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Grilagem versus planejamento

Em entrevista às jornalistas Cristine Gentil e Maryna Lacerda, publicada no caderno de Cidades do Correio (15/11), o professor Aldo Paviani, especialista em planejamento urbano da UnB, diretor de Estudos Ambientais da Codeplan e profundo conhecedor das questões urbanas de Brasília, com vários livros e artigos sobre o assunto, alertou para a necessidade de as autoridades locais adotarem medidas urgentes e corajosas no sentido de evitar que desvios no projeto original do urbanista Lucio Costa comprometam irremediavelmente o futuro da capital.

Acelerado, logo após emancipação política da cidade, e que serviu desde então de moeda de troca, o processo de grilagem das terras públicas é classificado, na avaliação do professor, como crime hediondo porque destruiu justamente o sentido original do planejamento urbano proposto por Lucio Costa.

O planejamento original é, no caso de Brasília, necessidade vital e orgânica, pois se trata de cidade singular e original, e, por isso mesmo, reconhecida como patrimônio cultural da humanidade pela Unesco. A desordem urbana que se seguiu ao acelerado processo de ocupação ilegal das terras públicas, graças à negligência criminosa de vários governos, favoreceu o surgimento de multiplicidade de condomínios e outros bairros não planejados, comprometendo a qualidade de vida da cidade, em alguns casos de modo irreversível. “A grilagem pode acabar com as nascentes, destrói a flora, fauna, o que for. Compromete, sobretudo, nosso futuro abastecimento de água”, alerta Paviani, para quem “os tentáculos de uma ocupação que não foi rigorosamente planejada” acabam por destruir “essa Brasília complexa” pensada por seu criador.

Merece reflexão o fato de que todas as pessoas que, de alguma forma, tomaram conhecimento da intenção contida no projeto original, têm uma percepção comum de que é preciso preservar o que foi projetado de forma genial, sob pena de desfigurar o conjunto da obra. Aldo Paviani chama ainda atenção para o fato de o verde, tão presente no Plano Piloto, não aparecer nas cidades organizadas como Ceilândia, Samambaia e outras, transformadas, em sua visão, em lugares “cinzas”. Da mesma forma, o professor apoiou a desocupação da orla do Lago Paranoá, que, na sua opinião, deve obedecer ao plano original e ser acessível a toda a população, transformando-se numa espécie de Parque da Cidade à beira do espelho d’água.

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A frase que não foi pronunciada
“O Estado proíbe dar palmada e aprova o aborto. É o cúmulo da
incoerência.”
(Disse a sensatez)


Por: Circe Cunha – Coluna “Visto, lido e ouvido” – Ari Cunha – Correio Braziliense – Foto/Ilustração: Blog - Google

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