Acossado pela avalanche de denúncias que, pouco a
pouco, vai colocando o seu nome no centro dos escândalos de corrupção revelados
pelas investigações da Polícia Federal e do Ministério Público, o ex-presidente
Lula acordou e vem correndo atrás do prejuízo.
Em pouco mais de uma semana, Lula conseguiu armar
um segundo pronunciamento, disfarçado em entrevista informal e exclusiva. Como
da primeira vez, o ex-presidente escolheu, a dedo, um entrevistador amigo,
conhecido pelas boas maneiras, cordial e com fama de jamais deixar o
entrevistado em saia justa. Porém, dado o número de acusações que pesa sobre
ele, o seu governo e o atual, conduzido por Dilma Rousseff, do qual é o
principal responsável, o entrevistador não pôde se furtar em colocar as
perguntas que, afinal, todo o país vem fazendo nos últimos anos.
Infelizmente, mais uma vez, chega a ser
constrangedor ter de ouvir a versão de Lula para os fatos que ocorreram no
passado recente. A falta de modéstia contrasta muito com alguém que se diz
oriundo da pobreza.” Duvido que na história deste país tenha havido um
presidente que tenha estabelecido uma relação com a sociedade que eu
estabeleci”, afirmou Lula. Em sua visão paternalista, “o Estado tem que tratar
melhor os que mais precisam, como uma mãe cuidando da família”.
“Duvido que tenha alguém exercido mais a democracia
do que eu”, desafiou. Ficam como inexistentes, então, as diversas tentativas de
regulação da mídia, uma bandeira histórica do PT, por meio de vários
expedientes tentados ao longo dos últimos anos e que geraram grande
controvérsia no país. “É bom que os banqueiros ganhem muito dinheiro para que
eles não deem trabalho para o Estado”, declarou o ex-presidente, numa alusão,
até certo ponto, controversa, para quem se declara de esquerda.
“Eu fui muito criticado porque fui o mais
republicano dos presidentes que este país já teve”, declarou Lula sem
pestanejar. Sobre o seu governo e o da sucessora, Lula considerou que todos os
números, nesses últimos 12 anos, mostraram que o país nunca viveu um momento
tão exitoso e extraordinário. E garantiu: “Nunca, na história deste país, o
Brasil teve 12 anos de crescimento”.
Sobre as constantes intromissões feitas no
andamento do governo Dilma, o ex-presidente negou enfaticamente que tenha
interferido ou mesmo dado qualquer palpite à atual governante. Lula negou ainda
que venha fazendo campanha pela troca do ministro da Fazenda, Joaquim Levy,
pelo ex-presidente do Banco Central Henrique Meireles. Com declarações desse
calibre, acreditar nas palavras de Lula se tornou um ato de fé, restrito aos
crentes e a todos que creem na dona Carocha.
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A frase que não foi pronunciada
“O reequilíbrio
fiscal de 2015 e o cumprimento das metas fiscais em 2016 e 2017, como previsto
na LDO recém-aprovada, serão os fundamentos de novo ciclo de crescimento. Assim
como o ajuste nos gastos que antecedeu ao Plano Real, foi talvez o menos falado,
mas não o menos importante fator do sucesso da estabilização monetária, que
perdura até hoje.”
(Ministro Joaquim Levy)
Por: Circe Cunha – Coluna “Visto,
lido e ouvido” – Ari Cunha – Correio Braziliense – Foto/Ilustração: Blog -
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