaré, incompatíveis com os ganhos declarados no Imposto de Renda.
São medidas que, à primeira vista, podem parecer
ingênuas. Mas posso garantir ao ilustre presidente da Câmara que, se fossem
levadas a sério, aquela Casa funcionaria de maneira muito mais harmônica e o
ambiente seria muito mais salubre, sem precisar de inúteis chuvas de dólares
falsos ou de desagradáveis infestações de ratos.
Por: Severino Francisco – Correio
Braziliense – Foto/Ilustração: Blog - Google