Presidente da Câmara Legislativa vê elementos para
investigar fraudes na construção superfaturada do Mané Garrincha - Delação sobre estádio pode abrir uma CPI
A deputada distrital Celina Leão
começou a trajetória como pupila da família Roriz, de quem herdou os votos para
chegar ao Poder Legislativo. Hoje, está filiada ao PDT e é uma das principais
aliadas dos senadores Cristovam Buarque e Reguffe. O histórico, à primeira
vista contraditório, foi um dos trunfos para conquistar a Presidência da Câmara
e a posição de uma das políticas mais influentes do DF. Aos 38 anos, ela é
potencial candidata ao governo em 2018, com a meta de conquistar tanto o
eleitorado de Roriz como os de rivais do ex-governador.
“Tenho orgulho de ter trabalhado com o
grupo do Roriz. Orgulho-me do meu passado e do meu presente. Construí minha ida
para o PDT, já que fui a deputada que mais fiscalizou o governo na legislatura
passada”, justifica Celina Leão. “O Cristovam é supercorreto, ético e tem
muitas ideias. E o Roriz também construiu muita coisa”, compara. Se por um lado
a parlamentar é só elogios para os dois caciques políticos, o ex-governador
Agnelo Queiroz é seu principal alvo. “Ele é um bandido, um ladrão, um cara que
roubou”, acusa.
Única deputada a comandar uma
assembleia legislativa no Brasil, Celina diz que já sofreu preconceito por ser
mulher e também por ser bonita. Evangélica, é contra o aborto, mas não se opõe
ao casamento gay. Na adolescência, a goiana rodou o país ao lado da irmã,
Ludmila, para disputar campeonatos de laço. No pulso direito, traz a marca de
uma grande cicatriz, causada pela corda. “Eu laçava boi, por isso sou brava
desse jeito. Fiz um treino bom para chegar à Câmara”, brinca.
Na última semana de trabalho, Celina
obteve uma vitória inédita: aprovou em primeiro turno uma emenda que permite a
reeleição para a Mesa Diretora da Câmara. Nesta entrevista ao Correio, a
deputada diz que a Operação Lava-Jato terá desdobramentos no DF. Ela acredita
que a delação dos executivos da Andrade Gutierrez revelará irregularidades na
construção do estádio Mané Garrincha — “Foi um absurdo o que aconteceu” — e
justificará a abertura de uma CPI.
A senhora conseguiu aprovar, em
primeiro turno, a emenda da reeleição para a Mesa Diretora da Câmara. Como
conquistou isso?
Comecei a conversar com os
parlamentares sobre a condição do Legislativo; acho que as coisas se
movimentaram na Câmara, com o surgimento de uma oposição muito ligada à base do
governo, alguma coisa muito estranha aconteceu na Casa. Essa coisa foi somando,
somatizando também, e alguns colegas começaram a perguntar se eu toparia. A
emenda não significa que sou candidata à reeleição da Câmara, não resolvi
ainda. Pode ser até desgastante estar mais dois anos na presidência.
Para disputar cargo majoritário em
2018, a reeleição ajuda?
A presidência dá uma visibilidade
grande. Você define a pauta da Câmara, a condução da Casa.
Seus colegas deixaram o segundo turno
para o ano que vem, para barganhar com a senhora e com o governo em 2016. Isso
procede?
Nem ia mexer com isso este ano, mas
alguns colegas pediram para votarmos a emenda. Eles entendem que, dependendo de
quem for o candidato do governador, eu seria a única a conseguir derrotar esse
candidato que trouxesse uma subordinação ao Legislativo.
Só Agaciel e Joe Valle declararam
interesse nos bastidores.
Joe perdeu toda chance quando saiu da
Câmara para assumir uma secretaria. Ele não conseguiria construir nem os votos
mais próximos. O candidato mais forte do governo é o Agaciel. Dependendo do
momento que a gente estiver vivendo, aí pode ser que eu dispute. É uma questão
de deixar legado, quero deixar trabalho consolidado.
O governador ficou totalmente distante,
como diz?
Ele de fato não se envolveu. E o não
envolvimento dele ajudou. O Chico Vigilante saiu ligando para alguns deputados,
falando que tinha conversado com o governador. Houve muita mentira e fofoca,
mas o governador disse que era mentira.
