Senador Reguffe deve seguir sem partido por, pelo
menos, um ano
O PDT não é, com a saída de Cristovam Buarque e
Reguffe, o único afetado pela autorização de migrações entre siglas. PPS, PMDB
e PSDB, entre outras, estão na mira
A abertura de uma janela para troca
partidária pode alterar o equilíbrio de forças na Câmara Legislativa e mudar a
composição da base aliada ao Palácio do Buriti. A Proposta de Emenda à
Constituição 113/2015, que será promulgada na quinta-feira, abrirá um prazo de
30 dias para que políticos com mandato troquem de legenda sem risco de serem
punidos por infidelidade partidária. No Distrito Federal, cerca de 10
parlamentares devem trocar de sigla — mas esse número pode crescer, já que a
maioria ainda negocia e deixará o anúncio para o fim do prazo.
O troca-troca de partidos é o primeiro
capítulo da disputa eleitoral de 2018. Os parlamentares que vão mudar de
legenda fazem contas e analisam o cenário político global antes da decisão —
especialmente aqueles que pretendem disputar cargos majoritários. A presença de
muitos políticos bons de voto na mesma sigla pode frustrar os planos eleitorais
de alguns deles.
As mudanças mais expressivas ocorrerão
no PDT. O senador Cristovam Buarque vai deixar a legenda e se filiar ao PPS,
como possível candidato à Presidência da República. Ele recebeu o convite do
presidente nacional do PPS, Roberto Freire. Cristovam tem feito duras críticas
ao governo federal, apesar de o PDT integrar a base aliada da presidente Dilma
Rousseff. O senador Reguffe também decidiu deixar a sigla, mas ele não tem
pressa para escolher a nova legenda e pretende ficar pelo menos um ano sem
vinculação partidária.
A distrital Celina Leão, presidente da Câmara, deve
mesmo ir para o PPS
Câmara
Também vem do PDT outra novidade
significativa no cenário político da cidade: a presidente da Câmara
Legislativa, Celina Leão, decidiu acompanhar Cristovam Buarque e migrará para o
PPS. Ela comunicou ao presidente regional do PDT, Georges Michel, e aguarda
apenas uma conversa com o presidente nacional, Carlos Lupi, para fazer o
anúncio público. Celina pretende disputar um mandato de deputada federal, mas
não descarta concorrer ao Senado, a depender dos planos eleitorais de
Cristovam. O PPS ainda negocia com o deputado distrital Raimundo Ribeiro (PPS).
Um dos partidos mais afetados pelas
alterações é o PMDB. A legenda tem três deputados distritais e todos negociam a
saída. Robério Negreiros, por exemplo, chegou a recorrer à Justiça para se
desfiliar e espera a abertura da janela de troca para escolher o destino. “Uma
coisa é certa: no PMDB, eu não fico de jeito nenhum. Quero ir para algum
partido que tenha democracia. Tenho respeito pelo (Tadeu) Filippelli, mas faço
questão de participar das decisões partidárias”, explica Robério. Os outros
dois distritais do PMDB, Welington Luiz e Rafael Prudente, também têm
conversado com os chefe de várias siglas.
O presidente regional do PMDB, Tadeu
Filippelli, lamenta a migração, mas afirma que ainda negocia com os
parlamentares do partido para que permaneçam nos quadros. “É claro que
seria uma perda grande, mas estamos conversando e tenho expectativa de que ninguém
saia do PMDB. Meu esforço é para eles fiquem”, diz o líder peemedebista.
Pupilo político de Filippelli, o
deputado federal Rôney Nemer pode ir do PMDB para o PP, mas com a bênção do
presidente do partido. A mudança faria parte de uma negociação nacional entre
as duas siglas. Essa movimentação depende de outra conversa: o PP também flerta
com o deputado federal Alberto Fraga (DEM). Ele nega que haja definições.
“Estou numa fase de avaliação. Com essa janela partidária aberta — e eu na
iminência de disputar cargo majoritário —, estou pensando num partido maior do
que o DEM. Já tive algumas sondagens, mas ainda preciso tomar uma posição com
meu grupo político”, disse Fraga ao Correio.
O presidente regional do PDSB, deputado
Izalci Lucas, está otimista com o crescimento do partido a partir da janela de
mudanças. “Acredito que o PSDB pode ganhar mais dois ou três distritais.
Conversei com vários parlamentares com perfil semelhante ao nosso, como Rafael
Prudente, Cristiano Araújo, Robério Negreiros, Sandra Faraj, entre outros
políticos. Todos analisam as possibilidades”, conta Izalci.
Debate
A possibilidade de mudança de legenda
sem risco de cassação de mandato faz parte de um debate mais amplo sobre a
reforma política. O texto já passou pela Câmara dos Deputados, mas alguns
aspectos ainda precisam do aval do Senado, como o fim da reeleição para
presidente e governador. Para Everaldo Moraes, mestre em ciência política pela
Universidade de Brasília (UnB), o Brasil “nem de perto vive uma reforma
política”. O especialista argumenta que a janela nada mais é do que uma
oportunidade para mudanças de partidos, com o pensamento já nas próximas
eleições.
