A complicada crise econômica ficou pior
com o rebaixamento do Brasil para o grupo de países especulativos pela agência
de classificação de risco Fitch, a segunda das três maiores do mundo. A decisão
decorre do descompromisso do governo com as metas de superavit primário como
propôs o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que deverá deixar a pasta, para
agravar ainda mais a imagem brasileira. Ele defendia redução de gastos públicos
em 0,7% do Produto Interno Bruto (PIB) para o próximo ano. No fim, o governo baixou
para 0,5%, que poderá chegar a zero.
A crise econômica está ancorada no
deficit fiscal e tenderá a se tornar mais aguda no próximo ano com a recusa do
Executivo de enxugar a máquina pública e cortar despesas. Em setembro, a
Standard & Poor’s excluiu o Brasil da lista de bons pagadores. A Moody’s,
que mantém o país entre as opções de investimento, avisou que estuda a
possibilidade de adotar avaliação semelhante à das duas outras.
As análises convergem para o fato de
que o país enfrenta profunda recessão e recomenda cautela na expansão dos
negócios. A perda de credibilidade torna mais difícil reverter a crise
econômica. Afugenta investidores externos e reduz o ingresso de dólar no
mercado. Com isso, além de encarecer a moeda norte-americana, aumenta a inflação,
o que obriga o Banco Central a elevar a taxa de juros.
O próprio governo fica sem condições de
recorrer a empréstimos externos. O custo do dinheiro para nações com baixa
credibilidade é muito mais alto. Dessa forma, os investimentos públicos ficam
comprometidos. Mais: depois de uma década, os Estados Unidos elevaram os juros.
Empresas dispostas a investir vão preferir o mercado norte-americano,
mais seguro e rentável. O impacto da decisão do Federal Reserve seria
facilmente amortecido se o Brasil estivesse com a economia organizada.
O esforço da equipe econômica para
elevar a receita da União em 2016 esbarra no conflito personalizado entre os
presidentes da República, Dilma Rousseff, e da Câmara dos Deputados, Eduardo
Cunha. A tensão chega próxima ao ápice com a abertura do processo de
impeachment da chefe do Executivo e o avanço da Operação Lava-Jato, que não
poupa parlamentares, ministros, empresários e banqueiros, acusados de
corrupção.
Assim, o pacote de ajuste fiscal está
parado no Congresso Nacional. Os apelos do titular da Fazenda não têm eco no
parlamento e tampouco no Executivo. Aprovar as proposições da equipe econômica
poderia tirar o país do atoleiro, mas o mérito seria da presidente,
inadmissível pela oposição. A aposta ficou no quanto pior melhor, não
importando as perdas que a opção causa à sociedade e retarda a retomada do
desenvolvimento. Hoje, tão ou mais grave do que a perda do grau de
investimento, é o fato de interesses rasteiros se sobreporem aos da nação e de
imporem retrocessos econômicos e sociais com dimensões incalculáveis.
Fonte: “Visão” do Correio Braziliense –
Foto/Ilustração: Blog – Google