O governo atrapalha o Legislativo?
O governo não pode ditar o ritmo do
Legislativo, isso está errado.
Falava-se que a Câmara era quase uma
secretaria do GDF, um puxadinho do Buriti. Isso mudou?
Quando a gente começou a rejeitar
alguns projetos do Executivo, mas sem deixar de ajudar quando era possível, a
gente rompeu com isso, o que representa a maturidade do parlamento. As pessoas
querem um parlamento responsável, sem revanchismo, sem raiva ou ódio. Os
deputados da base se posicionaram sem ficar expostos.
Mas houve divergências graves com
secretários...
Houve, é verdade. O Rodrigo pegou muita
gente acadêmica no começo do governo dele.
A senhora teve um atrito forte com o
ex-secretário da Casa Civil Hélio Doyle. Por que essa rixa?
O Hélio sabe que não fui o motivo da
saída dele. O próprio partido do governador tinha problemas com ele, às vezes
ele se sobressaía muito mais do que a figura do governador. O Hélio não é bobo,
ele sabe que fui um instrumento disso.
A senhora pediu a cabeça dele? O
episódio a deixou mais forte...
Na política é preciso ter sempre uma
segunda leitura. Fui o instrumento que usaram para livrar o governador de um
problema que ele tinha. O Hélio já tinha muito desgaste interno, existia uma
guerra dentro do Buriti. É muito fácil colocar a culpa na Celina. Fiz uma
crítica na tribuna reclamando da quantidade de petistas dentro do governo. Não
pedi para ele sair em nenhum momento. Ele acabou descontando a ira dele em mim.
Para não ficar tão ruim, diante do fato de que o Hélio era indesejado no
governo, ele vestiu a carapuça. Ele foi rejeitado pelo governo, fui só a gota
d'água.
O governador estava incomodado?
Não diria o governador, mas as pessoas
que o cercam. Acho que o Hélio conseguiu uma posição de isolamento dentro do
grupo do governador, pela personalidade dele. Movi ação contra ele, uma
interpelação judicial, em que ele fez uma resposta até bem engraçada, desmentindo,
dizendo que os deputados que o interpelaram eram corretos e transparentes.
Ele se acovardou?
Ele se acovardou totalmente, ou falou o
que sempre achava.
A senhora ganhou projeção,
principalmente pela oposição que fez ao governo passado. Como classificaria a
sua trajetória?
É um pouco de tudo, de trabalho, de
posicionamento firme, nunca me posicionei mais ou menos, sempre tive posições
muito firmes. Acho que a população quer isso, não quer uma oposição mais ou
menos.
A senhora está no partido de Cristovam
e Reguffe, mas tem uma história com o Roriz, foi chefe de gabinete dele. Ao
mesmo tempo, tem uma boa relação com Rollemberg. Como explicar isso ao eleitor?
Consegui isso com meu trabalho. Tenho
orgulho de ter trabalhado com o grupo do Roriz. Tenho orgulho do meu passado e
do meu presente. Construí minha ida para o PDT, fui a deputada que mais
fiscalizou o governo na legislatura passada. Minha filiação foi construída
durante meu mandato.
Algumas pessoas a colocam como herdeira
política do grupo do Roriz. A gente pode entender que se identifica com o modo
do Roriz de fazer política?
O Roriz conseguiu fazer o que nenhum
outro conseguiu, que foi cuidar das pessoas que precisavam. Todo mundo tem
críticas, também tenho, mas tem muita coisa que ele fez que ninguém
conseguiu fazer. Depois do governo dele, as gestões foram piorando. Não me
incomoda ter um passado associado a ele.
Ainda tem alguma relação com ele?
Cortamos as relações políticas logo
depois da minha primeira eleição, mas mantenho uma relação de respeito, carinho
e amizade.
Sente-se mais à vontade de que lado?
A gente tem que pegar o que o Reguffe
faz de bom na política e aproveitar, pegar o que o Roriz fez de positivo
também.
Mas o Reguffe tem posição muito
particular em relação ao GDF. Não indica cargos, faz críticas...
Tenho muitas discordâncias com o que o
Rodrigo está fazendo, mas tenho sempre o cuidado de falar para ele. A mágoa do
Reguffe é que ele ajudou a construir um projeto do qual não participa.
