Cerca de 120 famílias do MRP, além de moradores de ruas e
usuários de drogas, vivem nos 13 andares do prédio abandonado no centro da
capital do país
Diante da insegurança ocasionada pelo abandono do
antigo Torre Palace Hotel, o GDF tomou uma decisão quanto ao esqueleto
localizado no centro de Brasília. O destino será avaliado a partir de uma
reunião agendada para segunda-feira, entre o vice-governador Renato Santana e o
presidente do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios
(TJDFT), desembargador Getúlio de Moraes Oliveira. O prédio, de 13 andares,
além de abrigar integrantes do Movimento Resistência Popular (MRP), guarda uma
verdadeira cracolândia, em um dos locais de maior movimento da cidade. O Buriti
não descarta a possibilidade de implosão da estrutura, caso ela apresente risco
de desabamento.
O imóvel, que é alvo de uma disputa judicial, está
abandonado desde agosto de 2014 e passou a representar uma preocupação para os
brasilienses. O local, que foi um dos mais luxuosos hotéis de Brasília, passou
a abrigar andarilhos e dependentes químicos. Com isso, o Setor Hoteleiro Norte
se tornou ponto de tráfico. Entre os pavimentos, há consumo de drogas. Na
região, registros de furtos a veículos. “Sabemos que existe uma briga entre
particulares por conta da herança. Enquanto isso, o local tem acarretado em um
desconforto para a população que usa a região e não tem nada com esse
imbróglio. Como governo, não podemos ficar omissos quanto à situação”, explicou
Santana.
De acordo com o vice-governador, o encontro no
TJDFT tem como objetivo detalhar o andamento do processo. “Precisamos saber
quais as ações podemos tomar a curto e médio prazos. Isso envolve partilha de
bens, casos que costumam ser morosos, mas não por conta da Justiça e sim pela
possibilidade de recursos que os envolvidos movem. O que não podemos é esperar,
talvez, 20 anos, para ter uma solução. Se necessário, vamos implodir o local.”
Para o procedimento, o prédio passará por uma avaliação da Defesa Civil. “Não
sabemos se a estrutura está prejudicada. Caso seja constatado que a edificação
não sofreu danos, a solução será fechar o espaço temporariamente”, completou.
Os custos seriam bancados pelo GDF e repassados aos
donos. Quanto aos integrantes do MRP, Santana respondeu que as negociações
continuam, agora, com a missão de cadastrar as pessoas nos programas
habitacionais. Atualmente, cerca de 120 famílias, entre crianças e grávidas,
ocupam do 3º ao 9º andar da edificação. O grupo alega que só sairá do local
após conseguir moradia definitiva. Em relação aos dependentes químicos, a
proposta é oferecer tratamento. “Não queremos expulsar as pessoas de lá. Tudo
será conversado. E quem for criminoso, a polícia dará o encaminhamento certo”,
assegurou Santana.
Abandono
O local é visto como um problema para o setor de
hotéis. O presidente do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de
Brasília (Sindhobar), Jael Antônio Silva, considera que o prédio abandonado
gera uma sensação de insegurança na região. “Vemos que os hóspedes dos hotéis
próximos ficam preocupados. Há sempre mendigos rondando o lugar. O governo
deveria exigir que essa situação se regularizasse. É preciso organização. Além
de apresentar perigo, ter um esqueleto desse no coração de Brasília é péssimo
para o turismo”, reclamou.
Benny Schvarsberg, arquiteto e urbanista da
Universidade de Brasília (UnB), explica que por qualquer terreno ou edificação
que esteja desocupado ou sublocado, o proprietário tem que ser penalizado, como
determina o Estatuto da Cidade. “É um transtorno muito grande para a sociedade.
É um desrespeito com a população. O dono desse terreno deve ser acionado e,
caso não seja feito nada, o governo deve cobrar judicialmente que uma
providência seja tomada”, explica.
Em novembro passado, a Justiça determinou a
reintegração de posse do prédio, mas a falta de documentos que comprovassem os
proprietários fez com que o processo fosse interrompido. A reportagem tentou
contato com um dos donos do Palace Hotel para falar sobre a possibilidade de
implosão, mas até o fechamento desta edição não obteve resposta.
Convidado por JK
Fruto do trabalho do libanês Jibran El-Hadj,
convidado por Juscelino Kubitschek para empreender em Brasília, o Torre Palace
Hotel foi o primeiro de grande porte da Asa Norte. Abriu as portas em 1973, em
grande estilo. Durante anos, serviu como chamariz de políticos e celebridades.
O estabelecimento, assim como outros investimentos do empresário, que morreu em
2000, se tornou alvo de uma disputa judicial entre os herdeiros. Em agosto de
2014, o espaço foi desocupado, dando margens às ocupações por moradores de rua
e usuários de drogas. O MRP chegou ao local em outubro do ano passado
Fonte: Thiago Soares – Fotos: Hugo Gonçalves/Esp. Para
o Correio/D.A.Press- Valério Ayres/CB/D.A.Press - Correio Braziliense.