A campanha Impeachment é Golpe é um golpe em si
contra as instituições porque tenta iludir o povo, escondendo que a interrupção
do mandado de presidente está prevista na Constituição. É golpe também contra a
história ao tentar confundir essa campanha com a campanha do Brizola, com arma
na mão contra os tanques do Exército que cercavam as instituições. A eleição do
Cunha e o que tem sido visto na Câmara dos Deputados nas últimas semanas é
golpe diário dado na consciência da envergonhada população brasileira. Mas
esses dois são apenas exemplos de golpes que o povo brasileiro vem sofrendo.
Os governos Dilma e Lula deram golpes ao se
apropriarem da máquina do Estado como se fosse propriedade dos partidos da
coalizão. Petrobras, Eletrobras, Nuclebras, Correios foram saqueados por
propinas e manipulações para servir a propósitos eleitorais: o desmonte dessas
empresas foi golpe contra as instituições econômicas. Manipular as contas
públicas e tratá-las sem responsabilidade foi golpe contra a sociedade
brasileira, ao comprometer o funcionamento do governo e o futuro do país,
provocando inflação e corte de verbas em setores prioritários.
Perder a guerra contra um mosquito que agora
provoca uma das nossas maiores tragédias epidêmicas foi golpe sério contra a
população. Sem esquecer o golpe de deixar sem pleno desenvolvimento intelectual
milhões de crianças que não recebem a educação necessária para o aproveitamento
dos cérebros normais. Adotar o slogan publicitário Pátria Educadora apenas para
efeito de marketing é golpe na alma do povo brasileiro.
É golpe contra o povo ter reduzido a tarifa de luz
para ganhar votos, sabendo que teria de elevá-la logo depois da posse e, mesmo
assim, deixando o sistema elétrico desorganizado. Como também é golpe encher de
tristeza e perplexidade toda a população brasileira, inclusive os antes
combativos militantes do PT.
É longa a lista de gestos golpistas dados pelo
governo e os partidos que apoiam a presidente Dilma. Mas é também golpe dizer
que o impeachment da Dilma resolverá os problemas do Brasil. É golpe não
alertar que, qualquer que seja o novo presidente, o Brasil não vai se
reconstruir sem grandes reformas estruturais que exigirão sacrifícios da
população. Esconder isso é como reduzir tarifas para ganhar eleição: é golpe.
O Brasil tem sido golpeado e o impeachment não é
golpe porque está previsto na Constituição, mas para ele ser dado é preciso seguir
rigorosamente a Constituição nos artigos que definem as causas e os ritos do
impeachment. Será golpe não analisar, avaliar e julgar se a presidente cometeu
os crimes previstos na Constituição para justificar a interrupção de seu
mandato.
Se tivéssemos um regime parlamentarista, poderíamos
interromper o mandato do chefe de governo, o primeiro-ministro, apenas por
motivos políticos, sua incompetência, sua perda de credibilidade e de
confiabilidade, mas no presidencialismo o presidente é também chefe de Estado,
representa a nação e, por isso, tem mandato. Sua substituição exige o rigor e o
cuidado da lei. Caso contrário, seria golpe, mesmo que desejado pela maioria.
Mas também é golpe comprovar que ela cometeu crime e votar contra o
impeachment por apego a cargos no governo ou por ser do partido que a apoia. O
governo Dilma é tão reconhecidamente ruim por ter feito o que seu ministro da
Fazenda e seu marqueteiro queriam e por estar tão rodeado de corrupção que a
quase totalidade da população percebe que mais três anos de governo seriam
desastrosos para o Brasil, mas também seria desastroso substituí-la antes do
prazo sem seguir a Constituição.
O melhor para o Brasil é que o
processo de impeachment continue, sem golpes contra as instituições políticas para
podermos consertar seus golpes contra nossas instituições econômicas e sociais,
contra a imagem do Brasil no exterior e contra nossa autoestima nacional.
(*) Cristovam Buarque - Professor emérito da UnB e senador pelo PDT-DF –
Foto/Ilustração: Blog – Google – Fonte: Correio Braziliense