Ele não participa porque não quer ou
porque foi excluído?
Ele foi excluído do processo desde a
transição. E aí o Hélio Doyle tem muita culpa. Conseguiu desagregar tanto o
Reguffe quanto o Cristovam.
Mas o governador já teve tempo de mudar
isso, não?
Mas ele perdeu o timing, conseguiu
criar um vácuo. O Reguffe, como ele coloca às vezes, não pode ser consultado só
para as tomadas de decisão. Foi um ano muito difícil, mas ele acha ruim não ser
consultado.
O governador ouve pouco, como criticou
o Cristovam?
O governador não me consulta; às vezes
vem conversar comigo já com decisões prontas, e quando acho que está errado,
falo para ele. Ele ficou tão preso na crise que não conseguiu construir
uma tomada de decisões compartilhada. Como toma as decisões muitas vezes
sozinho, ele fica sozinho na hora de prestar contas à população também.
Vai ser candidata a algum cargo
majoritário?
Minha meta é ser candidata a deputada
federal. O fato de meu nome estar em pesquisas é resultado do que a gente está
fazendo na Câmara. Fico feliz, mas meu projeto é ser candidata a federal, sou
nova. A não ser que aconteça alguma coisa daqui para lá, que o PDT precise ter
palanque aqui por conta da candidatura do Ciro, mas meu projeto prioritário é
ser candidata a federal.
A senhora anunciou o rompimento com o
governo, mas ajuda muito mais do que atrapalha. Por que romper, então?
Aquilo até ajudou. Depois do episódio,
o governador conseguiu dar uma sacolejada no governo dele. Acho que melhorou
desde então. A minha posição de aliada muitas vezes é por Brasília, pela
necessidade que a gente tem de colocar o parlamento para funcionar. Realmente
fui aliada em muitos momentos.
Mas ainda mantém cargos no governo...
Desde o rompimento, mandei dois ofícios
para o Rodrigo pedindo a exoneração das pessoas que havia indicado. Já reiterei
esse ofício mas ele não tirou as pessoas. Tem gente como o Estevão, em Sobradinho,
que indiquei, mas é uma pessoa que ajudou a coordenar a campanha do Rodrigo na
cidade. Não sei se ele vai tirar, sempre deixei ele muito à vontade.
A política da Agefis é um dos pontos do
desgaste entre o GDF e a Câmara. O que acha disso?
Se a gente não tomar medidas duras, não
vamos nos livrar do problema da grilagem. O GDF é muito ineficiente no combate
imediato às invasões. Estamos discutindo as derrubadas de Vicente Pires e,
nesse período, muita coisa nova foi invadida em São Sebastião, em Santa Maria.
Graças a Deus, nenhum dos 24 deputados é ligado a grilagem, como houve no
passado. A Câmara tem essa sensibilidade que às vezes o governo não tem.
Não é contrassenso defender
planejamento urbano e ao mesmo tempo criticar derrubada?
A Câmara nunca reclamou das derrubadas,
mas sim da forma como elas são conduzidas. A Câmara não é contra. Se a Câmara
quisesse instalar uma CPI contra a Bruna (Pinheiro, presidente da Agefis), ela
não teria instalado?
Com que fundamento?
As CPIs geralmente são políticas, não
precisam de nenhum fundamento. Se a gente quisesse mesmo ter tirado a Bruna...
Nunca colocamos na mesa algo do tipo “não vamos votar nada porque a Bruna está
lá”. Fizemos críticas sobre o formato das derrubadas. Não tem notificação
prévia, as pessoas não têm direito de tirar as coisas. Conversamos com o MP e
com o GDF no começo do ano sobre a ideia de fazer uma campanha de combate à
grilagem, com todos os poderes juntos. Mas não adianta fazer campanha quando o
governo não tem operacional para tirar as pessoas que estão grilando. E era
preciso também uma postura mais enérgica e prender os grileiros. A Terracap tem
formato errado, porque oferece o lote para o rico. Ela nunca teve como meta o
pobre. Aí o pobre vai e compra do grileiro.
A CPI do Transporte é política?
