No último domingo, dois bandidos invadiram bloco da
203 Sul, fizeram reféns e levaram tevês, celulares, roupas, joias, notebook, R$
5 mil e dois carros
Série de roubos cometidos na primeira quinzena de
janeiro faz com que o GDF reformule a central de operações do 190, acelere o
atendimento de ocorrências e redistribua servidores. Reunião de emergência
definiu as alterações
Os recentes episódios de violência no
Distrito Federal assustam a ponto de o governador Rodrigo Rollemberg (PSB)
convocar uma reunião de emergência com a cúpula da segurança pública.
Coincidência ou não, isso aconteceu depois dos ataques a residências da Asa Sul
e do Lago Sul, na última semana. Na tarde de ontem, o socialista reuniu a
equipe para planejar ações na área e tentar frear a onda de crimes. Uma das
medidas é reformular o canal de emergência 190, alvo de reclamações da
população, que alega demora no atendimento. O GDF deve remanejar servidores de
setores administrativos para complementar as vagas da Central Integrada de Atendimento
e Despacho (Ciade). Só em dezembro, a Ciade recebeu 229.269 ligações. Do total,
181.399 resultaram em ocorrências.
Em 2 de janeiro, surgiu o primeiro
relato de roubo à mão armada: assaltantes invadiram uma joalheria de um
shopping da Asa Sul. Dois dias depois, outra loja especializada em joias sofreu
um ataque na comercial da 302 Sul, assim como, em 11 de janeiro, mais uma
joalheria, no Lago Sul, foi alvo de assaltantes. Invasões de residências também
se tornaram frequentes. Foram registradas ocorrências no Lago Sul, Lago Norte,
Núcleo Rural Lago Oeste e na Asa Sul. Em alguns casos, os bandidos fizeram
reféns. E em um deles, um garoto de 12 anos levou uma facada ao defender a mãe
de um criminoso. Os roubos aconteceram em um curto intervalo de tempo.
"Nesse fim de semana, apreendemos 15 armas e,
durante duas semanas, a PM não teve expediente administrativo para reforçar o
patrulhamento"
(Rodrigo Rollemberg, governador do DF)
O governador afirma ter intensificado o
policiamento com 600 homens a mais nas ruas. “O comandante da Polícia Militar
está trocando o expediente administrativo alguns dias da semana, colocando todo
o efetivo nas ruas. Nós vamos fazer algumas reformulações na central de
informações e de operações da PM, o 190, para garantir maior agilidade à
população de Brasília”, reforça Rollemberg.
O socialista ressalta que mudou a
rotina de trabalho da corporação a fim de evitar os delitos. “Reforçamos o
policiamento na última semana. Nesse fim de semana, apreendemos 15 armas e,
durante duas semanas, a PM não teve expediente administrativo para reforçar o
patrulhamento. Vamos continuar reforçando o policiamento para evitar o crime”,
afirmou o governador.
No domingo, duas mulheres sofreram
assalto à mão armada ao lado de um shopping próximo ao Lago Paranoá. Um dia
antes, dois homens abordaram o porteiro de um prédio na 203 Sul e chegaram até
a garagem. Lá, esperaram por uma hora e meia até assaltar um morador no momento
em que ele estacionava o carro. A dupla subiu para o apartamento e amarrou
todas as vítimas. Os criminosos roubaram três televisões, celulares, roupas,
joias, um notebook, R$ 5 mil, dois carros e documentos pessoais. Ainda levaram
uma mulher para sacar dinheiro em um banco e, depois, abandonaram-na em
Valparaíso.
O encontro de ontem para tratar dos
assaltos reuniu o comandante-geral da PM, coronel Marco Antônio Nunes; o
comandante-geral do Corpo de Bombeiros, coronel Hamilton Santos Esteves Júnior;
o diretor-geral da Polícia Civil, Eric Seba; o diretor-geral do Detran-DF,
Jayme Amorim, a secretária de Segurança Pública e da Paz Social, Márcia de
Alencar; e o assessor de Gestão Estratégica e Projetos da Secretaria de
Segurança Pública, Haroldo Areal (leia Quatro perguntas para).
