Foto: Águas Claras ao fundo
De modo geral, os centros urbanos com grande expressão em todo o mundo têm padrão diversificado de ocupação do território, em termos construtivos e de desenho urbano. Na evolução da história do povoamento, registra-se que as cidades cresceram com uso da terra urbana em círculos concêntricos, isto é, o núcleo central aparece com os serviços básicos do comércio, das residências unifamiliares, igrejas, a administração da cidade, o fórum, hospitais etc. — tudo para o núcleo ser funcional e acessível.
De modo geral, os centros urbanos com grande expressão em todo o mundo têm padrão diversificado de ocupação do território, em termos construtivos e de desenho urbano. Na evolução da história do povoamento, registra-se que as cidades cresceram com uso da terra urbana em círculos concêntricos, isto é, o núcleo central aparece com os serviços básicos do comércio, das residências unifamiliares, igrejas, a administração da cidade, o fórum, hospitais etc. — tudo para o núcleo ser funcional e acessível.
Numa
segunda etapa, o centro expande-se, geralmente para fins habitacionais, para
novas indústrias, armazéns e instalações que necessitam de terrenos mais
amplos. Ao surgir o segundo círculo de povoamento, instalam-se vias amplas de
acesso, com emaranhados eixos de circulação para viabilizar a funcionalidade
urbana. Ao longo do tempo, os espaços centrais tornam-se escassos, com o que o
modelo habitacional existente exigiu modificação. Com aperfeiçoamento do
elevador surgem as moradias coletivas, com edificações de muitos pisos. Surge a
verticalização urbana, sobretudo nas metrópoles.
Com a
nova tecnologia, os arranha-céus alastraram-se por todo o mundo e chegaram ao
Brasil. Rio de Janeiro e São Paulo foram pioneiros nessa modalidade de
edificações. O uso do elevador foi importante para que as edificações em altura
fizessem movimento centrífugo e chegassem ao segundo e ao terceiro anéis das
metrópoles brasileiras. Por isso, em todos os aglomerados urbanos, há edifícios
ou conjuntos de edifícios ao longo dos principais eixos viários, com a intenção
de facilitar a mobilidade urbana. Assim, o processo de verticalização constituiu-se
na possibilidade de valorizar a terra urbana e, em certos casos, de viabilizar
a preservação dos espaços intercalares.
No caso
de Brasília, o urbanismo moderno do Plano Piloto estabeleceu, desde o início
que não haveria edificação com mais andares do que o 28, isto é, mais elevado
do que as duas torres do Congresso Nacional. Mais ainda: que as áreas
residenciais das asas Sul e Norte não teriam mais do que seis andares, e esse
padrão se mantém até hoje, mesmo para novas áreas residenciais, como o Sudoeste
e o Noroeste. Mas esse modelo não serviu para todos os núcleos urbanos do DF.
Em Águas Claras, por exemplo, a verticalização não respeitou o plano
urbanístico, que estabelecia o gabarito de 12 andares.
Explique-se
que, no início da década de 1980, para Águas Claras, foi concebido esmerado
plano urbano, que não seria lugar para residências e sim se constituiria em
área para abrigar atividades descentralizadas do Plano Piloto. Desejava-se
aproximar as atividades e trabalhadores residentes em Taguatinga, Ceilândia e
outros núcleos. Esse plano inicial foi para a gaveta e, em seu lugar, surgiu o
segundo plano essencialmente residencial, onde os 12 andares foram soterrados
pela emaranhada verticalização, em que o verde perdeu lugar.
Caberia
indagar: por que a alteração do padrão edilício? As respostas podem ser: falta
de visão de futuro; demanda do mercado imobiliário; desinteresse de empresas de
serviços pelo novo espaço urbano etc. Isso se aplica para os demais centros,
onde, desde alguns anos, se erguem edifícios com mais de 12 andares, como no
Gama, em Taguatinga, Ceilândia e Samambaia. Nesta, o processo de verticalização
é evidente e se dissemina em vários pontos da cidade, substituindo o padrão
antecedente, que era “um terreno, uma casa, uma família” por outro, que junta
dois ou mais terrenos para a construção de edifícios à moda de Águas Claras.
Ao
finalizar, a atual realidade nos leva a classificar os tipos de verticalização:
= moderada, projetada por Lucio Costa para o Plano Piloto, com seus seis pavimentos;
= incrementada, como a do segundo plano de Águas Claras com 12 andares; =
exacerbada com mais de 12 andares e se dissemina no DF; = indesejada, irmã
siamesa da anterior, que altera em muito a paisagem e a qualidade ambiental do
DF.
Independentemente dessa classificação
empírica, o que importa são os diferentes impactos que modificam o uso da terra
no DF, sobretudo pela verticalização exacerbada e indesejada. Ambas desfiguram
o padrão aceitável para uma cidade, e são irreversíveis. No padrão da
verticalização moderada, desejável, percebem-se pequenos impactos sobre as
infraestruturas e a vida urbana. Essas considerações nos levam igualmente à
responsável indagação: “que cidade desejamos?” — CB 30/11/2015
Por: Aldo Paviani -Professor
emérito, pesquisador Associado da Geografia e do Neur/Ceam - UnB e, diretor de
Estudos Urbanos e Ambientais da Codeplan – Foto/Ilustração: Blog – Google
– Fonte: Correio Braziliense.