Não, uma CPI que consegue demonstrar já
nos primeiros meses de trabalho vários desvios, provar que um gasto que deveria
ser de R$ 120 milhões por ano já está em quase R$ 1 bilhão por ano, não é uma
CPI política.
Mas não houve convocação do ex-vice
Tadeu Filippelli...
Se a gente o convocar sem ter certeza
do envolvimento dele, aí sim se tornaria uma CPI política. Hoje já temos
certeza de que muitas pessoas que estavam envolvidas na parte administrativa
estão comprometidas, como o Galeno (Furtado), como o Sacha Reck. Não temos
materialidade com nada relacionado ao Filippelli ou ao Agnelo.
Luiz Estevão ajudou na sua eleição para
presidente. Desta vez, ele também ajudou a aprovar a emenda da reeleição?
Ele não se envolveu, tanto que não tive
nenhum voto do PRTB, nem da Liliane, nem do Juarez.
Vocês têm ligação política?
Não temos, fiquei muito grata pelo
apoio em um primeiro momento, mas não temos hoje nenhuma relação. O Luiz tem
tantos problemas para cuidar, essas questões ocupam o tempo dele todo. Na
política, dependendo da sua posição, seus amigos viram seus inimigos e seus
inimigos viram seus aliados, dependendo do projeto político. Não sei qual vai
ser o projeto político dele, se ele vai estar na política em 2018 ou não.
Ao Correio, o cientista político David
Fleischer disse que metade da Câmara deveria estar presa.
Um cara desse precisa ler e se informar
mais. Os parlamentos dos países desenvolvidos, como os Estados Unidos, a
Inglaterra, todos são fortes. O fortalecimento e a independência dos
parlamentos podem sim ser a saída da crise e da corrupção. O deputado não
precisa do governador nem dos cargos para ser eleito, as pessoas reconhecem o
trabalho que ele desenvolve.
Mas o momento do parlamento brasileiro
é muito ruim...
Sim, é muito ruim, mas mostra que as
instituições estão de pé. Que a Polícia Federal está funcionando, que o Supremo
está trabalhando, que o MP está atuando. Isso acontecia no passado, mas ficava
escondido. As pessoas que querem ir para a vida pública para ganhar dinheiro
hoje sabem que vão acabar presas.
As pessoas cobram nas ruas?
Transito tranquilamente. As pessoas
reconhecem meu trabalho, me param na rua e me cumprimentam. Mantenho os mesmos
hábitos, como jogar futevôlei no Parque da Cidade, ando muito no meio da rua,
tenho trabalho de base nas cidades-satélites, nunca fui hostilizada. Às vezes,
as pessoas me param na rua e falam: “Olha, a saúde está uma porcaria”.
E a saúde está uma porcaria?
A saúde está muito mal. Melhorou com a
saída do João Batista mas ainda está longe do que deveria ser.
Como sair dessa situação?
A gestão tem que ser toda reformulada.
Alguns deputados foram visitar as OSs (organizações sociais) em Goiânia, mas
ainda não tenho opinião formada sobre isso. Quero discutir, ouvir opiniões,
fazer essa discussão com seriedade.
Os sindicatos reagiram mal?
Os servidores têm medo, mas em Goiânia
todos foram mantidos nos empregos. Tive oportunidade de participar de um almoço
com o (Rodrigo) Janot, quando ele foi reconduzido ao cargo de procurador-geral,
e me sentei à mesa ao lado do Lauro Nogueira, que é procurador-geral de Justiça
em Goiás. Ele me disse que o MP era muito contrário às OSs, mas reconheceu que
melhorou muito. A lei das OSs foi aprovada na época do Arruda, mas, para trazer
para cá o modelo que eles querem, é possível que tenhamos que fazer modificações.
A senhora faz parte de uma nova geração
de políticos?
Acho que sim. O foco tem que ser nas
pessoas. Não quero ficar muito tempo na política, porque cansa muito a gente.
Quer chegar aonde?
Não sei, talvez até o Senado, até o
governo, depois descansar. Os políticos têm muito pouco tempo para a família, e
para a mulher é ainda mais difícil, a gente é mãe.
O perfil mais combativo a projetou,
quando fez oposição ao Agnelo. Esse estilo novo, mais low profile, pode
comprometer seu desempenho nas urnas?
