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FHC: Inconfidências de um ex-presidente

No primeiro volume de Diários da Presidência, série de livros com relatos sobre o dia a dia no Palácio do Planalto, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso faz várias menções a Cristovam Buarque. Nessa publicação, o tucano fala dos primeiros anos de sua administração, quando Cristovam era governador do Distrito Federal, filiado ao PT. Pelo relato de FHC, o então petista trabalhou nos bastidores pela sua reeleição, tentou vender o BRB, reclamou de impopularidade provocada por sindicalismos e o consultou sobre nomear o advogado Sigmaringa Seixas a um cargo no governo. Veja algumas transcrições:

Sobre pagamentos de quentinhas para manifestantes contra o governo federal:
“Pagaram hospedagem, comida, a Polícia Militar sustentando a baderna, ou melhor, a manifestação (…) Isso é inaceitável, ainda mais porque esse dinheiro todo do fundo sai dos cofres da União. Eles verão as consequências  porque eu vou apertar”.

Sobre encontro com Cristovam e Arruda:
“Recebi o Arruda com Cristovam Buarque. Arruda procurou mostrar ao Cristovam que é seu interlocutor junto a mim. Cristovam foi lá apenas dizer que estava chamando o Sigmaringa (Seixas) para o gabinete dele, queria saber o que eu achava, com medo de que fosse contra.”

Sobre manifestações na Esplanada
“(…) Chamaram o Cristovam Buarque porque a polícia daqui está relaxando e não estou mais disposto a ver essa bagunça na Esplanada dos Ministérios. Mandei dizer ao Cristovam que a polícia tem que tomar conta, porque senão temos os nossos meios de intervenção. É desagradável, mas não há outro jeito. Também não quero alto-falantes acima de 80 decibéis, parados, gritando em cima dos ministérios, que isso é uma esculhambação que passou de todos os limites.”

Sobre impopularidade e sindicalismo:
“Cristovam quer preparar, depois das eleições, uma negociação para aqueles que desejam uma alternativa para o que eles chamam de neoliberalismo, nome que ele não gosta. Disse que eu devo ser o líder disso. (…) Ele quer isso sinceramente. Claro que quer também alguns recursos adicionais para o governo do Distrito Federal. Disse que sua popularidade está muito baixa, que vai governar nessas condições até o fim, que o PT (na verdade um pouco mais o sindicalismo do que o PT) dificulta.”

Sobre reeleição:
“Fernando Lyra veio dizendo que já tinha falado com Arraes, que o Partido Socialista (Brasileiro) estaria disposto a apoiar a reeleição, que eu falasse com o Arraes (…) Telefonei para o Arraes e parece que é isso mesmo. Ele disse que o Lyra já tinha falado com ele e me contou que só um deputado do partido socialista ficaria contra e que também o governador de Brasília, o Cristovam (…) tem essa opinião. Ele não abrirá o jogo agora, mas é a favor.”

Privatização do BRB
“Vim para casa e recebi o Cristovam Buarque. Cristovam quer vender o Banco Regional de Brasília, que é do governo do Estado. Disse que o PT vai fazer uma grande onda, mas ele acha que a venda é importante, assim terá recursos para aplicação. Ele tem medo que esse banco tenha problemas no futuro: me pediu que, sigilosamente, discutisse o assunto com a área econômica porque ele realmente quer vender o banco.”


Por: Ana Maria Campos – Coluna “Eixo Capital” – Foto: Gláucio Dettmar/CB/D.A.Press – Correio Braziliense

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