“Arranjou-se uma brecha para a migração
de uma sigla para a outra, especialmente com a criação de novas legendas”,
afirma. “Como quase nenhum partido, à exceção dos de esquerda mais radicais,
tem uma agenda ideológica clara, a movimentação é com o pensamento neles
mesmos: onde será mais fácil se reeleger, quanto tempo na tevê terá e quanto
receberá de fundo partidário”, critica.
Movimentações - Nome Cargo Sigla
atual Destino possível
*Cristovam Buarque Senador PDT - PPS ou PSB
*José Antônio Reguffe Senador PDT - Deve ficar sem partido
*Alberto Fraga Federal DEM - PP (se Rôney não
migrar)
*Rôney Nemer Federal PMDB - PP (se Fraga não
migrar)
*Celina Leão Distrital PDT - PPS
*Liliane Roriz Distrital PRTB - PTB
*Robério Negreiros Distrital PMDB - PTB, DEM, PSDB ou PSD
*Luzia de Paula Distrital Rede - PSB ou PPS
*Raimundo Ribeiro Distrital PSDB - PPS ou PSB
Lista expõe a "divisão do bolo"
Um documento que elenca quantos
apadrinhados cada deputado teria no GDF circula entre assessores na Câmara
Legislativa. O Executivo local “desconhece” e afirma que a lista é “meramente
especulativa”. Nos corredores da Casa, no entanto, comenta-se que, na
composição do governo Rodrigo Rollemberg (PSB), alguns deputados da base
acabaram com muito mais cargos do que os outros. No início do mandato, por
exemplo, Joe Valle (PDT) indicou o secretário de Agricultura; Júlio Cesar influenciou
na escolha do chefe de Esporte; Professor Israel (PV) emplacou o comando da
Secretaria da Criança e Adolescente; e Raimundo Ribeiro (PSDB), o da Justiça.
Enquanto isso, os demais aliados não têm representante no primeiro escalão.
Desde o começo do governo, integrantes
do núcleo central do Palácio do Buriti diagnosticaram a má distribuição dos
cargos como um dos principais fatores pelas derrotas sofridas no parlamento
local. A insatisfação de parte dos distritais tornou-se pública no meio do ano
passado, após vazamento de áudio de uma reunião entre Rollemberg e distritais.
Na gravação, a presidente da Câmara Legislativa e apoiadora de primeira ordem
do GDF, Celina Leão (PDT), critica o fato de o socialista “não ter nenhum
secretário deputado” — isso ocorreu meses antes de Joe Valle assumir a
supersecretaria de Trabalho, Desenvolvimento Social e Direitos Humanos. Naquele
encontro, Juarezão (PRTB) foi ainda mais enfático e pediu para o chefe do
Buriti “fatiar o bolo por igual”.
O secretário adjunto de Relações
Institucionais, Igor Tokarski, afirma que a lista “não faz parte dos documentos
do governo”. “É legítimo os deputados indicarem técnicos que têm experiência em
determinadas áreas. Mas indicar não quer dizer nomear”, afirma.
As fatias - Deputado: Área de influência
*Raimundo Ribeiro (PSDB) Secretaria de Justiça; Procon; Fundo de Amparo ao
Trabalhador Preso; Administração de Sobradinho
*Joe Valle (PDT) Secretaria
de Desenvolvimento Social, Trabalho e Direitos Humanos; Secretaria de
Agricultura, Emater
*Professor Israel (PV) Secretaria de Criança e Juventude
*Julio Cesar (PRB) Secretaria de Esporte; administrações de Samambaia e
Riacho Fundo II
*Agaciel Maia (PTC) Administração de Planaltina
*Sandra Faraj (SD) Administração de Taguatinga
*Roosvelt Vilela (PSB) Administração de Park Way, Núcleo Bandeirante e
Candangolândia
*Telma Rufino (Sem partido) Administração de Águas Claras
*Ivonildo Lira (PHS) Administração de São Sebastião
*Liliane Roriz (PRTB) Administração de Recanto das Emas
*Cristiano Araújo (PTB) Administração de Riacho Fundo I
*Juarezão (PRTB) Administração
de Brazlândia; Secretaria de Saúde
*Luzia de Paula (Rede) Administração de Ceilândia
*Reginaldo Veras (PDT) Secretaria de Educação
*Rodrigo Delmasso (PTN) Administração do Guará
*Celina Leão (PDT) Administrações do Guará e Sobradinho; Detran;
Zoológico
Fonte:Helena Mader - Guilherme Pera - Matheus
Teixeira – Fotos: Ed Alves/CB/D.A. Press – Antonio Cunha/CB/D.A.Press – Correio
Braziliense