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Cadê o emprego?

Hábeis no jogo semântico, as autoridades brasileiras insistem em fazer cara de paisagem diante do progressivo agravamento da crise econômica interna. Com a repetição do falso mantra, o Executivo garante que o Brasil foi empurrado para a recessão por conta principalmente de fatores externos. O mais incrível é que a mesma visão, que consegue enxergar a longas distâncias, se mostre incapaz de perceber o que se passa perto, dentro do próprio quintal.

Está cada vez mais difícil para o governo esconder a verdade e minimizar os estragos do agravamento da crise, como mostram os indicadores negativos da economia. O fato de o país ter fechado 1,5 milhão de vagas com carteira assinada em 2015, pior resultado desde 1992, não será, para a equipe do Planalto, “capaz de destruir as conquistas dos últimos anos”.

Já a indústria, que sempre foi considerada o principal motor do desenvolvimento, foi o setor que mais demitiu. Para complicar o caso, o governo e sua equipe são vistos com severas desconfianças por grande parte do mercado. Essa falta de credibilidade decorre não só da insistência em esconder, camuflar e maquiar os dados da economia, mas da progressiva perda de legitimidade política.

Mesmo a outrora independente Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) reconheceu, a contragosto, em manifesto lançado nesta semana, que o governo Dilma “não tem legitimidade para criar ou aumentar impostos”, já que “não tratou de aumento de carga tributária ou de criação de tributo durante a sua campanha eleitoral”.

De todos os males decorrentes da retração da economia, nenhum é mais nefasto e sintomático do que o fechamento de postos de trabalho. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) alerta para a queda severa no mercado de trabalho para os brasileiros em 2016, talvez uma das maiores do mundo. “O Brasil, diz a entidade, terá um a cada três novos desempregados em 2016 no mundo. Serão, segundo a OIT, 700 mil trabalhadores sem emprego em 2016, com uma taxa negativa de 7,7% até ao fim do ano. Com a perda do emprego, perdem-se também e por completo as perspectivas de retomada do crescimento a curto e médios prazos.

Contrariamente à visão cor-de-rosa do governo, o Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê que o Brasil terminará 2016 com retração de 3,5% do Produto Interno Bruto (PIB). Pior, economistas de renome acreditam que a economia brasileira não deverá crescer antes do fim da década.

Para complicar ainda mais o cenário, estudo apresentado pelo World Economic Forum (WEF), em Davos, na Suíça, alerta para as consequências do fenômeno das novas tecnologias digitais e a impressão 3D que, segundo eles, pode causar a perda de 5 milhões de emprego nos próximos 5 anos, nas principais potências mundiais e emergentes, incluindo, com destaque, o Brasil.

Quando a chamada quarta revolução industrial alcançar o Brasil, com seus efeitos deletérios, encontrará um país, que, por conta de um desgoverno visível, recuou quase duas décadas no tempo. Pelo andar dos acontecimentos, o país terá ainda que aguardar mais três anos apenas para retomar o que foi conquistado a partir do fim da década de 1990. Haja paciência.


Por: Circe Cunha – Coluna: ”Visto, lido e ouvido” – Ari Cunha – Correio Braziliense- Foto/Ilustração: Blog - Google

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