Na última votação de 2015, deputados aprovaram, em
primeiro turno, a reeleição para a presidência da Casa por dois anos
Nem sempre os oposicionistas se posicionaram contra
o governo na Câmara Legislativa em 2015. E o Executivo também sofreu com o fogo
amigo em decisões importantes. Nos bastidores, a explicação é que Rollemberg
distribuiu mal os cargos
No primeiro ano de mandato, o
governador Rodrigo Rollemberg (PSB) teve notórias dificuldades na relação com a
Câmara Legislativa. Apesar de conseguir aprovar a maior parte dos projetos
enviados, o chefe do Executivo penou para terminar o ano com vitórias. O
socialista segue sem uma base consolidada no parlamento local e viu matérias
importantes, como os aumentos no IPTU, na Taxa de Limpeza Pública e na
Contribuição de Iluminação Pública, serem rejeitadas em plenário, além de ser
obrigado a retirar outras da pauta. Rollemberg precisa resolver a situação
ainda no início de 2016. Com esse objetivo em mente, o GDF fez um levantamento
para ver quem são os aliados e como cada deputado distrital votou nas
proposições governistas enviadas à Casa.
O resultado pode surpreender quem não
acompanhou o andamento dos trabalhos durante o ano. O deputado Chico Vigilante
(PT), por exemplo, é o sexto que mais votou de acordo com o Buriti.
Oposicionista declarado de Rollemberg, mas apelidado de “líder do governo”
pelos outros distritais, o petista disse sim em 86 das 95 votações de projetos
do governo — por três vezes foi contrário e, nas outras seis, ou se absteve, ou
não estava durante a votação (veja quadro). “Fazemos uma oposição responsável.
O que for bom para Brasília, votaremos”, apontou Vigilante.
Por outro lado, Raimundo Ribeiro
(PSDB), que indicou o secretário de Justiça e atuou como líder do governo nos
primeiros três meses de 2015, fica lá pelo fim da lista: o tucano só acompanhou
o Executivo nas votações em 59 vezes — em 36 oportunidades, não se posicionou.
Julio Cesar e Celina Leão:duas lideranças em questão
Entre os
parlamentares, é unânime o entendimento de que Rollemberg distribuiu mal os
cargos. A frase dita por Juarezão (PRTB) no caso dos áudios que vazaram da
reunião da base com o governador em junho — “O bolo tem que ser fatiado por
igual”, em clara referência à negociação de espaço dentro da máquina — ecoa até
hoje. Afinal, quando foi eleito, o socialista tinha como slogan fazer uma nova
política, pautada pela transparência e sem fazer negociações de “toma lá, dá
cá”. A posição não se manteve e ele acatou indicações de quatro deputados para
secretarias, enquanto outros abocanharam apenas administrações regionais. No
fim das contas, a disparidade no número de apadrinhados no GDF impediu uma
solidez na base no Legislativo.
Lideranças
Isso se reflete de maneira contundente
no cargo de líder do governo na Casa. Ribeiro ficou apenas entre janeiro e
março, alegou proximidade entre os governos de Rollemberg e da presidente da
República, Dilma Rousseff (PT), e não quis continuar como articulador
governista. Desde então, quem ocupa a vaga é Julio Cesar (PRB). Apesar de só
ser superado por Luzia de Paula (Rede) nas votações junto ao Executivo, o
parlamentar evangélico não é tido como um dos maiores aliados de Rollemberg.
Tanto é que o deputado Agaciel Maia
(PTC), presidente da Comissão de Economia, Orçamento e Finanças (Ceof) da Casa
e um dos mais próximos ao governador, é tido como “líder informal do governo”.
Em outubro, o GDF chegou a procurar outros interessados no cargo: os nomes de
Chico Leite (Rede), Israel Batista (PV) e, principalmente, Cláudio Abrantes
(Rede) foram ventilados. Mas ninguém quis assumir a responsabilidade. Nos
corredores, a procura por um novo líder continua a ser considerada em 2016.
Uma liderança ainda maior causa
preocupação no Executivo: a presidência da Câmara Legislativa, ocupada por
Celina Leão (PDT), com a bênção e a ajuda fundamental de Rollemberg no início
do ano. Com a pretensão de alçar voos ainda mais altos, como deputada federal
ou governadora, a pedetista dedicou os últimos meses a emplacar a emenda à Lei
Orgânica do DF que permite a reeleição no posto máximo da Casa por mais dois
anos no mesmo mandato. Em 14 de dezembro, quase no apagar das luzes do ano
legislativo, Celina conseguiu votos de 16 deputados e aprovou a matéria em
primeiro turno. Boa parte dos esforços dela no próximo ano será a votação em
segundo turno. Assim, ela poderia ser reeleita pelos colegas no fim do ano e se
tornar concorrente de Rollemberg numa futura corrida pelo Palácio do Buriti.
Diante do governo Deputado - Nº
de projetos Sim- Falta ou abstenção Não
*Luzia de Paula (Rede) 95- 94- 1 0
*Júlio César (PRB) 95- 89- 6 0
*Reginaldo Veras (PDT) 95- 89- 3 3
*Lira (PHS) 95- 87- 8 0
*Agaciel Maia (PTC) 95- 86- 9 0
*Chico Vigilante (PT) 95- 86- 6 3
*Rodrigo Delmasso (PTN) 95- 84- 9 2
*Sandra Faraj (SD) 95- 81- 14 0
*Juarezão (PRTB) 95- 80- 15 0
*Ricardo Vale (PT) 95- 77- 12 6
*Bispo Renato Andrade (PR) 95- 77- 15 3
*Celina Leão (PDT) 95- 76- 19 0
*Telma Rufino (sem partido) 95- 76- 19 0
*Wasny de Roure (PT) 95- 74 -15 6
*Rafael Prudente (PMDB) 95- 73 -22 0
*Israel Batista (PV) 95- 73- 22 0
*Cristiano Araújo (PTB) 95- 72- 23 0
*Liliane Roriz (PTB) 95- 66- 29 0
*Joe Valle (PDT)* 75- 60- 15 0
*Raimundo Ribeiro (PSDB) 95- 59- 36 0
*Wellington Luiz (PMDB) 95- 58- 34 3
*Chico Leite (Rede) 95- 55- 39 1
*Robério Negreiros (PMDB) 95- 53- 42 0
*Cláudio Abrantes (Rede)** 53- 42 -11 0
*Dr. Michel (PP)** 42- 34- 8 0
*Roosevelt Vilela (PSB)* 20- 18- 2 0
*Joe Valle (PDT) deixou a Câmara em
outubro para assumir a Secretaria de Trabalho, Desenvolvimento Social e
Direitos Humanos, criada para acomodar o PDT. O suplente Roosevelt Vilela (PSB)
assumiu o lugar dele.
**Em setembro, o distrital Dr. Michel
(PP) foi escolhido pelos parlamentares como conselheiro do Tribunal de Contas
do DF. Cláudio Abrantes (então no PT, hoje na Rede) o substituiu na Câmara.
Fonte: Guilherme Pera – Foto: Carlos
Moura/CB/D.A.Press – Correio Braziliense