Por: Severino Francisco
Caro leitor, peço licença para relatar um assalto
que sofri na tarde de ontem. O caso é o seguinte: coloquei R$ 20 de crédito em
um celular pré-pago. Dois minutos depois, sem que eu tivesse feito nenhuma
ligação, aparece um aviso e eu leio: você gastou R$ 3,90, o seu saldo é de R$
16,10. Meia hora mais tarde, novo apito e débito: R$ 3,90. Nas horas seguintes,
mais alarmes e, ao fim do dia, eu não tinha mais nenhum crédito. Não contratei
qualquer serviço adicional. Desconfio que fui alvo de uma ladroagem virtual.
Todos nós somos vítimas cotidianas de golpes
disfarçados das operadoras de telefonia e de tevê. No fim do ano passado,
ocorreu um pico de luz no condomínio onde moro e não recebi mais o sinal da
tevê a cabo. Ao tentar o contato com uma famosa operadora do ramo, experimentei
as primeiras cenas do enredo absurdo que me aguardava. Fiquei conversando com
uma máquina durante uns 15 minutos, que me conduzia a 20 opções de serviços até
chegar a que me interessava. É como se, para ir do Cruzeiro ao Guará, você
fosse obrigado a passar antes por Unaí, Anápolis, Águas Lindas, Anápolis,
Varjão, Abadiânia, Recanto das Emas e Condomínio Jardim Botânico.
Quando, finalmente, eu consegui falar com a
atendente, a ligação caiu. Recomecei toda a caminhada por aquela selva selvagem
de informações inúteis. Finalmente, expliquei o meu problema à consultora, que
pediu o meu telefone para o caso de a ligação cair. Caiu, mas é claro que ela
não retornou a ligação. Parei, rezei e pedi a todos os santos paciência.
Repito o mesmo processo exasperante umas cinco
vezes. Nada. Exijo a presença de um técnico. A visita é agendada duas vezes,
mas o profissional não aparece. Na terceira vez, ele comparece e, a certa
altura do trabalho, me pergunta: “O senhor tem uma escada para me emprestar?”
Eu digo a ele: “Como assim? Você está de gozação comigo?” E ele me responde:
“Não. Se o senhor precisava de escada, teria que agendar por telefone, pois só
temos uma para atender a toda a região”.
Logo explico novamente e um consultor me promete:
“Em 72 horas, o sinal será reestabelecido”. Digo a ele que essa solução não
vale, foi a mesma que me deram há dois meses e, já sem paciência, me entrego ao
delírio: “Vocês são um caso de polícia. Da próxima vez, ligo para o 190”.
Finalmente, depois de dois meses de suplício, o sinal foi reestabelecido.
Agora, me roubam créditos descaradamente. Vou reiniciar o périplo pelo inferno
burocrático virtual.
Kafka é o profeta da terceirização, ele previu o
absurdo que tomaria conta dos serviços públicos no Brasil. Eles enlouqueceram,
ninguém se responsabiliza por nada e ninguém é punido. É por isso que, para
eles, o crime compensa. Socorro, Anatel, Procon, Dilma, Ministério Público,
Bope, Capitão Nascimento, Sérgio Moro, Grita Geral!!! Chamem a Anatel!!!
(*) Severino Francisco -editor de Cultura e
colunista do Correio Braziliense