O Correio percorre quatro cidades do Distrito
Federal e, em todas, encontra prédios abandonados ou terrenos baldios em
situação propícia para a reprodução do transmissor da dengue, zika e
chikungunya. Vizinhos dessas áreas estão com medo
Xavier Rezende mora na QNL 11, em Taguatinga:
"Até quando vamos esperar para que algo seja feito?"
Telma reclama de obra abandonada na Rua 34, em
Águas Claras: "Encontrei mosquitos no meu apartamento"
A mobilização contra o Aedes aegypti no Distrito
Federal esbarra nos mais diversos criadouros a céu aberto ou escondidos. O
Correio percorreu ontem quatro cidades da capital — Taguatinga, Ceilândia,
Estrutural e Águas Claras — e encontrou diversos locais que aparecem como ideais
para a reprodução do mosquito. Prédios abandonados e terrenos baldios com água
parada, pneu e muito lixo colocam essas localidades na rota de doenças como
dengue, zika e chikungunya. Apesar do risco, a Secretaria de Saúde informa que
o combate ocorre de forma intensa por parte do governo, com todas as
tecnologias existentes. A pasta ressalta que o comprometimento da população é a
melhor forma de erradicar o vetor.
Em Águas Claras, esqueletos de edifícios favorecem a proliferação do inseto. A situação é crítica na Rua 34 Sul, onde uma obra abandonada acumula água. A administradora de empresas Telma Castro, 36 anos, mora ao lado da estrutura. Segundo ela, a situação do prédio preocupa há pelo menos um ano. “O marido de uma amiga minha pegou dengue e morreu em janeiro. Agora, estou com medo. Já encontrei mosquitos no meu apartamento”, afirmou.
Morador da QNL 11, em Taguatinga Norte, o aposentado Xavier Rezende, 66, reclama de um espaço vazio usado por carroceiros para despejar entulho todos os dias. “O foco (de mosquitos) nesse lugar é grande. Tem muitos pneus, e as pessoas depositam lixo aqui o tempo inteiro. Nós recorremos ao poder público e, por diversas vezes, fizemos queixas. Até quando vamos esperar para que algo seja feito?”, questionou.
Outra preocupação é um terreno baldio localizado na Chácara Santa Luzia, na Estrutural. O local serve como depósito de lixo a céu aberto. A área está tomada por entulho, restos de móveis, garrafas e outros materiais que acumulam água. Lá, a reportagem flagrou crianças brincando com os objetos abandonados. O pedreiro José Augusto dos Passos, 38, e a mulher dele, Eliana dos Santos Azevedo, 24, que está grávida, estão preocupados. “São muitos casos de dengue registrados. Estamos vivendo um surto da doença. Eu fui diagnosticado no ano passado e agora estou apavorado com a minha mulher ficar doente também. Ela está grávida. Não podemos brincar com isso”, disse.
A reportagem encontrou situação parecida em Ceilândia. Na QNM 23, um terreno abandonado ao lado de uma área residencial abriga lixo. No local, há uma placa que proíbe o descarte, aviso não respeitado pela população.
Esforços
As infecções por dengue aumentaram de um ano para o outro nas quatro cidades visitadas pelo Correio, segundo o último Informativo Epidemiológico de Dengue, Chikungunya e Zika da Secretaria de Saúde do DF. Na Estrutural, houve um crescimento de 766% até a primeira semana de fevereiro de 2016. A estatística passou de três casos para 26. Em Águas Claras, a variação chegou a 575% no período. Foram registrados quatro casos em 2015 contra 27 neste ano. Os números para Ceilândia e Taguatinga tiveram variação de 432% e 354%, respectivamente. O levantamento mostra, ainda, que, apenas neste ano, a quantidade de doentes aumentou 240% no DF.
O quadro delicado obrigou o Executivo local a intensificar os esforços no combate ao mosquito. Em Brazlândia, a região administrativa com o maior número de registros até a primeira semana de fevereiro, um hospital de campanha foi montado para atender a população. A Secretaria de Saúde informou em nota que, desde quinta-feira, os profissionais que atuam na Unidade de Atenção à Dengue atenderam 579 pacientes com suspeita de dengue naquela cidade. Do total, foram confirmados 202 casos da doença. Ainda nesta semana, será inaugurada a segunda unidade de campanha do DF, em São Sebastião.