As pessoas querem uma presidente da
Câmara que passe confiança. Querem uma Celina firme como sou, já fiz
apresentações contra o governo do Rodrigo no Tribunal de Contas. Mas aí é
preciso diferenciar os dois governadores. O Agnelo, sempre achei um bandido, um
ladrão. O Rodrigo é honesto, bem-intencionado, ele quer acertar. É uma
diferença muito grande. O Agnelo, antes de fazer os projetos, pensava “isso
aqui vai dar quanto?”. Imagina esse estádio de R$ 3 bilhões, esse dinheiro
agora está fazendo muita falta. Mas está na mira da Lava-Jato. Isso ainda vai
ter um desdobramento aqui no DF.
É uma declaração forte chamar um
ex-governador de ladrão...
Acho sim que ele é um bandido, um cara
que roubou. Na saída do governo, ele se deu 40 horas (de carga horária como
médico). O sentimento do Agnelo era de impunidade. Às vezes a gente fazia
denúncias da tribuna e eles riam, como se o poder fosse eterno.
Associa isso ao Agnelo ou ao PT?
Ao Agnelo. Dentro do PT tem muita gente
que é honesta, gente que sonhou mudar o Brasil.
Se a delação da Andrade Gutierrez
mostrar denúncias graves, seria o caso de abrir a CPI do Mané Garrincha?
Claro.
Criticava mais o estádio pelo tamanho?
Pelo excesso, pelo gasto. Tivemos
outros estádios tão bonitos quanto o Mané Garrincha e gastaram muito menos. Foi
um absurdo o que aconteceu aqui. A delação da Andrade Gutierrez vai abrir isso.
Outra coisa: como é que um estado abre mão de um recurso federal? A Dilma
ofereceu patrocinar o estádio, e o DF disse que ia fazer com recurso próprio.
Está fazendo falta hoje nos cofres públicos.
E virou um elefante branco.
Não se mantém. Se você comprar o
estádio com o terreno, vai pagar mais barato do que ele custou para ser
construído, sem o terreno.
Os petistas que a fizeram romper com o
governo ficaram por lá?
Sim, ainda estão. Isso me incomoda. Mas
é uma decisão do governo, tenho que respeitar.
A presidente Dilma é honesta?
Ela é refém de um esquema
pesadíssimo.
E o Lula é refém?
Não, ele é o grande mentor de tudo
isso. A Dilma tentou fazer um governo mais firme, mas, como era refém do PT,
não conseguiu.
É a favor do impeachment?
Sou favorável, porque acho que o Brasil
tem que sair dessa crise. Tem que votar isso logo. A crise do Brasil é política
mas afeta muito a economia.
O presidente nacional do PDT, Carlos
Lupi, defende a permanência de Dilma. Isso incomoda?
Não me incomoda. Quando fui para o PDT,
tinha problema muito sério com o PT local e ele disse que teria liberdade. Ele
está correto, é aliado da Dilma, eles têm projeto em conjunto, mas o Lupi me
respeita.
A candidatura do Ciro Gomes à
presidência a empolga?
Empolga. Ele é um bom candidato, fala
bem. Mas entre Ciro e Cristovam, sou Cristovam. O Cristovam está viajando o
Brasil inteiro, seria um excelente candidato.
O Reguffe já sinalizou que pode deixar
o PDT. Vai acompanhá-lo?
Estou muito bem no PDT, tranquila, eles
me deixam trabalhar e me dão a independência de que preciso. Quando rompi com o
Rodrigo, o partido me apoiou. No debate sobre a reeleição, o Lupi e o (Georges)
Michel me apoiaram. Estou satisfeita no PDT.
Existe uma disputa entre a senhora e
Liliane Roriz?
Não disputo com a Liliane, faço meu
trabalho. Se ela disputa comigo, nem percebo, porque estou trabalhando
muito. Tenho gênio forte, mas na política é preciso ter mesmo, porque senão
você não sobrevive.
Por que Liliane Roriz se absteve na
votação da reeleição?
Não sei se ela avaliou isso com
profundidade. Ela está fazendo o trabalho dela, tem o reconhecimento do eleitor
dela, é filha do Roriz, tem todo um recall em cima disso.
Roriz ainda tem influência política?
