"Temos que desenvolver um olhar mais ampliado com relação à
saúde. Em Brasília, o sistema é falido por causa da sobrecarga, mas também por
conta da precariedade da atenção básica" (Márcia Rollemberg, primeira-dama)
Márcia Rollemberg diz ter assumido a missão com vontade de fazer mais do
que cortar faixas. Com experiência de gestão na Esplanada dos Ministérios, ela
atua ativamente no Buriti. A ponto de opinar com severidade em assuntos
delicados, como a saúde
Ela não tem cargo no GDF, não despacha em gabinete
no Palácio do Buriti nem está no centro dos holofotes, mas é um dos nomes com
mais poder para decidir sobre os rumos da cidade. Márcia Rollemberg não gosta
do título de primeira-dama e prefere ser chamada de “colaboradora do governo”.
Com mais de duas décadas de experiência em gestão na Esplanada dos Ministérios,
onde ocupou cargos importantes nas áreas de saúde e cultura, ela se transformou
em uma das mais importantes interlocutoras e articuladoras do Buriti. Recebe
reclamações e críticas de lideranças comunitárias, articula programas com
secretários, toca projetos sociais, opina sobre os grandes temas, faz sugestões
e também críticas — quase sempre acatadas pela equipe do governador.
Márcia sempre manteve uma vida profissional
dissociada da atividade política de Rodrigo Rollemberg. Mas, quando o marido
assumiu o governo, ela decidiu deixar o cargo de secretária de Cidadania e
Diversidade do Ministério da Cultura, que ocupava havia três anos. Em um
primeiro momento, a opção de abandonar os próprios projetos pareceu difícil.
“Tive uma sensação de estranhamento com o fato de estar referenciada por ele,
não pela minha posição profissional. Hoje, posso dizer que me sinto mais
confortável para me posicionar e tenho clareza de onde posso ajudar”, revela.
“O cargo possibilita uma visão mais ampla, do todo, e posso contribuir
catalizando, impulsionando, valorizando, reconhecendo, às vezes criticando,
enfim, aperfeiçoando a gestão”, conta.
Márcia decidiu usar a experiência para ajudar o
marido e inaugurar um novo tempo na história das primeiras-damas do Distrito
Federal. “Quis definir um perfil e ressignificar esse lugar. Minha trajetória
profissional está no campo dos direitos dos cidadãos, de interação com a
sociedade civil. Percebi que poderia continuar tocando meu trabalho, mas em
outra posição”, explica. Formada em serviço social e educação artística pela
Universidade de Brasília, ela é casada com Rollemberg há 35 anos. O casal tem
três filhos e uma neta. A chegada ao Palácio do Buriti interferiu duramente na
dinâmica familiar. Depois de um ano de ajustes, as coisas entraram nos eixos e
eles tentam retomar alguns antigos hábitos, como descansar na fazenda da
família aos fins de semana.
Sobriedade
A primeira-dama comparece a cerimônias, eventos
políticos e solenidades ao lado do marido, sempre vestida de forma simples e
sóbria. Mas, nos bastidores, trabalha e articula como autoridade. “Já houve
situações em que percebi a surpresa dos interlocutores com o meu papel, com a
minha participação e conhecimento de determinadas áreas, como a saúde”,
reconhece.
A experiência na área não permite que Márcia tape o
sol com a peneira: ela reconhece que a saúde é hoje um dos grandes gargalos do
governo. “Há melhorias, mas elas ainda não se reproduzem na ponta. Enquanto não
expandirmos a atenção primária, ampliarmos as parcerias no campo da saúde, a
situação vai continuar delicada”, argumenta.
Márcia defende um amplo debate para a adoção do
modelo de parcerias com organizações sociais. O assunto é polêmico:
especialistas e integrantes do Ministério Público fazem dura oposição à
proposta. “Sou defensora de serviços públicos bem prestados e o modelo de
organizações sociais é um dos caminhos”. A ex-secretária de Cidadania e
Diversidade refuta as críticas de que a contratação dessas organizações seria
um abandono do modelo preconizado pelo SUS. “Eu participei da história do
Sistema Único de Saúde e coordenei a comissão dos 20 anos do SUS. Temos que
lembrar sempre que o sistema está muito além das filas dos hospitais”, argumenta.
“Temos que desenvolver um olhar mais ampliado com relação à saúde. Em Brasília,
o sistema é falido por causa da sobrecarga, mas também por conta da
precariedade da atenção básica.”
No primeiro ano de governo, Márcia se dedicou com
mais afinco a alguns projetos que ela considera especiais, principalmente na
área social. Exemplo maior foi a parceria com embaixatrizes, que ajudou a
conduzir o programa Embaixada de Portas Abertas, em que as representações
diplomáticas abrem as portas a estudantes brasilienses. No governo, ela ajudou
a pensar políticas para a área, como a criação da agência do trabalhador com
deficiência, a praça da acessibilidade e o debate sobre educação inclusiva e
especial.
Rodrigo Rollemberg costuma ouvir com atenção os
conselhos profissionais da mulher e tem dado cada vez mais autonomia para
Márcia atuar dentro do governo. “Sou uma gestora. Só na Esplanada trabalhei
durante 20 anos. Precisamos fazer uma gestão por evidências, trabalhar com
dados, com fatos, com mensuração. O achismo na gestão pública tem que ser
superado”, afirma a primeira-dama.
Fonte: Helena Mader – Foto: Minervino Junior/CB/D.A.Press - Correio Braziliense