Em Águas Claras, esqueletos de edifícios favorecem a proliferação do inseto. A situação é crítica na Rua 34 Sul, onde uma obra abandonada acumula água. A administradora de empresas Telma Castro, 36 anos, mora ao lado da estrutura. Segundo ela, a situação do prédio preocupa há pelo menos um ano. “O marido de uma amiga minha pegou dengue e morreu em janeiro. Agora, estou com medo. Já encontrei mosquitos no meu apartamento”, afirmou.
Morador da QNL 11, em Taguatinga Norte, o aposentado Xavier Rezende, 66, reclama de um espaço vazio usado por carroceiros para despejar entulho todos os dias. “O foco (de mosquitos) nesse lugar é grande. Tem muitos pneus, e as pessoas depositam lixo aqui o tempo inteiro. Nós recorremos ao poder público e, por diversas vezes, fizemos queixas. Até quando vamos esperar para que algo seja feito?”, questionou.
Outra preocupação é um terreno baldio localizado na Chácara Santa Luzia, na Estrutural. O local serve como depósito de lixo a céu aberto. A área está tomada por entulho, restos de móveis, garrafas e outros materiais que acumulam água. Lá, a reportagem flagrou crianças brincando com os objetos abandonados. O pedreiro José Augusto dos Passos, 38, e a mulher dele, Eliana dos Santos Azevedo, 24, que está grávida, estão preocupados. “São muitos casos de dengue registrados. Estamos vivendo um surto da doença. Eu fui diagnosticado no ano passado e agora estou apavorado com a minha mulher ficar doente também. Ela está grávida. Não podemos brincar com isso”, disse.
A reportagem encontrou situação parecida em Ceilândia. Na QNM 23, um terreno abandonado ao lado de uma área residencial abriga lixo. No local, há uma placa que proíbe o descarte, aviso não respeitado pela população.
Esforços
As infecções por dengue aumentaram de um ano para o outro nas quatro cidades visitadas pelo Correio, segundo o último Informativo Epidemiológico de Dengue, Chikungunya e Zika da Secretaria de Saúde do DF. Na Estrutural, houve um crescimento de 766% até a primeira semana de fevereiro de 2016. A estatística passou de três casos para 26. Em Águas Claras, a variação chegou a 575% no período. Foram registrados quatro casos em 2015 contra 27 neste ano. Os números para Ceilândia e Taguatinga tiveram variação de 432% e 354%, respectivamente. O levantamento mostra, ainda, que, apenas neste ano, a quantidade de doentes aumentou 240% no DF.
O quadro delicado obrigou o Executivo local a intensificar os esforços no combate ao mosquito. Em Brazlândia, a região administrativa com o maior número de registros até a primeira semana de fevereiro, um hospital de campanha foi montado para atender a população. A Secretaria de Saúde informou em nota que, desde quinta-feira, os profissionais que atuam na Unidade de Atenção à Dengue atenderam 579 pacientes com suspeita de dengue naquela cidade. Do total, foram confirmados 202 casos da doença. Ainda nesta semana, será inaugurada a segunda unidade de campanha do DF, em São Sebastião.
Balanço
240%
Aumento de casos de dengue registrados no início do ano, em comparação com o mesmo período do ano passado
240%
Aumento de casos de dengue registrados no início do ano, em comparação com o mesmo período do ano passado
As vítimas da dengue
Maria Cristina Natal Santana, 42 anos
» A primeira vítima no Distrito Federal em 2016 foi a funcionária pública Maria Cristina, cunhada do vice-governador do DF, Renato Santana. Ela morreu de dengue hemorrágica em 27 de janeiro. Trabalhava na Diretoria de Atenção Primária à Saúde, no Hospital Regional de Brazlândia. Quando ela foi internada, a unidade não tinha os testes para identificar a forma agressiva da doença.
Maria Cardoso de Oliveira, 45 anos
» A segunda morte aconteceu em 5 de fevereiro. Maria Cardoso também recebeu atendimento no Hospital Regional de Brazlândia. Ela deu entrada com um quadro de anemia severa, e os médicos identificaram a contaminação pelo mosquito e pediram a internação da paciente na UTI. No entanto, a Secretaria de Saúde não dispunha de leitos. Sem o tratamento adequado, ela não resistiu.