As pessoas têm muita saudade do governo
dele. Quando saiu, Roriz tinha 80% de aprovação. Ele tem esse mérito, mas isso
não se transfere para outra pessoa. Se pudesse ser transferido, a votação da
Liliane não teria caído à metade.
O Cristovam também terminou o governo
com avaliação alta, mas perdeu a eleição para Roriz. Quem foi melhor: Cristovam
ou Roriz?
Não morava aqui na época! (risos) O
mais legal de tudo isso é ter o respeito dos dois grupos e saber as qualidades
dos dois. O Cristovam é supercorreto, ético, tem muitas ideias, consegue
orgulhar o DF mundialmente. E o Roriz também construiu muita coisa. É possível
pegar o lado positivo dos dois.
Mas prefere associar seu nome a qual
dos dois?
Prefiro associar meu nome a mim mesma.
Quero que as pessoas reconheçam a Celina pela Celina, sem precisar ter um
cacique. Até porque isso é preconceito.
Lembra algum episódio em que sofreu
preconceito?
Acontece de inventarem história da vida
da gente. No começo do meu mandato, achavam que era só uma menina que podia ser
atropelada. Mas, quando a gente se coloca, as pessoas aprendem a respeitar.
O fato de ser bonita também desperta
preconceito?
Sim. Às vezes atrapalha. Tem que provar
mais competência. É uma coisa com a qual tenho muito cuidado, para que isso não
seja usado. A última coisa que quero é que digam que sou bonitinha.
O que achou do episódio da Kátia Abreu
com o Serra?
Aquilo foi de uma ignorância enorme,
faria a mesma coisa que ela fez.
Seu marido tem ciúmes?
Tem ciúmes, mas confia em mim. Temos
uma relação de 11 anos, é um ciúme controlado. Se tivesse muito ciúme, já teria
me largado. Mas meu marido é um gato, muito bonito, também tenho ciúmes dele.
O que achou da declaração do senador
Hélio José (PMB-DF), de que a mulher serve para dar alegria e prazer aos
homens?
Aquilo foi horroroso, uma fala de
coisificar a mulher. Infelizmente, é mais um reflexo da falta de participação
da mulher na política. Os grandes partidos são comandados pelos homens. Sou a
única presidente de assembleia do Brasil.
O eleitorado de Brasília estaria aberto
a eleger uma mulher governadora?
Sim. A Marina Silva teve votação muito
grande no DF. Brasília tem formação política muito forte, nível de escolaridade
muito alto. Então isso ajuda muito.
Por que, depois de 12 anos, só agora a
Câmara aprovou o projeto do Chico Vigilante que permite a instalação de postos
em supermercados?
Foi uma posição do governo. Tinha
projeto na Câmara, mas a gente não pode legislar sobre terras e nunca um
governador teve coragem de mandar esse projeto para a Câmara, só o Rodrigo
agora. Ele mandou e votamos. A operação Dubai foi importante também, pressionou
o governo, que mandou o projeto.
Durante as investigações da Operação
Dubai, a PF interceptou uma conversa em que o empresário Antônio Matias cita
seu nome como beneficiária de vales de combustível. A senhora recebeu favores
do grupo dele?
Este ano, não usei minha verba
indenizatória para comprar combustível. E não pedi combustível na minha
campanha, iria pedir para a campanha de conselheiro tutelar?
Então alguém pediu combustível usando
seu nome?
A informação que a gente recebeu é de
que isso teria sido feito pelo assessor de um parlamentar. Não pedi nada, não
recebi nada. Tenho muita tranquilidade quanto a isso.
A imagem da Câmara sempre foi muito
desgastada. Todas as pesquisas mostram uma rejeição grande à Casa, até por
conta de muitos escândalos. Por quê?
Porque muitas vezes a Câmara não soube
divulgar o trabalho dela. O desgaste de deputados envolvidos em casos de
corrupção também contribuiu muito para esse problema. Mas eu acho que o
trabalho do Legislativo muitas vezes não é mostrado.
O orçamento da Câmara é de R$ 500
milhões. Não é muito caro para o contribuinte?
Não, a democracia não tem preço. O
trabalho que a gente desempenha é muito importante. Hoje, todas as notas
fiscais estão disponíveis para a população. Isso nunca aconteceu. A população
não vê problema no deputado usar a verba indenizatória, ela reclama quando não
vê o trabalho do deputado.
