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Parabéns, Lucio Costa. Você merece um presente do governador

Por: Silvestre Gorgulho

Há 114 anos, em 27 de fevereiro de 1902, nascia o inventor de Brasília. E, como hoje é dia de lembrar Lucio Costa, seria muito amável e gentil se o governo Rodrigo Rollemberg, responsável pelo destino da capital da República, desse um presente ao autor do Plano Piloto. Que tal estabelecer institucionalmente o Centro Histórico de Brasília numa área delimitada pelo divisor de águas da Bacia do Paranoá? Sim, a preservação do Plano Piloto depende cada vez mais de duas ações: o controle sobre o que se pretenda fazer nos arredores do Plano Piloto e de uma rígida fiscalização para que os brasilienses nunca percam este horizonte sem fim na paisagem da cidade. Proteger os arredores significa evitar que o avião fique preso dentro de uma paliçada de prédios de 20/30 andares.

O aniversariante do dia bem que merecia esse presente que, no fundo, seria para a salvaguarda de sua obra. Acho que o governador tem três motivos para nos dar esse presente. Primeiro, porque ele próprio se proclama Geração Brasília. Segundo, porque o governador tem um certo parentesco com Lucio Costa, já que Maria Elisa Costa, filha e guardiã da memória do autor do Plano Piloto, é sua tia. O marido de Maria Elisa, o economista Eduardo Sobral, morto em 1982, era irmão de dona Teresa, mãe do governador. E, terceiro, porque dos 1.460 dias de governo, Rodrigo Rollemberg já queimou 423. Já é hora de parar de falar em crise e de pensar no futuro da cidade.

A ideia do presente não é minha. É de sua tia Maria Elisa Costa. Ela mesma diz que seria muito simpático se o GDF fizesse da Bacia do Paranoá o Centro Histórico da Capital Federal. E explica o porquê. “A bacia do Paranoá é o território original de Brasília. Foi onde JK lançou a âncora inventada por Lucio Costa, que assegurou a transferência definitiva da capital para o Centro-Oeste. A construção contou com a dedicação apaixonada de gente do Brasil inteiro. Do presidente JK ao mais modesto dos candangos. Gente que aprendeu construir uma capital, construindo-a. Brasília surgiu do nada em 1.112 dias. Foi inaugurada em 21 de abril de 1960, no dia e na hora marcada por JK no ano de sua posse.

A partir de então, a área urbana do DF se desenvolveu ao sabor dos ventos, misturando projetos urbanos setoriais sem nenhum planejamento de conjunto. Incorporou e regularizou invasões. A única coisa nova continua sendo o Plano Piloto. Brasília tem hoje quase 3 milhões de habitantes. Bem ou mal, a identidade original do gesto primário sobreviveu graças ao governador José Aparecido de Oliveira, a quem devemos o tombamento de Patrimônio Cultural da Humanidade.

Para assegurar a permanência ao longo do tempo desse testemunho vivo de um momento sem precedentes na nossa história, é importante perceber que no DF convivem duas situações urbanas opostas e adjacentes: de um lado, extensa área urbana em expansão. De outro, o núcleo original a ser rigidamente preservado. Em termos administrativos, tratam-se de duas abordagens necessariamente opostas. Uma coisa é gerenciar o desenvolvimento urbano de uma cidade em expansão, e outra, bem diferente, é assegurar a preservação do núcleo original. A parte maior da área urbanizada seria administrada na forma tradicional das grandes cidades, com planejamento urbano de qualidade, inteligente e objetivo.

Cuidar do Centro Histórico de Brasília é mais simples, uma vez estabelecido institucionalmente que o centro é a área delimitada pelo divisor de águas da bacia do Paranoá. Basta que toda e qualquer intervenção nessa área, mesmo não sendo localizada dentro do perímetro tombado ou em seu entorno direto, seja necessariamente compatível com o texto original da Portaria nº 314, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Com um detalhe: a fiscalização dessa compatibilidade deve caber a uma comissão técnica permanente e de alto nível, criada para esse fim. E com poder de veto. Uma comissão, não muito grande, que conte com representantes da sociedade civil, do GDF, do Iphan, do Legislativo e da Presidência da República.

Está aí o pedido da arquiteta e guardiã da memória de Lucio Costa. Esse presente do governo Geração Brasília, para celebrar hoje os 114 anos de Lucio Costa, será dádiva eterna aos brasilienses: a preservação do Plano Piloto e a proteção desse céu arrebatador. Como é bom amanhecer com a alvorada nos olhos, sentir na alma o pôr do sol lá do Memorial JK e ter a certeza de que sempre vamos ter o céu de Brasília encostando o chão do horizonte.

Parabéns, Lucio Costa. Você merece!



(*) Silvestre Gorgulho – Ex-Secretário de Cultura do DF - Fonte: Correio Braziliense - Foto/Ilustração:Blog - Google

2 Comentários

  1. Grande abraço Chiquinho Dornas. Estamos na mesma trincheira em defesa de Brasília.
    Silvestre Gorgulho

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  2. Mais uma grande campanha que o nosso Silvestre Gorgulho lança. Estou dentro. O que fazer?

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