Crises, mesmo as provocadas por sucessão de eventos
em que a falta de ética pública foi o ponto comum, têm o poder de reacender na
nação o desejo sincero na correção de rumos. É essa a chance que se apresenta
agora ao país: mudar, deixando de lado fórmulas que provaram não servir aos
interesses da sociedade. Para uma crise que se apresenta com séria profundidade,
contaminando não só o aparelho de Estado, mas a própria sociedade,
sequestrando-lhe a chance de segurança e bem-estar mínimos, somente reformas
profundas serão capazes de produzir efeitos satisfatórios, afastando, de vez, a
reincidência de antigos males. A começar pela reforma política, eliminando a
miríade de legendas, acabando, de vez, com tradição arraigada de que a carreira
política é o caminho mais curto para a espetacular e imediata prosperidade
econômica.
Na raiz da crise brasileira atual está a falta de
preparo prático e intelectual dos ocupantes de cargos públicos. A começar pela
chefia do Executivo. Para esse cargo, nas condições em que ele se apresenta,
com demasiada concentração de poderes e enormes responsabilidades
administrativas, o mínimo que deveria ser levado em conta, como condições sine
qua non, seria o preparo do candidato para o cargo. Ou seja, para o cargo de
presidente da República somente seriam considerados aptos candidatos que
passaram pela administração pública de base como prefeitos e governadores e que
tiveram, obviamente, a gestão devidamente aprovada pela maioria da população.
A crise atual, experimentada de forma
desesperançosa pelos brasileiros, é a prova maior e acabada do despreparo e da
gestão com colaboradores corruptos. Esse despreparo, catalisado ainda pelo
senso de onipotência e soberba, elevara às alturas a dissintonia entre o real e
o fictício, entre o ético e o oportunismo ligeiro. Alçados à condição de
soberanos, dentro de um modelo de presidencialismo de cooptação, Lula e sua
criação juntaram a falta de preparo evidente e o voluntarismo caboclo, em que
as ações de governo ficam sujeitas a instintos e pulsão primários, tipo faro
político, desprezando experiências, vivências, saberes e ciência, consideradas
coisas de burguês. Uma simples comparação entre o currículo pessoal do
presidente do EUA ou da chanceler alemã dá pequena noção do quão distante
estamos do conceito de estadista. Para um rebanho que segue um pastor cego (sem
conhecimento), o abismo é a paragem derradeira e certa.
A frase
que foi pronunciada:
“Um governo não pode gastar mais do que arrecada. Isso é uma
irresponsabilidade com o contribuinte.”
(Senador
Reguffe (PDT-DF), ao contrariar a orientação
do partido votando contra o PLN nº 5, que revê a meta fiscal, permitindo ao
governo fazer um deficit de R$ 119,9 bilhões)
Por: Circe Cunha – Coluna “Visto,
lido e ouvido” – Ari Cunha – Correio Braziliense – Foto/Ilustração: Blog -
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