Mas o seu colega de partido Reguffe tem
uma posição muito austera quanto ao uso de verba indenizatória. Ele exagera?
Ele fez um compromisso de campanha. Não
uso minha verba inteira, não usei nada de combustível este ano.
Mas a senhora cobra dos colegas?
Não sou a professora, cada um tem que
ter a responsabilidade de usar e divulgar como usou, com transparência.
O Correio Braziliense fez, no ano
passado, a campanha #vaitrabalhardeputado. Os colegas trabalharam este ano?
A Câmara trabalhou muito. A gente
participou de acordos com relação à greve; nos momentos mais difíceis, a Câmara
esteve presente.
O próximo ano pode ser pior em relação
aos sindicatos? Há data-base, retroativo...
Creio que não. O caixa está reajustado.
A gente aprovou os projetos prioritários para o Executivo. Venda de terrenos...
Mas ainda há um deficit de R$ 3
bilhões, e os reajustes que ficaram para outubro de 2016. O governador consegue
pagar?
Se ele melhorar o clima da cidade, de
ambiente de negócios, ele aumenta a arrecadação.
Os empresários criticam muito a
burocratização, sobretudo na construção civil. Eles têm razão?
Tenho certeza que sim. Se o governador
não tivesse aprovado o projeto do RIT (Relatório de Impacto de Trânsito), do
Odir e Onalt (taxas cobradas em função da valorização de terrenos que sofreram
alteração de uso ou de gabarito) e da permeabilidade do solo, ele teria
dificuldade de vender lotes no ano que vem. Quem vai comprar lote em Brasília,
se demora seis anos para tirar um alvará?
Mas o projeto de desburocratização das
licenças é contestado pelo MP. Se o processo for suspenso pela Justiça, trará
prejuízo?
Com certeza. O governo tem de defender
isso com unhas e dentes. E a Casa, que deve ser citada, deve também se
manifestar favoravelmente. O Judiciário tem sido sensível quando vê que vai
atingir a população como um todo. O MP tentará sempre ir ao pé da letra, da
legalidade. Mas o bom senso precisa existir.
A senhora integra a bancada evangélica.
Fala-se que essa é a legislatura mais conservadora que já existiu. É isso
mesmo?
A Câmara é um reflexo da sociedade. Se
há uma bancada forte de evangélicos, é porque o número de evangélicos no DF,
creio, passa de 50% da população. É preciso achar um equilíbrio. Sabe o que é
muito ruim? É quando você vê uma bancada federal muito ligada nessa questão
conservadora e corrupta.
A Câmara Legislativa repete o perfil da
Câmara Federal? A bancada BBB — Boi, bala e Bíblia — reflete uma tendência do
eleitor, que está mais conservador?
Sabe por que o eleitor está mais
conservador? Porque os liberais não conseguiram resolver os problemas do país.
Praticamente afundaram o país em um mar de corrupção. Não há nada mais
conservador do que a bandeira do Brasil: “Ordem e Progresso”. Repare que não é
“Independência e Progresso”. A história do nosso país é dividida entre momentos
conservadores e momentos em que os liberais estiveram no poder.
Qual é a sua igreja? É a mesma de
Renato Santana (vice-governador do DF)?
Sim. Sou da igreja do pastor JB. O
pastor é ótimo. Nessa questão de igreja, cada um se sente bem em sua religião.
Mas não quero ser pastora, não tenho vocação para isso.
É contra o aborto e o casamento gay?
Sou contra o aborto. A pessoa tem
direito de se unir civilmente, vivemos em um país livre e democrático. O que
não pode é obrigar as igrejas que não têm esse entendimento a fazer esse tipo
de casamento.
Se o governo Rollemberg não der certo,
que perfil de político o eleitor de Brasília vai escolher?
Falo muito isso com o Rodrigo: o
governo dele tem de dar certo, senão a população de Brasília vai transferir o
título de eleitor para outro estado (risos). É muita decepção atrás da outra.
Qual foi o último governo que deu
certo?
O de Roriz. Foi o melhor governador que
teve. O penúltimo foi o do Cristovam (risos).
A senhora montou a cavalo muitos anos.
Em qual modalidade?
