Criados como alternativa para
proporcionar complemento de renda, as entidades fechadas de previdência
complementar, genericamente denominadas fundos de pensão, conseguiram, ao longo
de décadas, acumular patrimônio invejável. Os 320 fundos de pensão existentes
hoje no país acumulam patrimônio que, somado, alcança a cifra astronômica de R$
704 bilhões. Com tal soma de recursos, essas entidades se colocam como o oitavo
patrimônio mundial do setor, assegurando atendimento a um universo de mais de 7
milhões de segurados.
Naturalmente,
toda essa riqueza equivalente a muitos PIBs de alguns países desde logo chamou
a atenção de todo mundo. De investidores e gestores sérios, passando por
especuladores de diferentes calibres, os fundos foram alvo da cobiça,
principalmente de políticos inescrupulosos, que usaram as brechas na lei para
se imiscuir nessa seara e dela extrair o máximo de proveito possível. Tão logo
tomou posse, o presidente Lula abduziu os dirigentes dos maiores fundos de pensão
da época (Funcef, Previ e Petros), respectivamente de Caixa Econômica, Banco do
Brasil e Petrobras, para, juntos, “colaborarem”, à moda petista, nos
mirabolantes projetos de infraestrutura montados às pressas país afora.
Pela
mesma porta em que foram introduzidos para aplicar nos planos do governo, os
fundos de pensão encontrariam o caminho certo que os levou, sem volta, ao
calvário do submundo da política. Resultado dessa parceria perigosa aparece, em
parte, no rombo de caixa que essas entidades vêm revelando aos segurados nos
últimos anos. Mais de 40 fundos fecharam 2014 com deficit total acumulado de R$
31 bilhões.
Segundo
reportagem do Correio Braziliense, em 2015 as perdas fecharam o trimestre com
passivo de R$ 36 bilhões, aumentando para R$ 46 bilhões no segundo trimestre
deste ano. Misto que inclui erros de avaliação, má gestão e uma série de
denúncias de fraudes e corrupção dilapidou rapidamente o patrimônio dos fundos,
colocando em sério risco os objetivos iniciais e levando pânico aos segurados.
As CPIs
na Câmara e no Senado, ainda em andamento lento, seguem os passos das
investigações da polícia, que, por sua vez, segue o rastro deixado pela fortuna
que se esvaiu nos desvãos do poder. Por enquanto, cabe aos inscritos nos planos
arcar com os prejuízos na forma de aumento nos valores das contribuições. A
regra “cada enxadada, uma minhoca” revela que, no caso, o que está por vir não
é apenas uma, mas bilhões de minhocas.
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A frase
que foi pronunciada
“Brasil: estranho país de corruptos sem corruptores.”
(Luis
Fernando Veríssimo)
Por: Circe Cunha – Coluna: “Visto, lido
e ouvido” – Ari Cunha – Correio Braziliense – Foto/Ilustração: Blog - Google