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Saúde na sala de espera

Na saúde de uma única pessoa, como de uma população inteira, o mais importante e urgente é o diagnóstico correto — o primeiro e mais eficaz remédio. Na gestão pública, não é diferente. Estratégias e planejamentos racionalizados seguem o caminho apontado pela análise dos problemas, as causas e possíveis medidas profiláticas.

No caso da saúde pública no Distrito Federal, que ao longo dos anos vem acumulando sequência ininterrupta de falhas de toda ordem, chama a atenção a ausência de mecanismos de profilaxia, ações preventivas. A dinâmica das mudanças de governo não deve nem pode servir de pretexto para interrupções desse serviço essencial ao cidadão. Na verdade, a saúde da população começa ainda bem longe dos hospitais, com serviços básicos de ações preventivas, equipes em campos avançados, trabalhando junto das comunidades com o propósito de esclarecer, orientar e instruir o cidadão.

Da reunião entre o governador Rodrigo Rollemberg e os diretores dos 16 hospitais da rede pública do DF, um primeiro diagnóstico dos problemas da área aponta a questão do fator humano como principal e grande causa da situação de caos vivida pelo setor: desorganização das escalas dos profissionais (médicos, enfermeiros e pessoal técnico de apoio), além da má distribuição e da falta de medicamentos, equipamentos e acessórios em geral.

Assim como a comunidade carece de serviços de saúde preventiva, o sistema público de saúde necessita, com urgência, de processo permanente de formação e fiscalização de recursos humanos. A capital do país é a unidade federativa que conta com o maior número de médicos atendendo na rede pública de saúde. São 4,28 profissionais para cada grupo de mil pessoas. São 10.173 médicos, entre especialistas e generalistas, listados na folha de pagamento da Secretaria de Saúde e, teoricamente, à disposição diuturna dos brasilienses.

Apesar do número satisfatório, têm sido frequentes os casos de não atendimento ao cidadão por falta de profissionais ao trabalho. Salta aos olhos da população que, mais do que a escala mal administrada, a presença dos médicos no local de trabalho não é obrigatória. Quem buscou hospitais e postos de saúde durante os feriados de Natal e ano-novo sentiu o problema mais de perto. Mesmo a parcela que tem a sorte de ser atendida reclama da superficialidade no atendimento, que, na maioria das vezes, é feita em minutos, de forma rasa, não raro com desdém e muitas vezes com arrogância.

É comum ver mães com os filhos ardendo em febre aguardando por várias horas pelo atendimento, sem sucesso. Algumas se descontrolam em meio ao desespero. Soube de uma paciente que fez um discurso no Hospital do Gama. Dizia que ninguém que atendia ali estava fazendo favor. Falava em voz alta que trabalhava 14 horas por dia e pagava todos os impostos. O mesmo teria que ocorrer com os profissionais da saúde. Trabalhar e honrar o salário. Todos pensavam o mesmo e mostravam a insatisfação com o desprezo do governo.

O atendimento de má qualidade resulta em diagnóstico errado, com sérios riscos para o paciente. Por qualquer lado que se encare o problema da saúde pública no DF, o diagnóstico aponta a mesma causa: deficiência na gestão dos recursos humanos. A questão aqui não é a escassez de recursos e de espaços físicos adequados, mas de gestão de pessoas.

É bom que se diga que muitos hospitais não fecharam as portas porque a enfermagem e o corpo administrativo fazem de tudo para mantê-los. Há médicos também que se sacrificam com pesadas jornadas mesmo com a falta de respaldo material para cumprir o dever. Nobre o gesto do governador Rodrigo Rollemberg, mas, mais do que gestos, a saúde precisa de gestão.


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A frase que não foi pronunciada
“Quando é que os petistas vão endireitar?”
(Hélio Bicudo, pensando no que acreditava.)


Por: Circe Cunha – Coluna: “Visto, lido e ouvido” – Ari Cunha – Correio Braziliense – Foto/Ilustração: Blog - Google

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