Laçava boi. Por isso sou brava desse
jeito, entendeu? Fiz um treino bom para ir à Câmara (risos). Tinha 15 anos
quando comecei. Sempre fui muito diferente, sempre gostei de esporte que não
era muito de mulher. Um dia falei para minha mãe: queria tanto aprender a
laçar, mas só homem faz isso. Minha mãe disse: “vai lá e aprende a fazer”.
Laçar boi é mais fácil do que laçar
eleitor?
Muito mais fácil (risos).
Está cursando direito?
Sim, no Uniceub. Pela manhã e algumas
matérias à noite. Faço três matérias, três vezes por semana, à noite. São os
dias que não tem plenário. E duas vezes na semana pela manhã. Todo deputado
tinha de voltar a estudar. Conviver com gente mais nova te recicla
automaticamente. Não quero que o advogado fale para mim o que tenho de fazer.
Hoje, já começo a discutir com a minha assessoria sobre inconstitucionalidade.
Pensou mesmo em se tornar
conselheira do TCDF?
Se falar que não pensei, é mentira. Mas
nunca saí pedindo voto. Meu filho disse um dia: “Ah, você trabalharia menos”.
Tive realmente vontade de ir, claro. Mas sou muito nova, né? Talvez fosse
a coisa mais confortável a se fazer, mas também a mais covarde. Seria uma saída
estratégica, honrosa e covarde.
Nascida em Goiânia, Celina Leão tem fortes raízes
na cultura agropecuarista. Aos 15 anos, começou a praticar a arte do laço de
boi. Com a irmã, Ludmila, participou de torneios por todo o país e chegou a
vencer provas
A mãe e o futevôlei, as maiores paixões
Minha família morava em Brasília, só
que eu nasci em Goiânia. Minha avó morava lá, e minha mãe queria ficar perto
dela quando desse à luz. Meu pai tinha uma empresa de engenharia aqui.
Morávamos no Lago Norte, nossa casa foi uma das primeiras do bairro. Minha casa
no Lago é na QI. Só que, há muitos anos, você via o lago porque não tinha nada
em volta. Fiquei em Brasília até os seis anos, depois voltamos para Goiânia. Só
retornamos para Brasília em 2001. Minha mãe, Maria Célia, sempre quis voltar para
cá. Ela tem uma paixão por Brasília. Ela é uma mulher de gênio muito forte,
muita coisa da política herdei dela. Foi a primeira mulher de Goiás a se
separar judicialmente. Foi muito corajosa ao enfrentar a sociedade. Ela me
ensinou muito. Sempre trabalhou com mulheres vítimas da violência. Minha mãe
foi secretária de estado em Goiás. Nossa casa era sempre palco de mulheres
vítimas de violência. Ela trabalhava com Consuelo Nasser (jornalista, advogada
e feminista). As duas militavam muito. Minha mãe sempre falou que as mulheres
tinham de participar da política, ela fundou quase 200 diretórios do PMDB
Mulher. Vivi minha infância vendo isso. Sempre gostei de política e admirei
muito minha mãe porque ela acreditava que a mulher podia fazer um trabalho diferente.
Gosto de jogar futevôlei. Treino sempre. Todo mundo tem de ter uma válvula de
escape. Prefiro o esporte. Tem gente que lê, que escreve, que vai ao cinema, ao
teatro. Gosto de futevôlei. É uma pena que o Parque da Cidade esteja tão feio,
invadido, abandonado. Nunca vi tanta barraca no meio do parque, há um monte
delas sem organização. Vou reclamar para o governador. É inaceitável. Vou lá
duas a três vezes por semana, costumo ir à noite. Vocês precisam ver o tanto de
atletas de futevôlei que há em Brasília. Todos os clubes têm, muitas mulheres
jogam. A campeã mundial é daqui — a Lana, minha amiga.
"O governo de Rollemberg tem de
dar certo, senão a população de Brasília vai transferir o título de eleitor
para outro estado. É muita decepção atrás da outra”
"A Câmara é um reflexo da
sociedade. Se há uma bancada forte de evangélicos, é porque o número de
evangélicos no DF passa de 50% da população”
Fonte: Correio Braziliense – Fotos: Antonio Cunha/CB/D.A.Press –
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