Pista simples Além de não ser duplicada, a BR-251
conta com um tráfego intenso de caminhões e longos trechos em descida
Imprudência Na BR-020, a reportagem flagrou vários
pedestres e ciclistas cruzando a via, que tem velocidade de 80km/h permitida
A temporada de férias está aberta, e a expectativa
é que o movimento nas rodovias se intensifique a partir deste fim de semana.
Entre as principais estradas que cortam o Distrito Federal, as mais
movimentadas são a BR-020 e a BR-040, que levam, respectivamente, ao Nordeste e
ao Sudeste do país. Não por coincidência, são justamente as com os maiores
registros de acidentes fatais. Este ano, as duas BRs foram palco para mais da
metade das mortes nas rodovias federais da região.
Segundo informações da Polícia Rodoviária Federal
(PRF), de janeiro a novembro último, a BR-020 contabilizou 632 acidentes, com
54 mortos, 155 feridos graves e 556 feridos leves. A BR-040, por sua vez, teve
780 ocorrências, 54 óbitos, 150 feridos graves e 514 feridos leves. Das sete rodovias
monitoradas pela Superintendência da PRF no DF, a 020 e a 040 respondem,
juntas, por 65% dos acidentes e 56% dos mortos (veja quadro).
Na última semana, o Correio percorreu parte da
BR-020, a campeã no ranking de fatalidades, e da BR-251. Nessa última, o
principal perigo é a pista simples, com longos trechos de descida e fluxo
intenso de caminhões. Para piorar, em alguns trechos, há homens e máquinas na
rodovia. Apesar disso, a sinalização e o acostamento estão em boas condições.
Na BR-020, a reportagem se deparou com trechos de asfalto irregulares,
sobretudo do Km 13 ao Km 20, chegando a Planaltina, sentido Formosa (GO). Em
toda essa extensão, há desníveis entre as faixas de direção, denunciando que
ali muitos buracos foram tapados, em vez de a via receber recapeamento
completo. Na altura de Planaltina, o fluxo é desviado em meia pista, já que
operários ainda pintam a sinalização do solo.
Mas nem tudo se resume às
condições da pista. O comportamento imprudente de condutores e pedestres
evidencia o desrespeito às normas de trânsito. Apesar do tráfego intenso ao
longo de toda a BR-020, cuja velocidade média é de 80km/h, pessoas se arriscam
ao atravessar de um lado para o outro. Um dos flagrantes que mais chamou a
atenção se deu próximo a um ponto de ônibus, quando uma mulher cruzou a pista
acompanhada de duas crianças exatamente embaixo de uma passarela. Ao ser
abordada pela reportagem, ela se recusou a dar entrevista justificando que
estava com pressa.
O caminhoneiro Aílson Martins, 49 anos, não se assusta mais com as cenas
de imprudência. Na atividade há duas décadas, ele usa a BR-020 como uma das
rotas para entregar cargas de soja entre o Distrito Federal e cidades do
Nordeste.
“Predominam nas estradas o
desrespeito e a irresponsabilidade dos condutores. Vejo de tudo no dia a dia:
ultrapassagem em faixa contínua e pelo acostamento. Tem muita gente
irresponsável”, descreve. Sobre as condições da BR-020, ele critica as
ondulações em alguns trechos. “Não há segurança na estrada ou atuação dos órgãos
de trânsito. Os policiais rodoviários só ficam nos postos, dentro das cabines.
Temos que ser prudentes por nós mesmos, pois as autoridades não fazem nada para
nos dar segurança.”
No outro extremo do DF, Claudinei Sanches, 43,
transita com frequência pela BR-040. Como foi privatizada recentemente, quase
toda a extensão dessa rodovia está em obras. Apesar disso, Claudinei diz não
ter encontrado percalços, embora ache, em geral, as estradas brasileiras
sucateadas. “Atenção é a palavra-chave”, adverte.
Dicas
Na capital federal, não há metodologia que aponte o
grau de periculosidade das rodovias, visto que a extensão, o fluxo e as
características são totalmente diferentes de uma para outra. “As que registram
o maior número de acidentes são as BRs 020 e 040, mas não temos como dizer qual
é a mais perigosa, pois a 040 tem 165km de extensão e a 020, 310km”, explicou a
PRF, por meio da assessoria.
Ainda assim, o número de acidentes
nas duas principais rotas de saída do DF serve como alerta para quem vai pegar
a estrada. De acordo com Pâmela Pereira, agente da PRF, além de evitar a fatal
combinação álcool-direção e o uso do celular ao volante, os condutores devem
planejar o antes, o durante e a volta da viagem. “Vale se informar sobre as
distâncias a serem percorridas, as condições do tempo, os pontos de parada, a
existência de postos de combustíveis e de restaurantes à beira da estrada.
Também não pode esquecer documentação pessoal e do veículo”, explica.
Segundo Pâmela Pereira, também é importante fazer
uma revisão preventiva do veículo, que inclui a checagem na parte mecânica e
nos itens de segurança. Se a viagem for muito longa, o condutor deve ter
dormido bem e programar paradas a cada três horas. E, claro, não se esquecer do
cinto de segurança, obedecer aos limites de velocidade e às condições de
ultrapassagem.
Pesquisa encomendada pela Confederação Nacional do
Transporte mostra que as deficiências nas estradas brasileiras causam um
prejuízo anual de R$ 46,8 bilhões ao país. O estudo, divulgado em novembro
passado, percorreu mais de 100 mil km de rodovias pavimentadas por todo o
Brasil, um acréscimo de 2.288km (2,3%) em relação à pesquisa de 2014. Segundo a
CNT, 48,6% da extensão avaliada apresentam algum tipo de problema no pavimento,
sendo 35,4% regular; 10,1% ruim e 3,1% péssimo.
Fonte:
Alexandre Santos/Especial para o Correio – Adriana Bernardes – Fotos: Marcelo
Ferreira/CB/D.A.Press – Correio Braziliense