Duas reportagens, publicadas domingo e
segunda-feira, no Correio, retratam com precisão os problemas de mobilidade
urbana no Distrito Federal. As incongruências do Expresso DF, ou BRT, refletem
a nossa incapacidade de inaugurar, em tempo hábil, obras eficientes a preço
justo. Anunciado como grande trunfo durante a Copa do Mundo, o Bus Rapid
Transit foi parcialmente entregue poucos dias antes do mundial. Passado um ano
e meio da cerimônia que teve a presença de Dilma Rousseff, o sistema acumula
problemas: duas auditorias do TCDF investigam imbróglios como suspeita de
superfaturamento. Diversas paradas de ônibus estão desativadas, o vandalismo
tomou conta dos acessos.
O
Expresso DF se junta à galeria de obras do Distrito Federal que, executadas de
forma precária à população, comprovam a dificuldade do poder público em aplicar
o dinheiro do contribuinte de forma racional. Desde a inauguração da EPTG
ampliada, em 2009, ouvem-se queixas sobre a pista exclusiva pela qual não
circulam ônibus por falta de veículos com portas pelo lado esquerdo. As paradas
estão lá ao longo da rodovia para lembrar-nos, todos os dias, como se
desperdiça dinheiro público. Há ainda os pontos questionáveis em engenharia de
tráfego, como as alças de acesso à EPTG e o semáforo sob o viaduto Israel Pinheiro.
Em uma cidade cada vez mais dependente do transporte individual, as falhas
viárias adquirem proporções monumentais em poucos meses.
Em outra
reportagem, publicada ontem, registra-se a iniciativa em torno da construção de
outra ponte no Lago Sul, capaz de suportar o grande fluxo de veículos
provenientes da região de Itapoã e Paranoá. É plausível considerar que a
construção de nova estrutura naquela região sobrecarregaria a já saturada Ponte
JK, por onde desemboca gigantesca quantidade de veículos em direção à região
central de Brasília. A ampliação da malha viária do DF obedece a lógica que não
tem como prosperar: em vez de retirar os carros das pistas, oferecemos
condições para eles ocuparem mais espaço.
O Distrito Federal tem hoje praticamente um carro para três habitantes.
Se as políticas de mobilidade não derem prioridade ao transporte coletivo, o
cenário tende a piorar: mais congestionamentos, mais poluição, mais acidentes,
mais gastos. Estamos na contramão em marcha rápida.
Por: Carlos Alexandre – Correio
Braziliense – Foto/Ilustração: Blog-Google