No Sudoeste, uma faixa com os dizeres "Envenenar animal é crime.
Estamos de olho!" também denuncia a prática silenciosa
Casos de envenenamento de animais parecem cada vez mais frequentes. No
Condomínio Nova Colina I, em Sobradinho, moradores do Conjunto B denunciam que
15 gatos e cachorros foram vítimas desse tipo de crime em menos de sete meses.
A cada dia, as ocorrências só aumentam. E, no Sudoeste, uma faixa com os
dizeres “Envenenar animal é crime. Estamos de olho!” também denuncia a prática
silenciosa.
Em Nova Colina, a vigilante Alzenira Pereira, 45 anos, conta que os
crimes começaram há cerca de um ano e, desde então, acontecem com maior
frequência. “A vítima da vez foi o meu gato. Ele morreu há uma semana.
Encontrei perto dele uma porção de ração espalhada. Há alguns meses, o meu
cachorro também foi envenenado por chumbinho, mas sobreviveu”, relata.
Alzenira diz que a identidade do criminoso ainda não foi confirmada.
“Sei que não podemos apontar ninguém sem provas, mas tem gente aqui que já
falou que odeia animais e que, na oportunidade que tivesse, daria chumbinho. A
rua possui câmeras. Acredito que ajudariam a encontrar o responsável. É
revoltante. Eu quero que parem de matar os bichos. Essa situação não pode
continuar”, desabafa a vigilante.
Mais vítimas
Há três meses, o bulldog francês Lucky, da aposentada Ioneide
Antunes, 58, também foi alvo da crueldade. Ela havia saído de casa por
meio período e, quando voltou, encontrou o animal se debatendo. Nem mesmo o
muro alto foi empecilho para a ação criminosa.
“Por sorte, o atendimento foi rápido e ele foi medicado com
antitóxicos. É um crime absurdo. Um bichinho desses é como se fosse uma
criança. Eles são bonzinhos e não sabem se defender nem veem perigo em
nada. É muita covardia. Dá para ver que esse indivíduo não se sente intimidado
e, se nada for feito, os animais continuarão a morrer”, ressalta.
A história que o aposentado José Judson Correa, 64 anos, conta não é
diferente das demais. Ele relembra que deu banho na cadela Lulu e a
colocou em cima de uma carrocinha para não se sujar, enquanto ele
terminava de guardar os objetos utilizados.
“Em menos de cinco minutos, veio uma criança gritando, dizendo que ela
estava morrendo. Não entendi nada. Quando vi, ela estava em seu último sinal de
vida. Tentei ajudar e dar água, mas nada adiantou. Percebi uma porção de ração
em cima da carrocinha e eu não tinha colocado aquilo ali. Ela foi
envenenada. Nós nos sentimos inseguros e com medo. Esses bichinhos são
como alguém da nossa família. Quem fez isso não pode continuar impune”,
reclama.
Registro não garante solução
Também moradora do condomínio Nova Colina I, a funcionária pública Maria
Aparecida Macedo, 48 anos, aponta que o cachorro de estimação também morreu com
sintomas de envenenamento.
“Não posso acusar ninguém, mas o certo é que o problema está aqui
dentro. Tem alguém exterminado os animais. Não temos segurança. Alguns vizinhos
até fizeram ocorrência na delegacia, mas essa pessoa continua com a
matança”, diz Maria.
Sintomas
Geralmente sob a forma de um granulado cinza escuro ou grafite, o
chumbinho é bastante utilizado como raticida e o efeito é bem rápido: costuma
aparecer de cinco a dez minutos após a ingestão. Os sinais de intoxicação podem
ser vários: salivação (o animal começa a babar), vômitos, diarreia, convulsão,
incoordenação, tremores, falta de ar e hemorragia oral ou nasal, entre outros.
O tratamento para os casos de intoxicação tem bons resultados se feito
logo após o início dos sintomas.
Em caso de morte por envenenamento, o proprietário do animal deve
comparecer à delegacia para registrar um boletim de ocorrência. Apesar
dessa previsão de registro, a redação do Jornal de Brasília entrou em
contato com a Secretaria de Segurança Pública e, segundo a assessoria, o órgão
não dispõe de estatísticas específicas sobre o envenenamento de animais.
Procurada, a 13ª DP (Sobradinho), responsável pela área do condomínio em
questão, também disse não ser possível prestar informações sobre o caso
no momento.
Prisão ao criminoso
O crime de maus-tratos a animais está previsto na Lei de Crimes
Ambientais 9605/98 e estabelece pena de detenção de três
meses a um ano e multa. Esse tempo é aumentado de um sexto a um terço se
ocorre morte. A compra e a venda de chumbinho também são crimes, pois são
proibidas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O dono da
faixa colocada no Sudoeste não foi localizado pelo JBr.
Por: Ingrid Soares – Jornal de Brasília – Foto: Alex Amaral