Erotides Dias da Costa, 61 anos
» Outra vítima de dengue no DF foi o servidor público aposentado Erotides. Ele morava na zona rural de Brazlândia e deu entrada no Hospital Anchieta, em Taguatinga, com dengue na última quinta-feira. Na unidade, ele sofreu duas paradas cardíacas. Na sexta-feira, quando o coração do idoso parou novamente, os médicos não conseguiram reanimá-lo.
O mosquito na troca da Bandeira Nacional
A manhã de ontem começou diferente. Um passeio ciclístico foi realizado pelo Exército com o apoio de grupos de ciclistas do DF e do Entorno. A pedalada começou no Setor Militar Urbano e terminou na Praça dos Três Poderes, momentos antes da troca da Bandeira Nacional. A temática foi o combate ao Aedes aegypti, que ocorreu com outras atividades desenvolvidas na programação. Após a solenidade, o público pôde aproveitar para conhecer mais sobre as ações do Exército na luta conta o mosquito, por meio de exposição realizada próximo ao local do hasteamento. No Pavilhão Nacional, onde as pessoas estavam reunidas para assistir ao evento, um visitante se destacou de longe. O técnico de suporte e artista de rua Ricardo Hernandes, 53 anos, aproveitou a ação para se vestir de mosquito da dengue (foto). O homem conta que já fez até um vídeo, hospedado em uma rede social, com a ideia de promover a conscientização sobre o combate à doença e ao transmissor. “A comunidade tem de se ajudar. Temos que ir às ruas para combater o mosquito. Não podemos deixá-lo avançar”, pregou. Segundo o Exército, compareceram cerca de 2 mil ciclistas ao passeio, mesmo público na troca da Bandeira Nacional.
» A primeira vítima no Distrito Federal em 2016 foi a funcionária pública Maria Cristina, cunhada do vice-governador do DF, Renato Santana. Ela morreu de dengue hemorrágica em 27 de janeiro. Trabalhava na Diretoria de Atenção Primária à Saúde, no Hospital Regional de Brazlândia. Quando ela foi internada, a unidade não tinha os testes para identificar a forma agressiva da doença.
Maria Cardoso de Oliveira, 45 anos
» A segunda morte aconteceu em 5 de fevereiro. Maria Cardoso também recebeu atendimento no Hospital Regional de Brazlândia. Ela deu entrada com um quadro de anemia severa, e os médicos identificaram a contaminação pelo mosquito e pediram a internação da paciente na UTI. No entanto, a Secretaria de Saúde não dispunha de leitos. Sem o tratamento adequado, ela não resistiu.
Erotides Dias da Costa, 61 anos
» Outra vítima de dengue no DF foi o servidor público aposentado Erotides. Ele morava na zona rural de Brazlândia e deu entrada no Hospital Anchieta, em Taguatinga, com dengue na última quinta-feira. Na unidade, ele sofreu duas paradas cardíacas. Na sexta-feira, quando o coração do idoso parou novamente, os médicos não conseguiram reanimá-lo.
O mosquito na troca da Bandeira Nacional
A manhã de ontem começou diferente. Um passeio ciclístico foi realizado pelo Exército com o apoio de grupos de ciclistas do DF e do Entorno. A pedalada começou no Setor Militar Urbano e terminou na Praça dos Três Poderes, momentos antes da troca da Bandeira Nacional. A temática foi o combate ao Aedes aegypti, que ocorreu com outras atividades desenvolvidas na programação. Após a solenidade, o público pôde aproveitar para conhecer mais sobre as ações do Exército na luta conta o mosquito, por meio de exposição realizada próximo ao local do hasteamento. No Pavilhão Nacional, onde as pessoas estavam reunidas para assistir ao evento, um visitante se destacou de longe. O técnico de suporte e artista de rua Ricardo Hernandes, 53 anos, aproveitou a ação para se vestir de mosquito da dengue (foto). O homem conta que já fez até um vídeo, hospedado em uma rede social, com a ideia de promover a conscientização sobre o combate à doença e ao transmissor. “A comunidade tem de se ajudar. Temos que ir às ruas para combater o mosquito. Não podemos deixá-lo avançar”, pregou. Segundo o Exército, compareceram cerca de 2 mil ciclistas ao passeio, mesmo público na troca da Bandeira Nacional.
Fonte: Nathália Cardim – Luiz Calcagno – Fotos: Marcelo
Ferreira/CB/D.A.Press – Correio Braziliense