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Brasília por outro ângulo - Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (Pdad) - 2013 - 2015

Há uma visão dominante, marcada por nossa experiência cotidiana e dados, de que o Plano Piloto concentra a maioria dos empregos do Distrito Federal e que prevalece a dinâmica de região mononucleada, circundada por cidades-dormitório, com movimento pendular de pessoas entre periferia e centro. Argumentamos aqui que esta não é a única forma de se ver a cidade. Podemos pensar a cidade polinucleada e de trânsito circular intenso de pessoas entre Regiões Administrativas (RAs), e não só radial, centro-periferia?

Os dados da Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (Pdad) de 2013 da Codeplan nos mostram a cidade por esse ângulo. Há uma realidade ignorada que apresenta uma cidade diferente. A pesquisa identifica os locais de moradia e de trabalho das populações de todas as RAs do Distrito Federal. Quando fazemos esse cruzamento, descobrimos alguns números interessantes que jogam luz a outras dinâmicas de movimentação populacional diária.

Sim, a maior parte dos habitantes do Distrito Federal, 43%, trabalha no Plano Piloto. Mas isso é menos da metade. Desses, parcela significativa mora no próprio Plano Piloto (17%). Se somarmos lagos Sul e Norte, Sudoeste/Octogonal, Cruzeiro, Park Way e Jardim Botânico, áreas nobres e centrais, chegamos a 30%. Expandindo um pouco mais esse núcleo para incluir Guará, Águas Claras e Sobradinho II, que concentra vários condomínios de classe média e alta, chegamos a 45% do contingente de trabalhadores do DF. Ou seja, menos da metade da população do DF trabalha no Plano Piloto e quase a metade dos que trabalham moram também nas regiões centrais.

A porcentagem que se locomove das cidades mais periféricas para o centro é, portanto, minoritária. O grosso dos problemas de mobilidade que afetam o Plano Piloto com superpopulação de carros é resultado do comportamento de segmentos sociais que moram no centro e, provavelmente, pela falta de oferta de transporte público de qualidade para esses setores.

A pergunta óbvia é, e o resto da população? É válido verificar se há outros polos de geração de empregos. Taguatinga é o local de trabalho de 8% da população e Ceilândia responde por 7%. Dos que trabalham em Taguatinga, 44% moram na própria cidade, 11% se locomovam de Ceilândia, 16% de Vicente Pires, 9% de Águas Claras, 9% de Samambaia, 9% de Recanto das Emas e 10% de Riacho Fundo II. Já em Ceilândia, 37% moram na própria cidade e esta absorve mão de obra de Taguatinga (4%), Brazlândia (2%), Samambaia (3%) e Vicente Pires (5%). Ou seja, há outros polos que atraem trabalhadores de distintas localidades do DF, em fluxo contrário ao Plano Piloto.

Outro dado interessante: na média entre as RAs, 30% dos trabalhadores não estão empregados na cidade em que mora nem no Plano Piloto, indicando grande movimento de pessoas entre distintas RAs. Além disso, 8% da população do DF trabalham em várias localidades. Há grupo relevante de pessoas que se locomovem entre RAs, em estrutura de mobilidade muito mais clara de rede, circular, do que pendular.

Outra forma de entender esse fenômeno é também observar a porcentagem de pessoas que trabalha na própria RA em que habita. Em média, 28% da população de cada RA trabalham na cidade em que mora. Esse valor varia de 90% no Plano Piloto até 7% no Sudoeste. Contudo, há alguns casos intermediários importantes. Nas cidades mais distantes, como Fercal, Brazlândia, Sobradinho, Gama, Planaltina, em média 47% das populações trabalham na mesma cidade em que moram. Como vimos, algo semelhante ocorre em Taguatinga e Ceilândia. Ou seja, em alguns casos, a cidade deixa de ser apenas dormitório.

E, como os dados da Pdad de 2015 começam a mostrar, quem trabalha na cidade que mora tende a usar menos o carro para se locomover e a usar mais bicicleta, ônibus e a andar a pé. Dados de 2015 já consolidados para 10 regiões administrativas do DF localizadas mais distantes do centro mostram que entre os que trabalham na própria RA em que moram, na média, 40% vão a pé para o trabalho. Isso representa o dobro dos usuários de carro e de ônibus, empatados em 22%.

Em suma, uma outra cidade é possível. Os dados acima permitem vislumbrar outro Distrito Federal, mais integrado, com dinâmica circular e não só radial de mobilidade urbana, com distribuição maior da força de trabalho pelo território e com o uso de modos de transporte variados nos locais onde pessoas moram e trabalham. Avançar nessas direções não é só necessário e possível, é plausível.


Por:Lucio Rennó - Cientista político e presidente da Codeplan – Fonte: correio Braziliense – Foto/Ilustração: Blog - Google

1 Comentários

  1. Importante pesquisa, espero que seja usada nos estudos e ações de mobilidade do DF.

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