Impunidade
Segundo o professor e pesquisador de
segurança pública da Universidade Católica de Brasília Nelson Gonçalves, é
comum os índices de roubos a residências crescerem entre dezembro e janeiro. “É
um fenômeno típico desse período de férias, pois as pessoas estão ausentes das
casas. Se você olhar os números dos anos anteriores, perceberá que sempre há
essa oscilação”, explica.
Ele elogia as ações do Executivo local,
mas afirma que os bandidos são profissionais, e o governo deve agir rápido.
“Quando ações provocam certa pressão em cima de um fenômeno criminal, há um
deslocamento quase que natural desses indivíduos para outros tipos de crime”,
explica. O especialista acredita que a sensação de insegurança em Brasília é
resultado de vários fatores. “Aliado ao fato de as casas estarem desocupadas,
há uma percepção de impunidade por parte dos criminosos que os leva a serem
mais ambiciosos. Além disso, há a mudança na forma de agir dos bandidos pelas
ações do governo”, conclui.
Memória - Crise no setor
Em um ano com poucos recursos
disponíveis para investimentos, Rodrigo Rollemberg tentou fazer dos bons
índices de violência uma marca do governo. No fim de outubro, contudo, surgiu a
primeira crise na área. Após a Polícia Militar realizar uma ação sem comunicar
a Secretaria de Segurança Pública, o chefe do Executivo local decidiu demitir o
comandante da PM. Foi um dos momentos mais agudos de 2015, quando o governo
enfrentava paralisação geral dos servidores e policiais retiraram à força
grevistas do Eixão Sul. À época, porém, coronéis da corporação afirmaram que
ninguém assumiria o posto em solidariedade a Florisvaldo César e fizeram o
governador recuar. Quem pediu para sair, então, foi o então secretário de
Segurança, Arthur Trindade. Após mais de dois meses em busca de alguém para
assumir a função, o governador escolheu uma subsecretária e também mudou o
comando da PM.
Quatro perguntas para Haroldo Areal, assessor
de Gestão Estratégica e Projetos da Secretaria de Segurança Pública e da Paz
Social do Distrito Federal.
O que foi discutido na reunião com o
governador e a cúpula da segurança pública?
Fomos tratar da reestruturação da Ciade
(Central Integrada de Atendimento e Despacho). A secretária (Márcia de Alencar)
me convidou, porque eu era coordenador do grupo técnico no qual participavam a
Secretaria de Segurança e as quatro forças (Polícia Militar, Polícia Civil,
Corpo de Bombeiros e Detran) para propor um redesenho da Ciade. Como estava
presente o governador e os chefes das forças de segurança, ela me levou para participar
da reunião. O grupo técnico encerrou os trabalhos e, para dar concretude ao que
se pretendia, vão transformar o grupo em uma comissão executiva coordenada pelo
subsecretário de Operações de Segurança Pública. A primeira coisa em que se vai
tomar providência é no reforço das linhas de atendimento da Ciade. Em algumas
mesas, precisam ser colocados mais profissionais e, de imediato, alguns
policiais da secretaria, que estão em cargos administrativos, serão deslocados.
Quais outras medidas ficaram de ser
articuladas?
O próprio comitê se encarregará de
operacionalizar as medidas. Mas, hoje, o sistema que trata os chamados está
sendo modernizado e será feita a implantação de um novo sistema com uma base de
dados melhor integrada entre as forças de segurança. Também terá uma política
de pessoal que envolve a Ciade, com escalas de trabalho e plantões, para
oferecer maior eficiência. E, apesar da redução de 1,2 mil policiais militares
que foram para a reserva, haverá reforço na Operação RIC (Redução dos índices
de Criminalidade) da Polícia Militar com mais 600 militares na atividade
finalística.
E em outras áreas, o que ficou
decidido?
No âmbito da Polícia Civil, falou-se de
cumprimentos de mandados para tentar reforçar e aumentar as operações nas duas
próximas semanas. Em relação às blitzes do Detran, ainda está em avaliação.
A reunião foi motivada por causa dos
recentes episódios de violência?
A reunião já estava prevista quando a
secretária assumiu para avaliar como as atividades estavam caminhando. Quando
se começa a ter ocorrências como as últimas que aconteceram, toca em área mais
sensível e acaba entrando na pauta da reunião.
Fonte: Isa
Stacciarini – Matheus Teixeira – Fotos: Ed Alves/CB/D.A- Press – Correio
Braziliense